Faltando sete dias para a entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros, o governo federal intensificou sua mobilização diplomática na tentativa de reverter a medida anunciada pelo presidente americano, Donald Trump. A sobretaxa, prevista para começar em 1º de agosto, ameaça diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio, a indústria farmacêutica e o setor de dispositivos médicos.
O aumento foi formalmente comunicado em uma carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 9 de julho. No texto, o republicano justifica a decisão como uma resposta à forma como o governo brasileiro tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Trump se refere como um “líder altamente respeitado”.
“A forma como o Brasil tratou o ex-presidente Bolsonaro é uma vergonha internacional”, escreveu Trump. “O número de 50% é muito menor do que o necessário para termos a igualdade de condições com o seu país.”
Além do Brasil, outras nações como Japão, México, Indonésia e integrantes da União Europeia também estão na lista de países que sofrerão aumento tarifário, embora em percentuais distintos.
Críticas públicas e impacto diplomático
As tensões se agravaram na última quinta-feira (24), quando o subsecretário do Departamento de Estado dos EUA, Darren Beattie, fez novas críticas ao Brasil e ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Em publicação nas redes sociais, Beattie afirmou que Moraes é “o coração pulsante do complexo de perseguição e censura contra Jair Bolsonaro”. A declaração foi republicada oficialmente pela Embaixada dos EUA em Brasília, aumentando ainda mais a repercussão do caso.
No Brasil, o presidente Lula reagiu dizendo que Trump “não quer negociar”, embora tenha afirmado estar disposto ao diálogo. “Mas eu também sou bom de truco”, ironizou. Já o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou ter tido uma conversa “longa e proveitosa” com o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick. Contudo, os detalhes desse diálogo não foram divulgados à imprensa.
Efeitos econômicos e riscos à imagem do país
Economistas e especialistas em relações internacionais alertam para os impactos diretos e indiretos da medida. João Alfredo Lopes Nyegray, coordenador do Observatório de Negócios Internacionais da PUC-PR, alerta que, além da perda de competitividade no mercado norte-americano, o episódio pode prejudicar a imagem do Brasil como parceiro comercial confiável.
“Quando os Estados Unidos impõem tarifas com justificativas políticas, outros países interpretam isso como um sinal de risco geopolítico e institucional. Isso mina a confiança na estabilidade contratual brasileira e afasta investimentos estrangeiros”, explica Nyegray.
Além de tornar os produtos brasileiros mais caros nos EUA favorecendo concorrentes como México e Austrália, há risco de realinhamento das cadeias globais de suprimento. Empresas americanas podem buscar fornecedores alternativos, o que poderia gerar perdas duradouras para os exportadores brasileiros, mesmo que as tarifas sejam revertidas futuramente.
Estratégias de contenção e articulação internacional
Diante do impasse, o Brasil aposta em uma força diplomática para tentar barrar a medida. A estratégia envolve tanto contatos diretos com o governo americano quanto articulações multilaterais, buscando apoio de outras nações e organismos internacionais.
Nyegray defende uma abordagem diplomática sem retaliações precipitadas: “O ideal é manter o diálogo com autoridades americanas mais moderadas e com setores empresariais dos EUA que também serão prejudicados pelo aumento das tarifas.”
A cientista política Jessika Kaminski, especialista em legislação internacional e comércio exterior, aponta que o Brasil precisa fortalecer sua atuação em fóruns comerciais e inserir cláusulas de estabilidade institucional em futuros acordos bilaterais e multilaterais.
“Fortalecer alianças regionais, como o Mercosul, avançar em negociações com a União Europeia e propor mecanismos contra o protecionismo são passos urgentes e estratégicos”, avalia.
Enquanto a diplomacia brasileira busca reverter o tarifaço, o relógio segue correndo. Faltam apenas sete dias para que a medida entre em vigor, ameaçando setores-chave da economia nacional, milhares de empregos e a posição do Brasil no comércio internacional.
Moraes é ‘coração’ da ‘censura’ contra Bolsonaro, afirma subsecretário do governo Trump

Foto: Reprodução/Departamento EUA
Darren Beattie, subsecretário de Diplomacia Pública dos Estados Unidos, afirmou nesta quinta-feira (24/07) que Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), é o “coração pulsante” da suposta perseguição e censura contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A declaração foi feita por meio da rede social X (antigo Twitter) e rapidamente ganhou repercussão ao ser republicada pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Segundo Beattie, o governo Trump está atento ao que chamou de violações de liberdades democráticas no Brasil.
“O juiz Moraes é o coração pulsante do complexo de perseguição e censura contra Jair Bolsonaro, que por sua vez cerceou a liberdade de expressão nos Estados Unidos. Graças à liderança do presidente Trump e do secretário Rubio, estamos atentos e tomando medidas”, escreveu Beattie, referindo-se ao secretário de Estado americano Marco Rubio.
Moraes é relator de diversas investigações que envolvem Bolsonaro, seus filhos, aliados e apoiadores. O ex-presidente é réu por crimes como tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, golpe de Estado e deterioração de patrimônio tombado.
Entre as medidas cautelares impostas por Moraes estão o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno em fins de semana e feriados, além da proibição de uso e aparição em redes sociais, tanto em suas próprias contas quanto em perfis de terceiros.
O ministro também reagiu a um vídeo postado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em que o ex-presidente aparece mostrando a tornozeleira eletrônica e chamando o dispositivo de “símbolo da máxima humilhação”. Moraes exigiu explicações da defesa de Bolsonaro no prazo de 24 horas, sob pena de prisão.
Após a apresentação das justificativas, Moraes avaliou que se tratou de uma “irregularidade isolada” e concluiu que não havia elementos suficientes para decretar a prisão preventiva do ex-presidente no momento.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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