O beato Carlo Acutis será canonizado pelo Vaticano no próximo dia 27 de abril, como o primeiro santo “milennial” (pessoas nascidas entre a década de 1980 e meados de 1990). Dois milagres cientificamente comprovados pela Igreja Católica atribuídos a ele, um deles ocorrido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, permitiram o reconhecimento de sua santidade.
Pelas regras da Igreja Católica, milagre é um acontecimento extraordinário que não pode ser explicado pelas leis naturais e é atribuído à intervenção divina. Para ser oficialmente reconhecido como milagre, a Congregação para as Causas dos Santos realiza minuciosa investigação, que inclui análise de evidências médica, depoimentos de testemunhas e a comprovação de que a ciência não consegue explicar o ocorrido.
Menino cheio de virtudes
Carlo Acutis nasceu em 3 de maio de 1991, em Londres, em uma família abastada, mas passou toda a sua vida em Assis, na Itália, de maneira simples. Ele praticamente doava toda a sua mesada para compra de alimentos e roupas aos mais necessitados.
Desde pequeno já demonstrava fé e devoção à eucaristia (celebração da Igreja Católica para lembrar a morte e ressurreição de Jesus Cristo), que chamava de sua autoestrada para o céu.
Ainda menino, também incentivava outras crianças a praticarem atos de caridade, ia todos os dias à missa e rezava constantemente.
Aos 7 anos começou a fazer evangelização pela internet, catalogando milagres registrados no mundo. Por conta disso que recebeu o título de padroeiro da web.
Ele morreu em 12 de outubro de 2006, aos 15 anos, de leucemia. Logo depois ganhou vários títulos até a canonização: servo de Deus, venerável e beato, em 2020, por conta do milagre ocorrido no Brasil.
Corpo intacto
Um fato curioso é que, 13 anos após a sua morte, o caixão foi aberto e o corpo continuava intacto. Isso motivou a realização de várias exposições ao redor do mundo, com objetos que pertenceram a Carlo Acutis, para espalhar a fé
Fé em Ribeirão Preto
Pela primeira vez, o Brasil recebeu, entre os dias 8 e 10 deste mês, relíquias do jovem beato. Um fragmento do corpo de Carlo, um fio de cabelo e um cinto usado por ele quando foi sepultado, foram depositados na Paróquia Santa Ângela, da Arquidiocese de Ribeirão Preto, no interior paulista, e emocionaram os fiéis. Houve peregrinação pela cidade, missas e exposição.
Segundo o Vaticano, cerca de 2.500 relíquias de Carlos Acutis estão espalhadas ao redor do mundo.
Garoto curado
O primeiro milagre atribuído a Carlo Acutis aconteceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 12 de outubro de 2013, com o menino Matheus Vianna. Desde bebê ele não conseguia se alimentar nem ganhar peso. Tinha vômitos e passava muito mal. O diagnóstico, porém, só veio aos 4 anos: pâncreas anular, uma condição rara que impedia a correta digestão dos alimentos.
Os médicos recomendavam cirurgia delicada para correção, mas havia riscos imensos. Na ocasião, um padre recém-chegado da Itália com relíquias de Carlo Acutis incentivou a família da criança a tocar nos objetos
O que aconteceu a seguir surpreendeu a todos. O menino pediu comida, parou de vomitar e foi curado. Hoje ele vive muito bem, mas prefere se manter longe dos holofotes.
O segundo milagre foi a cura de Valéria Valverde, uma jovem da Costa Rica que sofreu traumatismo craniano após um acidente de bicicleta, em Florença, na Itália, em 2022. Ela estava em coma irreversível e voltou à vida normal, sem sequelas, após a mãe tocar em objetos de Carlo Acutis e rezar com devoção.
Contato na pandemia
O padre brasileiro Rodrigo Natal começou a pesquisar a vida de Carlo Acutis durante a pandemia, depois que passou a ver a imagem do rapaz e relatos sobre os atributos cristãos dele toda vez que acessava a internet. Ele é vigário na Paróquia São Sebastião, pertencente à Arquidiose de Taubaté, no Vale do Paraíba.
“Até então eu não tinha muita familiaridade com o assunto e fiquei surpreso por esse jovem beato me aparecer frequentemente, sem eu digitar seu nome, e aí achei que não era por acaso. Passei a pesquisar a vida dele e fiquei emocionado e encantado com a trajetória de fé e religiosidade de um menino tão puro e caridoso”, comentou o padre.
Por conta disso, o sacerdote decidiu espalhar os ensinamentos deixados pelo menino em um livro de bolso, lançado neste mês pela Editora Loyola. Chama-se “São Carlo Acutis – uma estrada para a santidade”.
Segundo o padre, a publicação tem por objetivo incentivar jovens e até mesmo adultos a recalcularem a rota da vida e seguir pelo caminho do bem.

Cristina Christiano é jornalista com extensa carreira profissional, tendo atuado em diversos veículos impressos e audiovisuais nas áreas de polícia, justiça, saúde, educação, comportamento, urbanismo, direitos humanos, economia, entre outras. Fez diversas reportagens especiais, além de séries de repercussão e recebeu já vários prêmios por seu trabalho.