Levantamento da FGV-IBRE mostra que bombons subiram mais que a inflação e acumulam aumento de 27,22% desde 2023
A cesta com os itens mais consumidos na mesa de Páscoa subiu 21,68% nos três últimos anos, percentual bem acima dos 12,47% registrados pelo índice de Preços ao Consumidor – Mensal (IPC-M) no acumulado de 12 meses. Porém, neste ano, puxado por legumes e hortaliças, o preço médio dos produtos caiu, em média, 6,07% na comparação com o mesmo período de 2024. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE).
A dinâmica dos preços no triênio 2023-2025 revela tendências distintas, com chocolates e bombons em contínua ascensão. Esses produtos mantiveram a trajetória de alta, com aumentos de 10,02% em 2023; 2,44% em 2024, e 12,88% em 2025, acumulando 27,22% no período total.
Bolso pesado
O economista Matheus Dias, responsável pelo levantamento, explica que, apesar da queda total em 12 meses da cesta de Páscoa, alguns itens podem acabar pesando na conta final.
“O fato de a cesta de Páscoa ter registrado queda intensa entre 2024 e 2025, influenciada por hortaliças e legumes, conta apenas metade da história. Quando analisamos mais de perto, por um período mais longo, vemos que itens cujos preços médios são mais elevados, como é o caso do azeite, bacalhau e chocolates, tiveram altas expressivas não somente em relação ao ano passado, mas sucessivamente ao longo do tempo, fazendo com que o preço pago pelo consumidor esteja sempre crescendo”, observa o economista.
Batata, azeite e ovos
O estudo mostra que outros produtos da cesta de Páscoa seguiram caminhos variados. A batata-inglesa liderou as quedas mais expressivas: após alta de 43,68% em 2024, baixou 45,05% este ano, resultando em deflação de 18,92% no triênio. A cebola seguiu a mesma tendência, passando de +33,37% em 2024 para -43,12% em 2025, com baixa acumulada de 6,64%.
Já o arroz, mesmo após recuo de 4,90% no último ano, manteve inflação de 33,88% no período. O azeite se destacou com a maior elevação acumulada (74,54%), com altas consecutivas de 7,84% (2023), 46,84% (2024) e 10,22% (2025). E os ovos de galinha subiram 51,02% nos três anos.
Produtos como bacalhau e sardinha tiveram comportamento irregular nos preços. O bacalhau alternou entre alta (10,47% em 2023), queda (-1,98% em 2024) e nova alta (9,70% em 2025), totalizando 18,79%. O atum destacou-se entre os pescados com inflação de 30,61% no período.
Cacau é o vilão
Segundo o economista Matheus Dias, o chocolate, em especial, afetado há alguns anos por quebras na produção de cacau mundial, registraria aumento ainda mais significativo se não fosse o fenômeno da reduflação, que consiste na redução da gramatura do produto final como possibilidade de manter o preço ou até mesmo repassar aumentos mais suaves do que ocorreria se o produto fosse mantido com o mesmo peso.
“Um indicativo disso é a variação percentual acumulada das matérias-primas do chocolate no Índice de Preços ao Produtor (IPA) desde abril de 2022. Observamos que ingredientes importantes tiveram aumentos muito acima dos preços do chocolate ao consumidor. No período total analisado, a manteiga de cacau registrou 125% de alta, leite em pó subiu 29%, açúcar aumentou 16%, em média, mas bem acima dos preços observados ao consumidor,” explica.
Mais gordura e açúcar
A nutróloga Marcella Garcez, professora da Associação Brasileira de Nutrologia, alerta o consumidor para olhar bem os rótulos das embalagens de chocolate e não levar gato por lebre. É que com os preços nas alturas, algumas fábricas estão oferecendo o produto com menos chocolate, substituindo com a adição de mais gorduras, açúcares ou com “enxertos” de recheios.
“Um doce sabor chocolate não atende às exigências para ser chamado de chocolate e, portanto, não tem nem mesmo 25% de sólidos de cacau. É muito provável que esse alimento tenha uma lista de ingredientes gigante, com nomes pouco familiares e adição de químicos, conservantes, corantes artificiais ou realçadores de sabor, que não têm nutrientes para o corpo, mas que algumas pesquisas os associam ao aumento de doenças metabólicas. Dependendo de sua composição, se for mais rica em açúcares e gorduras, eles podem ser alimentos hiperpalatáveis e estar envolvidos na ativação do nosso circuito de recompensa, criando uma experiência altamente gratificante. Assim, fica difícil parar de comê-los, mesmo quando já estamos saciados”, alerta.
Para alegrar os paladares mais amargos e oferecer opção mais nutritiva, os chocolates acima de 70% são as melhores opções. “Eles contêm mais cacau”, ensina a nutróloga.

Cristina Christiano é jornalista com extensa carreira profissional, tendo atuado em diversos veículos impressos e audiovisuais nas áreas de polícia, justiça, saúde, educação, comportamento, urbanismo, direitos humanos, economia, entre outras. Fez diversas reportagens especiais, além de séries de repercussão e recebeu já vários prêmios por seu trabalho.