Diante da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, o setor citrícola do Brasil enfrenta uma possível crise sem precedentes. A medida ameaça inviabilizar a exportação do suco de laranja, que tem os EUA como seu principal destino, representando 42% das exportações brasileiras da bebida.
Com os preços da laranja despencando para R$ 44 por caixa, quase metade do valor registrado no ano passado, produtores temem prejuízos. Alguns, como Fabrício Vidal, de Formoso (MG), já cogitam deixar a fruta apodrecer no pé por falta de mercado.
A tarifa anunciada representa um aumento de mais de 500% sobre o imposto já aplicado à entrada do suco brasileiro nos EUA. O país norte-americano, cuja produção de suco de laranja caiu ao menor nível em 50 anos, é altamente dependente do produto importado. Estima-se que até setembro, 90% do abastecimento interno será proveniente de fora, principalmente do Brasil, o maior produtor mundial.
Consumidores norte-americanos também devem sentir o impacto, com previsão de alta de até 25% no preço do suco. Grandes marcas como Tropicana, Minute Maid, Simply Orange, Coca-Cola e Pepsi podem ser afetadas diretamente, embora não tenham comentado até o momento.
Estratégias em estudo
No Brasil, exportadores e autoridades buscam alternativas. Uma das possibilidades seria reexportar (produto sai do país de origem, vai para um terceiro país, e depois é enviado ao destino final) — o suco via Costa Rica, estratégia já usada para evitar tributos atuais, mas que pode esbarrar nas regras da OCDE. Outra solução seria conquistar novos mercados, tarefa difícil, já que o suco brasileiro é vendido para apenas 40 países e enfrenta altas tarifas em nações como Índia e Coreia do Sul, além de barreiras econômicas na China.
Segundo o diretor da CitrusBR, Ibiapaba Netto, a situação é preocupante. A União Europeia, que já absorve mais de 50% da produção nacional, não tem capacidade de absorver a perda causada pela tarifa norte-americana. O cenário acende um alerta para todo o agronegócio exportador, especialmente em um momento de instabilidade nas relações comerciais internacionais.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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