O número de estrangeiros vivendo no Brasil atingiu o maior patamar desde 1980, revelando mudanças significativas no perfil migratório do país. De acordo com dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27 de junho de 2025, houve um crescimento de 70% na população imigrante em comparação com o último levantamento realizado em 2010. Na prática, o total de estrangeiros residentes no país passou de 592 mil para mais de 1,1 milhão de pessoas em apenas 12 anos.
Latino-americanos lideram nova onda migratória
A nova configuração demográfica revela o Brasil como um polo de atração para fluxos migratórios, especialmente de países latino-americanos. Entre os mais de 1,1 milhão de imigrantes contabilizados, 646 mil são oriundos da América Latina, consolidando a região como a principal fonte de imigração para o território brasileiro. O número representa um aumento impressionante de 462 mil novos residentes latino-americanos desde 2010, um salto impulsionado por fatores como crises políticas, instabilidade econômica, desastres naturais e conflitos armados em países vizinhos.
Além dos latino-americanos, os dados do IBGE mostram que 203 mil imigrantes são europeus, 100 mil são asiáticos e 33 mil africanos. A presença europeia, que historicamente teve grande importância na formação da sociedade brasileira, registrou uma queda de 60 mil pessoas em relação a 2010, sinalizando uma retração nesse fluxo migratório tradicional.
A Venezuela é o país que mais envia imigrantes ao Brasil, com 185.388 pessoas, seguida por Haiti (106.813), Bolívia (87.220), Colômbia (47.505) e Estados Unidos (35.371). Esses cinco países lideram o ranking de nacionalidades entre os imigrantes que vivem hoje no território brasileiro.
Crises humanitárias impulsionam entrada de migrantes
O aumento da imigração latino-americana tem como destaque a chegada de venezuelanos, haitianos, bolivianos, peruanos e colombianos. Muitos deles fugindo de situações de emergência humanitária, como no caso da Venezuela, cuja crise social e econômica levou milhares de pessoas a buscar refúgio no Brasil. A Operação Acolhida, coordenada pelo governo federal em Roraima, tem sido uma das principais portas de entrada desses migrantes, muitos dos quais são posteriormente encaminhados a outras regiões por meio de programas de interiorização.
A cidade de São Paulo permanece como o principal destino dos imigrantes, graças à sua infraestrutura, mercado de trabalho diversificado e à presença de redes comunitárias já estabelecidas. Outros estados que se destacam na recepção de estrangeiros são Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e Distrito Federal. Nessas localidades, a presença de migrantes contribui para o dinamismo econômico, a diversidade cultural e a ampliação do mercado de consumo.
Entretanto, o crescimento da população estrangeira também traz desafios sociais. Muitos imigrantes enfrentam dificuldades para obter documentação, acessar serviços públicos, conquistar um emprego formal e aprender o português. A informalidade, a xenofobia e a exclusão social ainda são obstáculos recorrentes à plena integração dessas pessoas na sociedade brasileira.
Especialistas pedem mais políticas públicas de acolhimento
Especialistas apontam que o país precisa investir mais em políticas públicas voltadas para acolhimento, regularização migratória, capacitação profissional e combate à discriminação. Organizações como o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), a Cáritas Brasileira e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) vêm atuando de forma ativa na assistência e orientação a essa população, especialmente em áreas de fronteira e periferias urbanas.
Para a professora de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Carla Monteiro, “o Brasil sempre foi um país de imigração, mas está diante de um novo perfil migratório. Hoje, lidamos com movimentos forçados por razões humanitárias e é fundamental que o Estado se prepare para garantir direitos e promover inclusão”.
Outro ponto que chama atenção no relatório do IBGE é a presença crescente de crianças e adolescentes imigrantes matriculados em escolas públicas brasileiras, o que aponta para a tendência de reunificação familiar e permanência a longo prazo dessas populações. A adaptação escolar, o apoio psicológico e o ensino bilíngue são alguns dos elementos que começam a ser discutidos por secretarias de educação em regiões com forte presença migrante.
Além disso, o impacto da imigração na economia brasileira é frequentemente subestimado. Migrantes ocupam postos de trabalho diversos, desde os mais informais e precários até cargos técnicos e acadêmicos, contribuindo para setores como agricultura, construção civil, serviços, comércio e saúde. Há também um número crescente de imigrantes empreendedores, que abrem pequenos negócios e movimentam economias locais.
O crescimento da população estrangeira residente no Brasil reflete transformações globais e regionais, mas também a capacidade do país de se colocar como um destino de esperança, refúgio e oportunidade. O novo retrato populacional traçado pelo Censo 2022 coloca o Brasil diante do desafio e da responsabilidade de reconhecer o valor da diversidade e de garantir uma convivência mais justa, segura e inclusiva para todos que aqui vivem, independentemente da nacionalidade.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil
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