Na última quinta-feira (29), Dushanbe, capital do Tajiquistão, deu início à Conferência Internacional sobre Preservação de Geleiras. Realizado até este domingo (1), o encontro reúne líderes governamentais, ministros e representantes de organizações internacionais para debater ações urgentes diante do avanço acelerado do degelo em diversas partes do mundo.
Durante o discurso de abertura, o presidente do Tajiquistão, Emomali Rahmon, destacou o caráter global do desafio:
“A preservação das geleiras não é apenas um problema dos países que as possuem, mas sim uma crise global que merece a atenção imediata da comunidade internacional”.
Organizada em parceria com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o Banco Asiático de Desenvolvimento e a UNESCO, a conferência culmina no lançamento da Declaração das Geleiras de Dushanbe.
O documento histórico reúne compromissos práticos, propostas de cooperação internacional e recomendações que serão apresentadas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para ocorrer no Brasil ainda em 2025.
A vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, também participou do evento e trouxe dados alarmantes sobre a velocidade do degelo.
“O Relatório sobre o Estado do Clima Global 2024 da Organização Meteorológica Mundial destaca que 2021-2024 representa o período de balanço de massa glacial de três anos mais negativo já registrado, e sete dos dez balanços de massa glacial anuais mais negativos desde 1950 ocorreram desde 2016”, afirmou.
Segundo ela, dados do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras apontam que, desde 1975, mais de 9 trilhões de toneladas de gelo foram perdidas — o equivalente a um bloco do tamanho da Alemanha com 25 metros de espessura.
Hoje, existem mais de 275 mil geleiras no mundo, cobrindo uma área de aproximadamente 700 mil km². Juntas com as camadas de gelo, essas geleiras armazenam cerca de 70% da água doce do planeta.
A perda das geleias tem impactos diretos no abastecimento hídrico de centenas de milhões de pessoas, especialmente aquelas que vivem em regiões rio abaixo, dependentes da liberação gradual da água durante as estações mais quentes.
A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, fez um alerta enfático sobre a gravidade do cenário:
“Nossas geleiras estão morrendo. O Nepal declarou recentemente a perda da Geleira Yala de Langtang. A Venezuela se tornou o segundo país do mundo, depois da Eslovênia, a perder todas as suas geleiras. A morte de uma geleira significa muito mais do que a perda de gelo. É um golpe mortal para nossos ecossistemas, economias e tecido social”, disse.
O colapso parcial de uma geleira nos Alpes Suíços do Sul, ocorrido na última quarta-feira (28), mostrou os riscos associados ao degelo acelerado. Uma gigantesca avalanche de gelo, lama e detritos devastou parte da vila de Blatten.
Apesar da força do evento, não houve vítimas fatais — graças aos sistemas de alerta antecipado e evacuação. Mas o episódio evidenciou a necessidade de alertas multirriscos, ainda ausentes em muitos países em desenvolvimento.
A conferência no Tajiquistão faz parte das atividades do Ano Internacional da Preservação das Geleiras, iniciativa que busca mobilizar governos, organizações e populações em torno da urgência climática que ameaça os recursos hídricos e a estabilidade ambiental global.
A Conferência Internacional sobre a Preservação dos Glaciares reuniu mais de 2.000 pessoas de mais de 80 países.
Por Indra Miranda | Revisão: Daniela Gentil
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