A capital paranaense se prepara para viver mais uma edição histórica da Marcha pela Diversidade. Neste domingo (29), Curitiba será palco da 8ª edição do evento que, além de celebrar o orgulho LGBTI+, é um ato político em defesa da democracia, da diversidade e dos direitos humanos. A expectativa da organização é reunir um público recorde de 80 mil pessoas no Centro Cívico, com caravanas vindas de diversas cidades do Paraná e de outros estados do Sul.
Com o tema “Ainda Estamos Aqui: diversidade e democracia caminham juntas”, a edição deste ano carrega um forte simbolismo diante do atual cenário político e social. Em tempos de acirramento da intolerância, ameaças constantes aos direitos já conquistados e crescente radicalização, a marcha se posiciona como uma resposta coletiva, pacífica e poderosa em favor da vida, do respeito às diferenças e da construção de uma sociedade mais justa e democrática.
A concentração do evento começa às 10h, na Praça 19 de Dezembro, e a caminhada terá início às 14h, seguindo pela Avenida Cândido de Abreu até a Praça Nossa Senhora de Salete. O trajeto será animado por três trios elétricos e uma programação artística intensa que contará com shows, performances e manifestações culturais de artistas locais e regionais. Palcos fixos também levarão atrações diversas, dando visibilidade à cultura da comunidade LGBTI+ e seus aliados.
Uma marcha com raízes na luta por direitos
A Marcha pela Diversidade é fruto do trabalho contínuo de diversas entidades da sociedade civil organizada, com destaque para o Grupo Dignidade, a Aliança Nacional LGBTI+. Um dos principais articuladores da marcha é o Grupo Dignidade, fundado em 14 de março de 1992 pelos ativistas Toni Reis e David Harrad. Toni é fundador da organização e é referência nacional na luta pelos direitos da população LGBTI+.
O casal fez história ao se tornar um dos primeiros a formalizar a união civil homoafetiva no Brasil após a decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, em 2011, que reconheceu a legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Desde sua criação, o Grupo Dignidade tem se consolidado como uma das organizações mais atuantes na promoção dos direitos humanos no país, com foco, mas não exclusividade, na população LGBTI+.
Com sede em Curitiba, a OSC oferece diversos serviços gratuitos, como atendimento psicológico, jurídico e social, além de desenvolver projetos voltados para empregabilidade, educação e qualificação profissional. Entre os programas de maior destaque estão as aulas de inglês e espanhol gratuitas para pessoas LGBTI+ em situação de vulnerabilidade, contribuindo para ampliar o acesso a novas oportunidades de trabalho e inclusão.
O Grupo Dignidade também atua fortemente na formulação e acompanhamento de políticas públicas. A organização participa de diversos conselhos municipais e estaduais, como o Conselho de Direitos Humanos, e integra redes e fóruns nacionais e internacionais em defesa da diversidade, da equidade e do combate à discriminação.
Estrutura e impacto econômico
A 8ª edição da Marcha pela Diversidade mobiliza cerca de 500 pessoas na organização do evento, sendo que 55% delas atuam de forma voluntária. A dimensão do evento exige um grande esforço de coordenação e estrutura, que inclui segurança, saúde, logística, produção cultural e acolhimento do público.
A expectativa dos organizadores é que a marcha gere impacto econômico significativo para a capital paranaense. Estima-se que o evento possa movimentar cerca de R$ 1 milhão na economia local, com reflexos diretos nos setores de alimentação, transporte, hotelaria, vestuário, serviços e turismo. Além de ser um ato político, a marcha já se consolidou como um importante motor econômico e cultural para Curitiba.
Hoje, a Marcha pela Diversidade é o maior evento de rua do Paraná e o segundo maior da região Sul do Brasil, atrás apenas da Parada do Orgulho LGBT de Porto Alegre. Seu crescimento ano a ano é reflexo da força do movimento e da necessidade urgente de espaços públicos que acolham, respeitem e celebrem todas as identidades e existências.
Celebração e resistência
Apesar da festa, do brilho, das cores e da alegria, a Marcha é também um momento de reflexão e denúncia. A cada ano, milhares de pessoas se unem para protestar contra a violência, o preconceito e a exclusão. O Brasil ainda é um dos países que mais mata pessoas LGBTI+ no mundo, e a marcha também carrega o luto, a memória e a luta daqueles que perderam a vida por serem quem são.
Para os organizadores, ocupar as ruas é reafirmar que as vozes das minorias não serão silenciadas. “Quando marchamos pelas ruas, não estamos apenas comemorando. Estamos lembrando a sociedade de que existimos, resistimos e não abriremos mão dos nossos direitos. A democracia só é plena quando contempla a diversidade de seus cidadãos”, afirma Toni Reis, fundador do Grupo Dignidade.
Em um tempo marcado por retrocessos e ameaças, a Marcha pela Diversidade de Curitiba reafirma seu compromisso com a vida, a justiça e a liberdade. A mensagem que ecoará pelas ruas neste domingo será clara: ainda estamos aqui e não vamos recuar.
Por Alemax Melo I Revisão: Lorrayne Rosseti
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