O mundo testemunhou hoje um momento histórico: pela primeira vez, a Igreja Católica será liderada por um norte-americano. O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito papa nesta quarta-feira (8), após o quarto escrutínio do conclave realizado na Capela Sistina. Ele escolheu o nome Leão XIV, evocando a tradição e sinalizando continuidade, com um olhar atento ao presente.
A eleição ocorre menos de um mês após a morte de Papa Francisco, em 21 de abril, aos 88 anos. Argentino e primeiro papa jesuíta da história, Francisco ficou marcado pela postura pastoral acolhedora, reformas profundas e forte presença em debates sociais e ambientais. Agora, os olhos do mundo se voltam a Leão XIV, encarregado de conduzir a Igreja em tempos desafiadores.
Quem é Robert Prevost e o que ele representa?
Nascido em Chicago, Prevost tem formação em Matemática e Teologia, com sólida carreira missionária na América Latina, especialmente no Peru, onde atuou por quase duas décadas. Antes de ser nomeado arcebispo, ocupava o cargo de prefeito do Dicastério para os Bispos, um dos mais importantes do Vaticano, o que já lhe conferia papel de destaque nas decisões internas da Igreja.
Com perfil discreto, porém articulado, Prevost é descrito por colegas como um homem de equilíbrio: fiel à doutrina, mas atento às transformações sociais e pastorais do século XXI. A eleição dele é vista como um sinal de que os cardeais buscaram estabilidade e continuidade, mas sem abrir mão de um olhar global e contemporâneo.
Embora ainda seja cedo para classificá-lo rigidamente como progressista ou conservador, tudo indica que Leão XIV será um papa de centro, guiado pelo espírito de escuta, diálogo e unidade. Ele deve manter muitas das reformas iniciadas por Francisco, como a transparência nas finanças da Santa Sé e o impulso à descentralização da autoridade eclesial — mas com um estilo mais institucional, menos midiático.
Desafios do papa Leão XIV
Entre os principais desafios que ele enfrentará estão: a unidade interna da Igreja, diante de tensões entre alas conservadoras e progressistas; o posicionamento ético e moral da Igreja diante de novas tecnologias e dilemas contemporâneos; a crise climática e as desigualdades sociais globais, temas já tratados por Francisco, mas ainda urgentes; o diálogo inter-religioso e o fortalecimento da fé entre os jovens, especialmente na Europa e nas Américas.
A escolha do nome Leão XIV também chama atenção. O último papa com esse nome, Leão XIII, foi conhecido por abrir pontes com o mundo moderno e lançar a base da Doutrina Social da Igreja, com a encíclica Rerum Novarum sobre os direitos dos trabalhadores. Ao adotar esse nome, Prevost pode estar sinalizando o desejo de resgatar o espírito reformista e engajado com as realidades humanas.
Num mundo polarizado, em guerra e marcado pela descrença, Leão XIV terá como missão não apenas administrar o Vaticano, mas oferecer sentido, consolo e direção espiritual a mais de 1,3 bilhão de católicos.
O pontificado de Leão XIV começa hoje. E milhões de fiéis acompanham, esperançosos, o início desse novo capítulo.
Por David Gonçalves, correspondente internacional na Itália – MD News | Revisão: Thaisi Carvalho
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