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Letalidade policial bate recorde em São Paulo: maioria das vítimas são jovens negros

Número de mortes cometidas por policiais subiu 35% em relação a maio de 2024; MP-SP afirma que “envida todos os esforços” para apurar os casos

Na noite de 10 de maio deste ano, Nicolas Alexandre Pereira dos Santos de Oliveira, um jovem negro de 19 anos, estava sentado em uma viela de Paraisópolis, comunidade da zona sul de São Paulo, quando foi surpreendido por uma operação da Polícia Militar paulista (PM-SP). Desarmado, segundo relata a família, tentou levantar as mãos em sinal de rendição. Ainda assim, foi baleado quatro vezes. Ferido, ficou caído no chão, sem socorro imediato. Morreu pouco depois em um hospital da região.

Nicolas foi uma das 66 vítimas da polícia paulista em maio de 2025, o mês mais letal dos últimos cinco anos no estado, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) divulgados no fim de junho. O número representa um aumento de 35% em relação a maio de 2024.

O perfil das vítimas tem repetido uma lógica conhecida e alarmante: homens, jovens e negros. Das 66 mortes, 64% eram de pessoas pretas ou pardas (35 pardas e quatro pretas, de acordo com os registros). A idade média foi de 32 anos. O mais novo tinha apenas 15; o mais velho, 52.

Mortes pelas polícias no estado de SP – janeiro a maio

Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo

Grande parte dos casos se concentrou na cidade de São Paulo, com 20 mortes. A maioria foi provocada por policiais em serviço (59). A PM foi responsável por 64 mortes; as duas restantes foram atribuídas a policiais civis.

No caso de Nicolas, a PM-SP afirmou que houve confronto com um grupo supostamente ligado ao tráfico e que o jovem estaria armado e resistiu à abordagem. Familiares, no entanto, afirmam que a arma foi plantada. Eles dizem que ele foi executado sumariamente por ser preto e que os policiais impediram a chegada de uma ambulância. Moradores da região protestaram exigindo justiça.

Queda no acumulado, mas alta pontual chama atenção

De janeiro a maio de 2025, o total de mortes por intervenção policial no estado foi de 299, número 4% menor do que no mesmo período de 2024, quando houve 311. Comparando maio com abril deste ano, houve uma queda de 6% (70 mortes em abril). Mas a comparação entre os meses de maio revela a gravidade: foram 49 mortes em maio de 2024 contra 66 em maio de 2025, uma alta expressiva.

A própria SSP-SP alerta que comparações mensais podem sofrer influência de variações sazonais, mas admite o agravamento. Para especialistas, o que preocupa não é apenas o número absoluto, mas a tendência de aumento nos meses mais recentes.

Letalidade policial no estado de SP – evolução janeiro a maio

Fonte: Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo

Polícias matam mais enquanto homicídios caem

Em contraste com o aumento da letalidade policial, o número de homicídios dolosos caiu. Em maio de 2025, foram registrados 200 homicídios desse tipo no estado, contra 206 em maio do ano anterior. No entanto, somando os homicídios aos casos de mortes causadas por policiais, chega-se à constatação de que as forças de segurança foram responsáveis por 25% do total de mortes violentas em São Paulo naquele mês.

Esse dado serve de alerta para estudiosos da segurança pública. Segundo o sociólogo Ignacio Cano, idealmente a polícia deveria estar envolvida em, no máximo, 10% das mortes violentas. Já o pesquisador Paul Chevigny considera abusivos os índices acima de 7%.

Em maio de 2024, essa proporção foi de 19%. De janeiro a maio de 2025, a média ficou em quase 22%, igual ao mesmo período do ano anterior.

Para Malu Lopes, pesquisadora em políticas públicas de segurança, a estatística revela um padrão preocupante: “A polícia de São Paulo foi responsável por um quarto das mortes em maio. Esse número demonstra despreparo para lidar com abordagens e operações, além de aprofundar a desconfiança da população em relação às instituições de segurança”.

Divergência nos dados e atuação do MP

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), responsável pelo controle externo da atividade policial, também monitora as mortes causadas por agentes de segurança. Seus dados são coletados pelo Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp). Em maio, o Gaesp registrou 64 mortes, duas a menos que os números da SSP-SP. Em abril, a diferença também foi pequena: 69 mortes registradas pelo MP, contra 70 pelo governo paulista.

Segundo o MP, o painel de dados do Gaesp é atualizado constantemente, e a diferença se deve ao fato de que a consolidação final dos dados por parte da SSP-SP costuma acontecer no fim do mês seguinte. O órgão afirma que “envida todos os esforços” para investigar cada um dos casos, mobilizando seus promotores especializados para acompanhar as apurações.

A SSP-SP, por sua vez, respondeu que a PM não compactua com desvios de conduta e que tem investido em formação continuada, treinamentos e na aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo. Também afirma que comissões internas analisam as ocorrências para orientar ajustes operacionais.

A nota oficial da PM destaca ainda o uso de armas de incapacitação neuromuscular, como forma de reduzir o risco de morte em abordagens, e reforça que a tropa passa por treinamentos regulares nas unidades espalhadas pelo estado.

Outros estados com altos índices de violência policial

Embora São Paulo lidere em números absolutos, outros estados também enfrentam níveis críticos de letalidade policial. No Rio de Janeiro, operações em comunidades pobres continuam resultando em dezenas de mortes, com frequentes denúncias de execuções sumárias. Em muitas dessas ações, as polícias atuam em áreas densamente povoadas, com pouco ou nenhum planejamento para preservar a vida de civis.

Na Bahia, a letalidade policial cresceu 46% em 2024 e segue em alta neste ano, principalmente em Salvador e sua região metropolitana. Estados como Ceará e Pernambuco também registram aumentos consideráveis, embora com menor repercussão nacional.

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os estados com maiores índices de mortes por intervenção policial em 2024 foram: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Pará. Todos enfrentam desafios semelhantes: ausência de controle externo efetivo, falta de investimento em policiamento de proximidade e uso excessivo da força em regiões marginalizadas.

A urgência de uma nova política de segurança

Para estudiosos, o problema da letalidade policial não é isolado. Ele está diretamente ligado à ausência de políticas públicas consistentes de controle, prevenção e valorização da vida. Nas palavras da criminóloga Débora Silva, da Rede de Estudos sobre Violência no Brasil, “o que vemos hoje é o colapso de qualquer política de redução da letalidade. Quando o Estado tolera práticas violentas, a impunidade vira norma, e a juventude negra das periferias segue sendo alvo preferencial.”

Segundo ela, o discurso de tolerância zero ao crime não pode ser confundido com licença para matar. “Segurança pública não é sinônimo de confronto. É gestão, prevenção, inteligência e, acima de tudo, respeito à vida.”

Enquanto políticas estruturantes não forem implementadas, a tendência é que casos como o de Nicolas continuem se repetindo. E comunidades inteiras sigam convivendo com medo, indignação e luto.

Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil

VEJA TAMBÉM: Empresário é executado com tiro na nuca em assalto; polícia mata um suspeito em confronto

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Marcia Dantas

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