O mistério por trás da queda do voo AI-117 da Air India, que matou 260 pessoas no mês passado, começa a ganhar contornos mais precisos e perturbadores. O relatório preliminar, divulgado nesta sexta-feira (11) pelas autoridades indianas de aviação civil, revela que o fornecimento de combustível para os motores do Boeing 787-8 foi deliberadamente cortado apenas 29 segundos antes do impacto.
De acordo com os dados extraídos das caixas pretas, os dois botões de distribuição de combustível um para cada motor foram movidos da posição “EXECUTAR” para “CORTADO”. Esses comandos ficam no painel central da aeronave e são protegidos por um sistema de segurança que exige dois movimentos distintos: puxar e levantar o botão. Isso evita que sejam acionados acidentalmente.
Apesar de o relatório não afirmar explicitamente que houve ação humana intencional, o diálogo registrado na cabine levanta sérias suspeitas. Um dos pilotos é ouvido perguntando: “Por que você cortou o motor?” ao que o outro responde: “Eu não fiz isso.”
Esse curto diálogo, entre 13h38min e 13h39min (horário local), é crucial para entender os instantes finais do voo. Ainda não foi possível identificar se foi o comandante ou o copiloto que fez a pergunta, o que mantém em aberto o papel de cada um na sequência dos eventos.
Segundo o especialista americano em segurança aérea, John Cox, não é possível acionar esses botões por engano. “Eles são projetados para exigir movimentos intencionais. Não dá para esbarrar neles e eles se moverem por acidente”, explicou.
A cronologia do acidente, segundo o relatório:
- 13h38:39 – O avião decola normalmente do Aeroporto Internacional de Ahmedabad, no oeste da Índia.
- 13h38:42 – Os botões de fornecimento de combustível são desligados. Os motores começam a perder potência imediatamente.
- 13h38:44 – Um dos pilotos questiona o outro sobre o corte dos motores.
- 13h38:47 – É acionada a turbina de emergência conhecida como RAT (Ram Air Turbine), que fornece energia em situações críticas.
- 13h38:52 e 13h38:56 – Os botões de combustível dos motores 1 e 2 são religados.
- 13h39:05 – Um dos pilotos declara emergência: “Mayday, Mayday, Mayday”.
- 13h39:11 – Os gravadores de voz e dados são interrompidos, coincidentemente com o momento do impacto.

A queda aconteceu em 12 de junho, poucos minutos após a decolagem, quando o avião ainda ganhava altitude. O destino final era o Aeroporto de Gatwick, em Londres. Com 242 pessoas a bordo, a tragédia deixou 260 mortos incluindo vítimas que estavam no solo, já que a aeronave atingiu o prédio de alojamento de uma faculdade de medicina em uma área residencial.
Uma das surpresas mais duras do acidente é que apenas uma pessoa sobreviveu: um passageiro com cidadania indiana e britânica que estava próximo à parte traseira da aeronave, onde os danos foram menos intensos.
O documento descarta uma das hipóteses iniciais: a falha dos flaps, dispositivos essenciais para a sustentação na decolagem. Os destroços revelaram que os flaps estavam na posição correta para o momento do voo, o que elimina a falha mecânica como causa principal, ao menos nessa fase da apuração.
Outro dado importante: nenhuma recomendação técnica foi feita até agora nem à Boeing nem à fabricante dos motores, o que reforça a possibilidade de erro ou ação humana como principal foco da investigação.
Testes laboratoriais realizados com o combustível também confirmaram que ele estava dentro dos padrões exigidos e sem qualquer contaminação.
Passageiros e impacto internacional
Entre os passageiros, havia 169 indianos, 53 britânicos, 7 portugueses e 1 canadense. O voo fazia parte de uma rota de alta demanda entre o sul da Ásia e a Europa. O impacto da tragédia gerou comoção em diversos países, especialmente no Reino Unido e em Portugal, que enviaram representantes consulares a Ahmedabad para acompanhar a apuração e dar suporte às famílias das vítimas.
Além das mortes a bordo, 29 pessoas que estavam no prédio atingido pelo avião também morreram, elevando ainda mais o impacto humano da tragédia.
Após o acidente, o governo da Índia determinou inspeção imediata em toda a frota de Boeings 787 Dreamliner pertencentes à Air India, que conta com 33 unidades desse modelo. Os voos estão operando com restrições e tripulações extras para garantir segurança reforçada até a conclusão da apuração.
A previsão é que o relatório final da investigação seja divulgado nos próximos meses, mas a tendência é que os próximos capítulos girem em torno da análise do comportamento da tripulação, inclusive com auxílio de especialistas internacionais.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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