Após 16 meses consecutivos de alta, o valor do café começou a ceder no Brasil. Indicadores do setor agropecuário e da inflação ao consumidor apontam a primeira retração desde março de 2023, tanto na produção agrícola quanto no varejo.
Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Fipe), o café em pó registrou variação negativa de 0,18% entre 16 de junho e 15 de julho, após mais de um ano de alta contínua. No campo, o impacto foi ainda mais expressivo: o avanço da colheita da safra 2025 ampliou a oferta e provocou queda significativa nas cotações da saca de café.
Marcas populares como Melitta, Pilão e 3 Corações, que chegaram a custar até R$ 26,95 por 500 g no fim de 2024, hoje são encontradas por valores entre R$ 13,18 e R$ 13,80, conforme consultas em grandes redes de varejo e plataformas online.
Evolução do preço do café em pó (500 g)
Dezembro/2023: R$ 18,45
Dezembro/2024: R$ 26,95
Julho/2025: R$ 13,18 a R$ 13,80
O levantamento do IPCA-IBGE mostra que o café em pó acumulou alta de 46,1% ao longo de 2024, impulsionado por escassez de grãos, custos logísticos elevados e instabilidade climática. A queda registrada em julho pode sinalizar o início de uma reversão no cenário.
Dados do CEPEA/Esalq revelam que o preço da saca de 60 kg do café arábica, que chegou a R$ 2.382,57 em maio de 2025, caiu para R$ 1.186,20 no início de junho, recuo de quase 50% em menos de 30 dias. Em 18 de julho, o valor médio foi de R$ 1.825,66, com leve alta nos últimos dias.
A retração foi puxada pelo ritmo acelerado da colheita, entre abril e julho, favorecida por condições climáticas estáveis nas principais regiões produtoras do país. O aumento da oferta pressionou os preços para baixo, tanto no campo quanto na indústria.
O movimento também foi refletido no Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mostrou recuo de 1,29% em maio de 2025, liderado pelo setor de alimentos. Foi a maior queda do ano, indicando que os custos da produção industrial começaram a diminuir, o que pode beneficiar a cadeia como um todo.
Apesar disso, o preço do café ainda não retornou aos níveis anteriores à pandemia. O mercado permanece atento a riscos como geadas, secas, flutuações cambiais e tarifas internacionais, como as impostas pelos Estados Unidos à importação do grão brasileiro.
Analistas avaliam que a continuidade da tendência de queda depende do comportamento do clima e da dinâmica do comércio exterior. Caso a colheita siga avançando sem grandes interferências, o café poderá manter os preços mais baixos nos próximos meses, gerando alívio tanto para o consumidor quanto para os produtores e o setor industrial.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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