A sede da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), amanheceu de portas fechadas nesta quinta-feira (3), após uma ameaça de ataque à bomba mobilizar autoridades e levar a presidência da entidade a suspender todas as atividades no local. A medida foi tomada por precaução, diante de um alerta repassado por forças de segurança pública na noite de quarta-feira (2), envolvendo possíveis ações de grupos extremistas.
O edifício, localizado na Avenida Marechal Câmara, número 150, no Centro do Rio, teve as portas trancadas até o meio-dia. Em nota oficial, a OAB-RJ informou que “todas as atividades previstas foram canceladas” e que o prédio permanece fechado temporariamente como medida de segurança. A entidade não confirmou o teor exato da ameaça, mas fontes ligadas à segurança indicaram que o risco envolvia um possível artefato explosivo.
A presidente da OAB-RJ, Ana Tereza Basilio, comunicou a decisão às equipes administrativas e jurídicas da casa, reforçando que o bem-estar e a integridade física de funcionários, advogados e visitantes são prioridade absoluta.
Relembre: carta-bomba em 1980 marcou tragédia na história da OAB
O episódio desta quinta-feira evoca lembranças dolorosas para a advocacia brasileira. Em 27 de agosto de 1980, a sede da OAB-RJ foi palco de um dos mais simbólicos atos de violência política do período da ditadura militar: o assassinato da secretária da instituição, Lyda Monteiro da Silva, vítima de uma carta-bomba enviada por agentes ligados ao regime.
A correspondência explosiva era endereçada ao então presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes, mas foi Lyda quem a abriu. O atentado foi uma tentativa de intimidar a entidade, que à época denunciava desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias e torturas cometidas contra opositores políticos.
Mais de três décadas depois, em 2015, a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) revelou os nomes dos responsáveis pelo atentado. Segundo os documentos da comissão, o sargento Magno Cantarino Motta, conhecido como “Guarany”, foi o responsável por entregar pessoalmente o artefato na sede da OAB. Já o sargento Guilherme Pereira do Rosário teria confeccionado a bomba, enquanto o coronel Freddie Perdigão Pereira coordenou a operação.
A investigação da comissão baseou-se em depoimentos, imagens de época e o testemunho de uma funcionária que presenciou a entrega do envelope. A apuração encerrou um dos capítulos mais obscuros da história da repressão política no Brasil e expôs a perseguição sofrida por entidades defensoras dos direitos civis durante o regime militar.
Segurança reforçada e investigações em andamento
Com o novo episódio de ameaça nesta quinta, a Polícia Civil e a Polícia Federal foram acionadas para investigar a origem da denúncia e garantir a segurança da sede da OAB-RJ. Equipes de inteligência trabalham para identificar a autoria e a veracidade da ameaça.
Além disso, o entorno do prédio foi monitorado por agentes, e procedimentos de varredura foram realizados ainda durante a manhã, sem registro de artefatos suspeitos até o momento do fechamento desta matéria. A expectativa é de que as atividades na sede sejam retomadas ainda nesta semana, com medidas de segurança reforçadas.
A presidente Ana Tereza Basilio declarou que a OAB-RJ “não se curvará ao medo ou à violência” e seguirá atuando na defesa da democracia, da Constituição e dos direitos fundamentais.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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