O aplicativo ICEBlock, lançado em abril deste ano, tornou-se o mais baixado da App Store nos Estados Unidos nesta semana. A plataforma, que permite aos usuários compartilhar anonimamente avistamentos de agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE), tem como objetivo alertar imigrantes sobre a presença desses agentes em um raio de até oito quilômetros.
A ascensão do aplicativo à popularidade ocorreu após uma reportagem da CNN e críticas do governo Trump. Autoridades como a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, e o diretor interino do ICE, Todd M. Lyons, afirmaram que o aplicativo poderia colocar os agentes federais em risco, alegando um aumento de 500% nos ataques contra eles. Já a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmou que o governo está avaliando processar a CNN por divulgar a existência do aplicativo, acusando a emissora de “incentivar a obstrução da lei”.
O criador do ICEBlock, Joshua Aaron, rebateu as críticas, chamando-as de “tática de medo da direita”. Ele afirmou que o aplicativo é apenas um recurso informativo e que seu objetivo é proteger imigrantes e comunidades vulneráveis. “Cresci em um lar judeu e aprendi com sobreviventes do Holocausto sobre o que acontece quando o poder persegue minorias. Só quis fazer algo para resistir”, declarou Aaron à NBC News.
O ICEBlock funciona de forma semelhante ao aplicativo de trânsito Waze. Ele não coleta dados pessoais, não permite relatos fora do raio de cobertura e apaga todas as informações após quatro horas, como forma de garantir a veracidade e a segurança. O aplicativo está disponível em vários idiomas, é acessível para pessoas com deficiência visual e auditiva, e já conta com mais de 95 mil usuários.
A popularidade do app acompanha o aumento das operações de deportação sob a atual gestão de Donald Trump, e se soma a outras ferramentas de alerta comunitário, como o site People Over Papers e o aplicativo ResistMap.
Apesar do apoio de usuários nas redes sociais como BlueSky e X, Aaron relata que também tem enfrentado assédio, inclusive com mensagens antissemitas. Mesmo assim, defende sua criação: “Se puder ajudar uma única pessoa a evitar uma situação perigosa, já valeu a pena”, disse.
A CNN, citada nas críticas do governo, defendeu sua cobertura dizendo que informar sobre a existência de um aplicativo público não constitui crime ou apoio à ferramenta. A emissora ainda não comentou sobre uma possível ação judicial.
Enquanto o debate sobre a legalidade e os impactos do ICEBlock continua, o aplicativo se consolida como símbolo da tensão entre políticas de imigração e os direitos civis nos Estados Unidos.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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