O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou publicamente, por meio de uma nota divulgada nesta quarta-feira (30), que participou diretamente das articulações com o governo dos Estados Unidos para que as sanções econômicas contra o Brasil fossem “cirúrgicas” e poupassem setores estratégicos, especialmente do agronegócio. De acordo com o parlamentar, que está residindo nos EUA desde março, o objetivo da medida anunciada pelo ex-presidente Donald Trump é político, jurídico e não comercial.
A declaração ocorre após a emissão de uma ordem executiva assinada por Trump, que impõe uma alíquota de 50% sobre uma ampla gama de produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. A medida, chamada popularmente de “tarifaço”, gerou forte repercussão no meio político e econômico brasileiro, especialmente diante do contexto das crescentes tensões diplomáticas entre os dois países.
“Enquanto muitos optavam por negociações atrapalhadas, trabalhamos diretamente para que as medidas fossem direcionadas, atingindo o alvo correto e poupando setores estratégicos como fertilizantes, energia, aviação, madeira, suco de laranja e outros produtos do agronegócio das tarifas comerciais”, afirmou Eduardo Bolsonaro na nota.
O parlamentar atribuiu a exclusão de cerca de 700 categorias de produtos da lista de taxação a uma articulação feita por ele e por membros da direita americana, ligada ao Partido Republicano. Ele destacou ainda que a ofensiva econômica dos EUA é uma resposta direta a ações do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial às decisões do ministro Alexandre de Moraes, que tem protagonizado investigações contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Essas sanções deixam claro que o objetivo dessas medidas não é comercial, mas sim político e jurídico”, escreveu Eduardo, ao reforçar a narrativa de que as sanções teriam sido motivadas pelas supostas violações de direitos e perseguições políticas no Brasil, segundo ele, amparadas pelo Judiciário brasileiro.
Moraes é o foco das críticas
Na mesma nota, Eduardo Bolsonaro sugere que o ministro Alexandre de Moraes estaria diretamente ligado à motivação das punições impostas pelos Estados Unidos. O parlamentar diz que, ao contrário do que se especulava, o tarifaço não foi movido por questões econômicas ou de mercado, mas sim por agressões institucionais do “regime brasileiro” aos interesses norte-americanos.
“Não é segredo para ninguém que cidadãos e empresas americanas foram diretamente atingidas por ações abusivas originadas no Brasil. A resposta que veio agora é legítima”, afirmou.
Nos bastidores, Eduardo teria atuado como ponte entre parlamentares republicanos e figuras ligadas ao alto escalão da campanha de Donald Trump, que lidera a corrida presidencial nos EUA em 2024. Desde que se licenciou do mandato, o deputado tem mantido agenda ativa em fóruns conservadores e eventos políticos nos EUA, onde tenta estreitar laços com membros influentes do partido de Trump.
Produtos isentos e impacto econômico
A ordem executiva assinada por Trump determina que a partir do dia 6 de agosto, a importação de centenas de itens brasileiros passará a ser taxada com uma alíquota extra de 50%. No entanto, setores como celulose, carvão, aço, madeira, fertilizantes, aeronaves, suco de laranja e derivados agrícolas não estão incluídos na lista. Segundo Eduardo, essa “proteção estratégica” foi negociada por ele para que a base produtiva brasileira não sofresse um colapso imediato.
Apesar das isenções parciais, a medida é considerada um duro golpe para o comércio exterior do Brasil. Economistas afirmam que o tarifaço pode comprometer bilhões de dólares em exportações e aumentar a tensão com os Estados Unidos, que historicamente são o segundo maior parceiro comercial do país, atrás apenas da China.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ainda não se pronunciaram oficialmente, mas representantes do setor privado já demonstraram preocupação com o cenário incerto e com a possível escalada de retaliações entre os países.
Críticas e pedidos de cassação
O retorno de Eduardo Bolsonaro ao centro do noticiário político também reacendeu críticas e acusações no Brasil. Desde que se licenciou do cargo em março, o deputado se afastou completamente das atividades parlamentares, embora continue recebendo salário integral da Câmara dos Deputados. A ausência prolongada, aliada à sua atuação em solo estrangeiro, motivou ao menos cinco pedidos de cassação de mandato protocolados por partidos e organizações civis.
Entre as alegações estão o abandono de função e a suposta conspiração contra os interesses econômicos do Brasil. Os autores dos pedidos de cassação acusam o parlamentar de agir em favor de medidas que prejudicam a economia nacional, ao colaborar com o governo americano para aplicação de sanções ao seu próprio país.
Eduardo nega as acusações e afirma que seu papel foi justamente evitar danos maiores ao setor produtivo brasileiro. “Nossa missão foi preservar o que é essencial. As medidas poderiam ter sido muito mais severas se não fosse nossa atuação técnica e diplomática”, afirmou.
Esforço diplomático ou interferência internacional?
A atuação do deputado em território estrangeiro levanta um debate importante sobre os limites da atuação de parlamentares no exterior e o possível conflito de interesses ao interceder junto a um governo estrangeiro em detrimento do próprio país. Juristas ouvidos por veículos especializados alertam para os riscos de Eduardo ter ultrapassado prerrogativas legais, o que poderia configurar quebra de decoro parlamentar.
Por outro lado, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro e membros da oposição à atual gestão do presidente Lula veem na ação uma tentativa legítima de defesa de liberdades civis e políticas, em especial diante do que consideram um “aparelhamento do Judiciário”.
Repercussão no Congresso
No Congresso Nacional, o caso gerou reações divididas. Parlamentares governistas criticaram duramente a postura de Eduardo, classificando-a como “antipatriótica”. Já entre deputados bolsonaristas, a narrativa de que o tarifaço é um ataque ao STF e não ao Brasil ganha força.
A base aliada do governo Lula pretende usar o episódio como munição política para isolar ainda mais o grupo ligado ao bolsonarismo no Legislativo e fortalecer a imagem de que o país está sendo prejudicado por ações irresponsáveis de seus próprios representantes.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil
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