Como a falta de recursos e infraestrutura nas bibliotecas limita o acesso à leitura e à educação
A leitura é fonte de inspiração e transformação. Cultivar esse hábito exige dedicação intensa, pois, para que continue a exercer um papel essencial em nossas vidas, especialmente no contexto atual, em que o acesso à informação e ao conhecimento se torna cada vez mais determinante para o nosso desenvolvimento pessoal e coletivo, é necessário criar condições que facilitem o acesso e estimulem o prazer pela leitura.
Dados de 2023, de uma pesquisa inédita realizada pelo “Panorama do Consumo de Livros”, apontam que cerca de 84% da população brasileira acima de 18 anos não comprou nenhum livro nos últimos 12 meses. Além disso, 60% dessas pessoas consideram o hábito da leitura importante, mas se sentem desmotivadas para comprar livros. Os principais fatores citados são preço, ausência de loja e falta de tempo, de acordo com estudo realizado pela Nielsen Book Data e encomendado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Esses dados revelam um cenário preocupante sobre o acesso e o hábito da leitura no Brasil. Os principais fatores apontados pela CBL evidenciam o descaso do Poder Público em investir adequadamente nas bibliotecas públicas, que deveriam atender, de forma democrática, às necessidades da população quanto ao acesso à leitura e ao conhecimento.
Uma pesquisa recente conduzida pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), mantido pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, mostra que, entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu ao menos 764 bibliotecas públicas. Dados atualizados revelam que o Brasil conta com um total de 4.639 bibliotecas públicas, distribuídas entre municipais, distritais, estaduais e federais, nos 26 estados e no Distrito Federal.
O cenário de muitas bibliotecas é alarmante: a infraestrutura é precária, o acervo está desatualizado e há uma grave carência de equipamentos essenciais, como computadores, impressoras e dispositivos de áudio e vídeo. Essa falta de recursos compromete seriamente a qualidade dos serviços prestados e o acesso da população à informação. Infelizmente, as ações promovidas pelo poder público têm se mostrado insuficientes, demonstrando pouco interesse em resolver esses problemas por meio de investimentos adequados em infraestrutura.
Enquanto as redes sociais dominam o tempo de atenção, o abandono das bibliotecas públicas agrava a situação, criando um ciclo em que o acesso à leitura se torna cada vez mais restrito. De acordo com levantamento do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), é de extrema importância subsidiar o desenvolvimento de políticas culturais voltadas para esses tipos de informações. Os números apresentados revelam não apenas a quantidade de bibliotecas públicas disponíveis, mas também a distribuição delas por região e tipo de administração. Por meio desses dados, é possível identificar discrepâncias e necessidades específicas de cada região. A Região Norte, por exemplo, apresenta apenas 242 bibliotecas, um número muito menor em comparação com outras regiões, como a Região Sudeste, que conta com 1.437 bibliotecas.
A ausência de bibliotecas priva os cidadãos de um espaço essencial para o acesso democrático à informação e à cultura. É importante compreender que esses ambientes são centros de aprendizado, pesquisa e disseminação cultural. Sem esse recurso, crianças e jovens encontram-se privados do acesso a materiais educacionais e literários, uma vez que os valores cobrados por livros estão cada vez mais altos.
Na atualidade, outro fator predominante para o baixo índice de leitura é o crescente domínio das redes sociais, o qual tem despertado preocupações significativas quanto ao seu impacto na capacidade de concentração humana. Embora as redes proporcionem uma ampla gama de benefícios, como a conexão instantânea com as pessoas ao redor do mundo e o acesso imediato a diversas informações, é crucial reconhecer os desafios que elas impõem ao hábito de leitura.
Na internet, os usuários são frequentemente expostos a informações fragmentadas, apresentadas em formatos breves e de fácil assimilação, como vídeos curtos e imagens chamativas. Esse modo de consumo rápido e superficial pode afetar a propensão das pessoas para se envolverem com conteúdos mais extensos, como livros e artigos longos, por exemplo. Além disso, a natureza predominantemente visual, interativa e com gratificação imediata das redes sociais pode rivalizar diretamente com o tempo diário dedicado à leitura.
Outra questão relevante é o efeito das redes sociais sobre a capacidade de concentração. O uso frequente dessas plataformas, com sua inundação constante de estímulos visuais, pode contribuir para a fragmentação da atenção e dificultar a imersão profunda em textos complexos. Ou seja, indiretamente, as mídias vêm perpetuando uma cultura de imediatismo, tornando a leitura menos atrativa aos indivíduos, uma vez que não existe mais paciência para apreciar plenamente a leitura. Diante desses desafios, é essencial refletir sobre como equilibrar o uso da internet com a prática da leitura e outros hábitos que requerem de nós atenção plena.
Investir na modernização das bibliotecas públicas e em programas que incentivem a leitura nas escolas poderia ser um passo fundamental para reverter essa situação, promovendo a educação e a inclusão social.
Desse modo, a falta de investimentos em bibliotecas públicas, junto ao uso excessivo das redes sociais, demonstra ser um dos maiores desafios para o crescimento da leitura em todo o país. Qual é o principal guia disso tudo? A falta de incentivo. Essa lacuna expõe uma realidade onde a cultura e o conhecimento são desconsiderados, não vistos com a devida importância, o que resulta em impactos significativos no desenvolvimento intelectual de crianças e adultos.
A leitura inspira e transforma. Cultivar esse hábito exige dedicação intensa, pois, para que continue a exercer um papel essencial em nossas vidas, especialmente no contexto atual, em que o acesso à informação e ao conhecimento é fundamental, é necessário criar condições que facilitem o acesso e estimulem o prazer pela leitura.
Por: Yasmin Barreto | Revisão: Redação