A noite de segunda-feira (29) foi marcada por uma nova crise de saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que mobilizou familiares e o médico Cláudio Birolini, responsável por suas últimas cirurgias abdominais. O ex-mandatário, que cumpre pena em regime domiciliar no Lago Sul, em Brasília, sofreu uma sequência de episódios de vômito acompanhados de intensas crises de soluço, conforme relatado por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), em publicação nas redes sociais.
Segundo Carlos, Bolsonaro descreveu os episódios de vômito como os mais fortes que enfrentou até o momento desde que passou a apresentar recorrentes complicações digestivas sequela da facada sofrida durante a campanha presidencial de 2018, em Juiz de Fora (MG). A situação se agravou por volta do início da noite, levando a família a acionar imediatamente Birolini para um atendimento domiciliar emergencial.
“Ainda estamos avaliando se será necessária nova internação. Michelle conseguiu deixá-lo mais confortável por enquanto. O médico já está a caminho de casa para avaliar a situação. Peço, por favor, que orem por ele”, escreveu Carlos no X (antigo Twitter).
Mal-estar ocorre horas após visita de Tarcísio
O novo episódio de mal-estar veio poucas horas depois de Bolsonaro ter recebido em casa o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e dois de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Jair Renan Bolsonaro. O almoço, realizado no condomínio de luxo onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, reuniu ainda alguns correligionários e foi marcado por conversas sobre política e cenários eleitorais para 2026.
Testemunhas afirmam que, mesmo antes da piora, Bolsonaro já demonstrava sinais de abatimento. “O presidente está passando por um momento difícil. É muito triste. A gente conversando e ele soluçando o tempo todo”, relatou Tarcísio à imprensa, visivelmente emocionado após a visita.
Tarcísio, apontado como possível herdeiro político do ex-presidente no campo da direita, tem mantido visitas regulares a Bolsonaro, que segue como principal figura de referência para sua base eleitoral, apesar de estar legalmente impedido de disputar cargos públicos devido à sua condenação no Supremo Tribunal Federal (STF).
Prisão domiciliar e isolamento
Bolsonaro cumpre pena de 27 anos e três meses em regime domiciliar por envolvimento na tentativa de subversão democrática nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Condenado por tentativa de golpe de Estado, associação criminosa e incitação ao crime, o ex-presidente foi autorizado pela Justiça a permanecer em sua residência, sob vigilância eletrônica e restrição de comunicação.
O isolamento domiciliar, porém, não impediu a aproximação de aliados e visitas frequentes de filhos, amigos e figuras políticas. Contudo, segundo fontes próximas à família, os problemas de saúde de Bolsonaro têm se intensificado nas últimas semanas, com episódios frequentes de indisposição e um quadro geral de enfraquecimento.
Na semana anterior, o ex-presidente já havia sido internado brevemente após apresentar sintomas semelhantes. Na ocasião, foi avaliado e liberado após algumas horas de observação. A repetição dos sintomas, no entanto, tem gerado preocupação entre familiares e médicos.
Crises recorrentes desde o atentado
A facada sofrida por Jair Bolsonaro durante comício em 2018, deferida por Adélio Bispo de Oliveira, teve impacto profundo e duradouro na saúde do ex-presidente. O ferimento atingiu órgãos internos e exigiu múltiplas cirurgias reparadoras, além de cuidados intensivos no sistema digestivo.
Desde então, Bolsonaro tem convivido com uma série de complicações gástricas, incluindo aderências intestinais, refluxo severo e episódios de obstrução parcial. Os soluços constantes, que chamaram a atenção da mídia e do público em diversos momentos de seu mandato, são considerados por especialistas uma possível sequela neurológica ou gástrica do trauma sofrido.
Em diversas ocasiões, o próprio Bolsonaro relatou dificuldades para se alimentar e episódios de dor abdominal. Apesar disso, vinha mantendo uma rotina ativa, mesmo após o fim do mandato, com viagens, discursos e encontros políticos interrompidos, mais recentemente, pela condenação e as limitações impostas pela Justiça.
Expectativa por novo boletim médico
A chegada do médico Cláudio Birolini à residência ainda na noite de segunda deve resultar na emissão de um novo boletim sobre o estado de saúde de Bolsonaro. A expectativa é que, após exames preliminares e avaliação clínica, a equipe defina se há necessidade de hospitalização ou se será possível manter o tratamento em casa.
Enquanto isso, o entorno político e familiar se mantém em alerta. Parlamentares da base bolsonarista utilizaram as redes sociais para pedir orações e demonstrar solidariedade ao ex-presidente, enquanto opositores mantiveram silêncio sobre o episódio.
Para muitos, o agravamento da saúde de Bolsonaro pode se tornar mais um fator sensível no já conturbado cenário político da direita brasileira, que busca alternativas de liderança para as eleições de 2026 em meio ao vácuo deixado por sua inabilitação eleitoral.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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