O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue enfrentando um cenário de divisão na opinião pública. De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20), 51% dos brasileiros desaprovam a terceira gestão do petista, enquanto 46% afirmam aprovar o desempenho do governo. Outros 3% não souberam ou não responderam.
O levantamento foi realizado entre os dias 13 e 17 de agosto, com entrevistas presenciais a 2.004 pessoas em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Queda leve na desaprovação
Os números apontam uma leve queda na desaprovação de Lula em relação ao último levantamento, feito em julho, quando o índice chegava a 53%. Em contrapartida, a aprovação subiu três pontos percentuais, passando de 43% para os atuais 46%.
Apesar da oscilação, o cenário ainda revela um quadro de polarização e instabilidade política, com o petista enfrentando mais rejeição do que apoio em parte expressiva do país, sobretudo nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Divisão regional
O recorte por estados reforça a diferença de percepção sobre o governo. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, a desaprovação chega a 65%, contra 34% de aprovação. Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentam resultados semelhantes: 59% e 62% de reprovação, respectivamente.
Já no Sul, Paraná e Rio Grande do Sul seguem o mesmo padrão de crítica. No Paraná, 64% desaprovam a gestão de Lula, enquanto no Rio Grande do Sul o índice é de 62%. Goiás, no Centro-Oeste, lidera entre os estados com maior rejeição, alcançando 66% de desaprovação.
Em contrapartida, estados do Nordeste mostram um cenário oposto. Na Bahia, 60% aprovam o governo contra 39% que desaprovam. Em Pernambuco, a aprovação chega a 62%, a mais alta entre os estados analisados.
Metodologia
O levantamento da Quaest foi realizado presencialmente, com entrevistas face a face, prática que garante maior abrangência e contato direto com a população. Foram ouvidas 2.004 pessoas em todo o país, além de recortes específicos em oito estados estratégicos: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás.
A margem de erro geral é de dois pontos percentuais. Nos estados, a margem varia entre dois e três pontos, dependendo do tamanho da amostra local.
Conjuntura política
O resultado da pesquisa surge em um momento de desafios políticos e econômicos para o governo. A inflação em queda e os programas sociais, como o Bolsa Família, têm garantido algum fôlego para a imagem de Lula entre os mais pobres, sobretudo no Nordeste.
Por outro lado, a dificuldade de avançar com pautas econômicas no Congresso, o aumento da pressão do agronegócio e os embates com governadores e prefeitos de oposição têm pesado na percepção negativa em estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Analistas políticos avaliam que o crescimento da aprovação, mesmo que modesto, é relevante. “O fato de Lula conseguir recuperar três pontos percentuais em meio a um cenário de instabilidade é sinal de que há espaço para recomposição de sua imagem, especialmente entre setores que esperavam resultados mais rápidos da economia”, afirma o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Perspectivas
A pesquisa indica que a popularidade de Lula deve continuar a oscilar nos próximos meses, dependendo de variáveis como o andamento das reformas no Congresso, a capacidade do governo em manter estabilidade fiscal e a reação da economia ao cenário internacional.
Com metade do país desaprovando sua gestão e outra parcela expressiva apoiando, o presidente enfrenta o desafio de reduzir a polarização e ampliar sua base de confiança fora do Nordeste.
Resultados detalhados por estado
- São Paulo 65% desaprovam; 34% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 2 pontos. Amostra: 1.644 pessoas.
- Minas Gerais 59% desaprovam; 40% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.482 pessoas.
- Rio de Janeiro 62% desaprovam; 37% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.404 pessoas.
- Bahia 39% desaprovam; 60% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.200 pessoas.
- Paraná 64% desaprovam; 34% aprovam; 2% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.104 pessoas.
- Rio Grande do Sul 62% desaprovam; 37% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.104 pessoas.
- Pernambuco 37% desaprovam; 62% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.104 pessoas.
- Goiás 66% desaprovam; 33% aprovam; 1% não soube responder. Margem de erro: 3 pontos. Amostra: 1.104 pessoas.
Impacto eleitoral
Embora ainda distante das eleições de 2026, os números são observados com atenção pelo Palácio do Planalto. A manutenção de altos índices de desaprovação em estados-chave, como São Paulo e Minas Gerais, pode representar um desafio para o PT na tentativa de ampliar sua base eleitoral fora do Nordeste.
Ao mesmo tempo, a aprovação consolidada no Nordeste reforça a importância da região como principal pilar de sustentação de Lula, repetindo o padrão observado nas últimas campanhas presidenciais.
A pesquisa Quaest mostra que o governo Lula vive um momento de estabilidade relativa, mas enfrenta o desafio de reconquistar apoio em regiões onde sua rejeição é majoritária. O avanço de três pontos percentuais na aprovação nacional pode sinalizar início de recuperação, mas ainda insuficiente para alterar de forma significativa o quadro de polarização.
Com o país dividido entre aprovação e desaprovação, Lula dependerá da capacidade de entregar resultados concretos na economia e de ampliar o diálogo político para consolidar sua gestão e reduzir resistências nos próximos anos.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Relação entre governo Lula e Congresso é vista como negativa pela maioria dos deputados, aponta pesquisa