O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) divulgou neste mês de abril/25, dados coletados em 2023, que apontam 49,3% das crianças no 2º ano do ensino fundamental (EF) como alfabetizadas no Brasil naquele ano. Além disso, onze estados obtiveram índices abaixo de 30%.
O Saeb é um conjunto de avaliações externas em larga escala que permite ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de fatores que podem interferir no desempenho do estudante.
Pelo indicador, em 2021, 56,4% dos estudantes da mesma fase de ensino, o 2º ano do ensino fundamental, não estavam alfabetizados.
Em nota, o Inep diz que “O resultado do Saeb [2023] confirma tendência de aumento no nível de alfabetização detectado pelo Indicador Criança Alfabetizada, obtido por meio das avaliações estaduais censitárias, com resultados padronizados na escala do Saeb”.
No artigo “Métodos de alfabetização e desempenho escolar” (2023), da Revista Tópicos, a autora Simone Néias, reflete que a alfabetização é uma das primeiras interfaces dos alunos com a vida escolar, fato que envolve conflitos pessoais e sociais devido à transição da individualidade para a coletividade, da vida familiar para o convívio social.
Ver dados como esses, nos leva a questionar as bases do sistema educacional brasileiro, bem como o compromisso real com o direito à educação.
Alfabetização como retrato da desigualdade no país
Sabemos que o analfabetismo existente no Brasil não é um fato novo. Apesar de muitos programas serem lançados nacionalmente, os dados tornam a mostrar resultados não satisfatórios. Afinal, esse é um problema que é fruto de uma desigualdade estrutural histórica no país. Alfabetizar vai além de ensinar letras e sons – envolve segurança alimentar, acesso a um ambiente escolar e estímulo familiar, e esses, infelizmente, ainda são desafios recorrentes.
Professores sobrecarregados
Os professores no Brasil vivem momentos de sobrecarga. Especialmente na rede pública, esses profissionais são responsáveis por alfabetizar e gerenciar turmas de 30 ou mais alunos – com realidades diversas entre si.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipec, mostra que pelo menos 71% dos professores brasileiros estão estressados pela sobrecarga de trabalho. Esse foi um levantamento feito com 6.775 professores de escolas públicas (municipais e estaduais) de todo o país, entre julho e dezembro de 2022.
A rede pública carece de mais apoio e formação continuada. Junto a isso, com baixos salários, os professores são colocados em uma posição de responsabilidade imensa sem a estrutura necessária.
Alfabetizar no tempo certo é dar voz e garantir um futuro
Ao final do 2º ano, entre os 7 ou 8 anos, todas as crianças devem dominar as habilidades de leitura e escrita previstas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma vez que, garantir esses aprendizados neste início de trajetória escolar é fundamental para não prejudicar as demais áreas do conhecimento que virão nos anos seguintes.
O atraso na alfabetização é um possível sinal de grandes desastres como evasão escolar, o que gera dificuldades de inserção no mercado e até exclusão social.
A alfabetização na idade certa é um direito. Não ler e escrever restringe o indivíduo a viver à margem dos seus direitos e deveres sociais. Seja na dificuldade de votar com consciência, acessar serviços, oportunidades de trabalho, entre outros, o impacto da falta de alfabetização no tempo certo, gera consequências para toda a vida.
Por: Yasmin Barreto I Lais Queiroz
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