O Brasil voltou a estar entre os países com o maior número de crianças não vacinadas no mundo, revela um relatório divulgado na última segunda-feira (14) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O Brasil surge agora em 17º lugar no ranking global, com 229 mil crianças sem qualquer dose da vacina da tríplice bacteriana (DTP), que previne a difteria, o tétano e a tosse convulsa.
O valor representa 16,8% de todas as crianças não vacinadas na América Latina e Caribe, ficando apenas atrás do México, que contabilizou 341 mil crianças sem imunização. O aumento foi considerável: mais do dobro do registado em 2023, quando 103 mil crianças brasileiras estavam sem nenhuma dose da DTP.
Apesar do salto negativo em números absolutos, o estudo aponta um ligeiro avanço na quantidade de pessoas que receberam a primeira aplicação da vacina DTP. A porcentagem, que era de somente 70% em 2019, alcançou 91% em 2024 — mesmo que ainda não tenha atingido a marca de 99%, comum entre 2000 e 2012.
O cenário se torna ainda mais grave se analisarmos o planeta como um todo. Aproximadamente 14,3 milhões de crianças em diversas partes do mundo não receberam nenhuma vacina e são consideradas “dose zero”. Outras 5,7 milhões tomaram a primeira dose, mas não seguiram o plano de três doses da DTP. Ao todo, quase 20 milhões de crianças não receberam sequer uma dose da vacina apenas em 2024.
O estudo não se limita à DTP, revelando também uma procura insatisfatória por outras vacinas cruciais. Em 2024, a adesão global à vacina contra o HPV, por exemplo, atingiu somente 31% entre jovens, bem aquém do objetivo de 90% até 2030. Relativamente ao sarampo, a taxa da primeira dose cresceu de 83% para 84%, e a da segunda de 74% para 76% — progressos modestos, mas ainda inferiores ao período anterior à pandemia.
Um aviso crucial do relatório é o aumento notável de surtos de doenças que podem ser prevenidas. Em 2024, a Europa registrou um aumento de três vezes nos casos de coqueluche e o dobro nos de sarampo. Por outro lado, em 2025, os EUA enfrentam o maior surto de sarampo desde que a doença foi considerada erradicada, com 1.288 casos confirmados.
Vale lembrar que o levantamento reforça a urgência de reforçar políticas de vacinação, combater a desinformação e ampliar o acesso a imunizantes, especialmente entre populações vulneráveis.
Por Aline Feitosa | Revisão: Daniela Gentil
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