A nova operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) provocou um verdadeiro terremoto político e digital. Desde a manhã de sexta-feira (18), quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou mandados de busca e apreensão contra o ex-mandatário e determinou o uso de tornozeleira eletrônica como medida cautelar, as redes sociais foram tomadas por milhares de postagens em apoio ou repúdio à ação.
De acordo com um levantamento da Quaest, empresa especializada em análise de dados e opinião pública, 59% das menções nas plataformas digitais apoiaram a operação, enquanto 41% se manifestaram em defesa de Bolsonaro e em crítica ao Supremo.
A análise, considerada um termômetro fiel do clima nas redes, se baseia em mais de 1,3 milhão de menções coletadas até às 17h de sexta-feira. O monitoramento inclui publicações no X (antigo Twitter), Facebook, Instagram, YouTube e em sites de notícias de grande audiência.
Explosão de engajamento e polarização
Segundo a Quaest, o momento de maior pico de movimentação digital aconteceu por volta das 10h da manhã, quando o número de menções ultrapassou 150 mil em poucas horas. Esse movimento foi impulsionado pela divulgação da operação da PF em tempo real nos veículos de imprensa e, sobretudo, pela rápida propagação das imagens e informações em redes sociais e grupos de mensagens.
Enquanto a maioria das manifestações se colocou a favor da decisão do ministro Moraes, apontou a ação como parte de um processo de responsabilização legal após o 8 de janeiro, a base bolsonarista reagiu com veemência, promovendo críticas ao STF, ao ministro e também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Censura” e “ditadura” nas falas bolsonaristas
Nos comentários contrários à operação, termos como “censura”, “ditadura” e “perseguição política” aparecem com frequência. A Quaest identificou que 10% das menções pró-Bolsonaro classificaram a ação como uma violação das liberdades individuais e compararam o atual cenário brasileiro a regimes autoritários.
Boa parte desse discurso foi impulsionado por grupos públicos de mensagens alinhados à direita, onde a retórica contra o Judiciário é dominante. De acordo com a análise, a cada 100 mil mensagens, cerca de 32 mil traziam críticas diretas ao Supremo Tribunal Federal ou ao ministro Alexandre de Moraes.
Outros temas que dominaram os debates
Além da crítica ao STF, os temas mais citados nas postagens que defendem o ex-presidente foram:
- Monitoramento eletrônico de Bolsonaro, com 12 mil menções a cada 100 mil mensagens;
- Críticas ao presidente Lula, que apareceram em 4 mil mensagens a cada 100 mil;
- Alegações de que a operação buscaria desviar o foco de outros problemas do governo.
Esses números refletem a contínua mobilização da base digital bolsonarista, que utiliza estratégias de comunicação em massa e alinhamento narrativo para manter seus seguidores engajados, mesmo diante de medidas judiciais e investigações em curso.
A operação da PF e os desdobramentos jurídicos
Na sexta-feira (18), a pedido da Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes autorizou mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Jair Bolsonaro. A medida faz parte do inquérito que apura a atuação de um grupo suspeito de articular um golpe de Estado e de promover ataques contra a soberania nacional.
Durante a operação, foram apreendidos na casa do ex-presidente:
- Um celular de uso pessoal;
- Um pen drive com arquivos não especificados;
- Cerca de US$ 14 mil dólares em espécie.
Além disso, Moraes determinou que Bolsonaro:
- Passe a utilizar tornozeleira eletrônica;
- Fique em recolhimento domiciliar no período noturno e aos fins de semana;
- Tenha restrição de comunicação com outros investigados.
A justificativa do magistrado se baseia na suspeita de risco de fuga. Bolsonaro, segundo a PF, estaria envolvido em tentativas de articulação internacional com o objetivo de se proteger de futuras condenações ou de buscar asilo político.
Bolsonaro reage: “Suprema humilhação”
Em entrevista concedida na porta de sua residência, Bolsonaro negou qualquer intenção de deixar o país e afirmou que as acusações são parte de um processo de perseguição política. Sobre os valores apreendidos, o ex-presidente declarou que o dinheiro tinha origem legal e apresentou um recibo emitido pelo Banco do Brasil.
“Tenho o direito de ter dinheiro em espécie. Nunca pensei em sair do Brasil, nem em entrar numa embaixada. Tudo isso é uma suprema humilhação”, disse.
A defesa do ex-presidente informou que irá recorrer das medidas cautelares e pediu acesso ao conteúdo integral do processo, que corre sob sigilo.
O que dizem analistas
Especialistas ouvidos por veículos da imprensa apontam que o resultado do levantamento da Quaest revela uma opinião pública dividida, mas ainda majoritariamente favorável ao avanço das investigações sobre Bolsonaro. Segundo esses analistas, o apoio à operação nas redes pode influenciar não só a opinião popular, mas também o clima político no Congresso Nacional, especialmente entre parlamentares indecisos sobre o futuro do ex-presidente.
Ao mesmo tempo, a base bolsonarista segue atuando para construir um discurso de vitimização, comparando o ex-presidente a presos políticos de regimes autoritários e sugerindo que as ações do STF ultrapassam os limites da legalidade.
Disputa de narrativas em ano eleitoral
O episódio ocorre em um momento delicado, com o Brasil se aproximando das eleições municipais de 2024, e com os dois principais polos da política nacional Lula e Bolsonaro ainda muito presentes no debate público, mesmo que em contextos distintos. O levantamento da Quaest mostra que as redes sociais continuam sendo o principal campo de batalha narrativa, onde o impacto das operações jurídicas se traduz em curtidas, compartilhamentos e hashtags.
Para especialistas em comunicação política, o apoio de 59% à operação representa um indicador de que o bolsonarismo começa a sofrer maior desgaste fora de sua base fiel, especialmente entre eleitores mais moderados. Por outro lado, os 41% de críticas demonstram que a polarização permanece viva e ainda será determinante nas disputas eleitorais que se aproximam.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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