Um terremoto de magnitude 8,8 atingiu o extremo leste da Rússia na manhã desta quarta-feira, 30 de julho (noite de terça-feira, 29, no Brasil), provocando uma série de eventos sísmicos e humanitários que se espalharam para além das fronteiras russas.
De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o abalo sísmico foi o mais forte registrado globalmente desde 2011, quando um tremor de magnitude 9,1 devastou o Japão e desencadeou o desastre nuclear de Fukushima. Este também foi o sexto maior terremoto já registrado na história moderna, igualando a magnitude de dois outros grandes tremores: o do Equador, em 1906, e o do Chile, em 2010.
O epicentro do terremoto foi localizado a cerca de 119 quilômetros a sudeste de Petropavlovsk-Kamchatsky, cidade portuária na península de Kamchatka, com profundidade de 19,3 quilômetros. A região é uma das mais sísmicas do mundo e integra o chamado “Círculo de Fogo do Pacífico”, zona com intensa atividade tectônica que concentra 90% dos terremotos registrados no planeta.
Tsunamis e evacuações
O impacto do tremor foi sentido de forma violenta em diversas regiões da costa russa, especialmente na península de Kamchatka e nas ilhas Curilas. Em Severo-Kurilsk, quatro ondas de tsunami, algumas com até cinco metros de altura, atingiram a cidade. Imagens compartilhadas por agências locais mostram embarcações arrastadas, fachadas de edifícios colapsadas e portos parcialmente inundados. A fachada de um jardim de infância também desabou.
Apesar dos estragos, o governo russo informou que não houve mortes confirmadas. Algumas pessoas ficaram feridas e procuraram atendimento médico, mas nenhum caso grave foi relatado até o momento.
Alexander Ovsyannikov, prefeito de Severo-Kurilsk, recomendou que moradores não utilizem o aquecimento a gás até que inspeções sejam realizadas, para evitar intoxicações por monóxido de carbono.
Alerta internacional: Japão, EUA e América Latina em prontidão
Com o epicentro localizado no oceano Pacífico, o terremoto russo disparou alertas de tsunami em diversos países banhados pelo oceano. O Japão emitiu ordens de evacuação em áreas costeiras, e ondas de até 1,3 metro foram registradas. O secretário-chefe de gabinete japonês, Yoshimasa Hayashi, afirmou que, até o momento, não havia relatos de vítimas ou danos estruturais significativos. Também não foram identificadas anomalias em usinas nucleares.
No Havaí, a Guarda Costeira norte-americana orientou embarcações a deixarem os portos, enquanto a população recebeu ordens para se dirigir a áreas mais altas. O Sistema de Alerta de Tsunami dos Estados Unidos (PTWC) previu a chegada de “ondas potencialmente perigosas”, que começaram a atingir as ilhas pela manhã.
Na Indonésia, as autoridades das províncias de Sulawesi do Norte iniciaram evacuações preventivas. Adolf Tamengkel, chefe da agência de mitigação de desastres local, declarou que o risco de tsunami era real, especialmente nas regiões costeiras mais baixas.
Rússia: o mais forte desde 1952
Este terremoto foi o mais poderoso registrado na região russa desde o abalo de magnitude 9,0 que atingiu o Krai de Kamchatka em 1952. Na ocasião, o tremor gerou um tsunami que cruzou o Pacífico e causou danos consideráveis no Havaí. A Academia Russa de Ciências confirmou que o tremor desta semana supera todos os registrados na área nos últimos 70 anos.
Kamchatka é uma região isolada e de difícil acesso, com baixa densidade populacional, o que pode ter contribuído para a menor quantidade de vítimas diretas. Ainda assim, os impactos nas infraestruturas locais, especialmente nos transportes e comunicações, foram consideráveis.
Linha do tempo de destruição: os maiores terremotos da história
O tremor de 8,8 na Rússia agora integra a lista dos terremotos mais intensos já medidos. Confira os dez mais poderosos já registrados, segundo o USGS:
1.Magnitude 9,5 Biobío, Chile (1960)
Conhecido como o Grande Terremoto Chileno, matou mais de 1.600 pessoas e deixou 2 milhões de desabrigados.
2.Magnitude 9,2 Alasca, EUA (1964)
O Terremoto da Sexta-Feira Santa causou um tsunami que matou 130 pessoas e gerou danos em larga escala.
3.Magnitude 9,1 Sumatra, Indonésia (2004)
O desastre matou mais de 280 mil pessoas e deixou mais de 1 milhão de desabrigados em vários países.
4.Magnitude 9,1 Tōhoku, Japão (2011)
Gerou um tsunami devastador e o desastre nuclear de Fukushima, com mais de 15 mil mortos.
5.Magnitude 9,0 Krai de Kamchatka, Rússia (1952)
Tsunami gerado atingiu o Havaí e causou prejuízos milionários.
6.Magnitude 8,8 Biobío, Chile (2010)
Matou 523 pessoas e destruiu mais de 370 mil residências.
7.Magnitude 8,8 Esmeraldas, Equador (1906)
Causou um tsunami que matou cerca de 1.500 pessoas e afetou até a costa dos Estados Unidos.
8.Magnitude 8,8 Kamchatka, Rússia (2025)
Novo integrante da lista, desencadeou alertas em diversos países do Pacífico.
9.Magnitude 8,7 Alasca, EUA (1965)
Gerou um tsunami com ondas de até 10,6 metros.
10.Magnitude 8,6 Arunachal Pradesh, Índia (1950)
Causou grandes deslizamentos de terra e mais de 780 mortes.
Círculo de Fogo: uma ameaça constante
O terremoto na Rússia reforça a preocupação global com a instabilidade geológica do Círculo de Fogo do Pacífico. A área, que se estende por cerca de 40 mil quilômetros ao redor do oceano, engloba regiões costeiras de países como Japão, Rússia, Chile, Indonésia, Filipinas, Canadá e Estados Unidos. Ela é marcada pelo encontro de diversas placas tectônicas, o que a torna propensa a abalos sísmicos e erupções vulcânicas frequentes.
Cientistas alertam que terremotos dessa magnitude, embora raros, têm potencial catastrófico. “Não é possível prever exatamente quando ou onde ocorrerão, mas sabemos que estamos diante de zonas críticas, que merecem monitoramento constante”, afirmou Olga Petrenko, pesquisadora da Academia de Ciências da Rússia.
Coincidência climática: tufão atinge China
Em meio ao caos provocado pelo terremoto no Pacífico, a China também enfrentou uma emergência climática nesta quarta-feira. O tufão Co-May se aproximou de Xangai, obrigando a evacuação de 283 mil pessoas. A cidade elevou seu alerta meteorológico para o nível laranja, segundo maior na escala chinesa de emergências.
Embora os eventos não estejam conectados geologicamente, a simultaneidade das crises evidenciou a vulnerabilidade das grandes cidades costeiras da Ásia diante de fenômenos naturais extremos.
O que vem agora
Equipes de resgate e defesa civil permanecem mobilizadas nas regiões afetadas na Rússia. Autoridades locais avaliam os danos e trabalham para restabelecer os serviços essenciais. A expectativa é que novos tremores secundários (réplicas) ocorram nos próximos dias, embora com menor intensidade.
Organismos internacionais acompanham o caso, e o Centro de Alerta de Tsunamis do Pacífico continuará emitindo boletins para todas as nações do entorno oceânico.
Enquanto isso, o mundo observa atentamente a resposta dos governos e a resiliência das comunidades atingidas mais uma vez, lembrando que, em uma região tão instável como o Pacífico, estar preparado não é uma opção, é uma necessidade.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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