A mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (4), revela um cenário desafiador para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A desaprovação à gestão federal ultrapassa 60% em seis estados brasileiros, com destaque para Goiás, onde o índice atinge impressionantes 70%. O levantamento também mostra que escândalos envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além de temas como corrupção e inflação, são os principais fatores que alimentam a visão negativa sobre o atual governo.
O escândalo do INSS, que envolve descontos indevidos aplicados em benefícios de aposentados e pensionistas, é amplamente conhecido pela população brasileira. Segundo a pesquisa, 82% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento do caso, que está sob investigação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União. Trata-se de um esquema complexo, em que associações e empresas descontavam valores de forma irregular diretamente nos contracheques dos beneficiários, sem autorização formal.
Entre os que tomaram conhecimento do escândalo, 31% atribuem a responsabilidade diretamente ao governo Lula, enquanto 8% creditam as falhas à gestão anterior de Jair Bolsonaro (PL). Os demais entrevistados preferiram não apontar culpados ou acreditam que a responsabilidade é compartilhada entre os governos. O episódio soma-se a uma sequência de notícias negativas para o Planalto, que também enfrenta dificuldades em áreas sensíveis como saúde, segurança pública e inflação.
Segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest, a intensidade do noticiário negativo tem pesado significativamente sobre a imagem do governo: “A imagem do governo está sendo corroída pelo noticiário recente. Fraudes no INSS e corrupção estão na linha de frente do desgaste. Os brasileiros estão sendo bombardeados por conteúdos que reforçam a percepção de má gestão”, afirmou.
Além dos escândalos, a pesquisa mapeia as principais angústias da população brasileira. A violência lidera entre as preocupações, com 30% das menções. Em seguida vêm as questões sociais, como fome, pobreza e desigualdade, lembradas por 22% dos entrevistados. A economia, especialmente o custo de vida e o desemprego, aparece em terceiro lugar, com 19%. A corrupção, ainda que mencionada diretamente por uma parcela menor, figura como pano de fundo constante e transversal a todos esses problemas.
A desaprovação ao governo Lula não está uniformemente distribuída pelo país, e a pesquisa identificou os estados com os maiores índices de rejeição. Confira os dados:
- Goiás: 70% desaprovam, 28% aprovam
- São Paulo: 69% desaprovam, 29% aprovam
- Paraná: 68% desaprovam, 30% aprovam
- Rio Grande do Sul: 66% desaprovam, 33% aprovam
- Rio de Janeiro: 64% desaprovam, 35% aprovam
- Minas Gerais: 63% desaprovam, 35% aprovam
Mesmo no Nordeste, reduto histórico do PT, a popularidade do presidente começa a mostrar sinais de desgaste. Pela primeira vez desde que Lula assumiu o terceiro mandato, a desaprovação supera a aprovação em dois importantes estados nordestinos:
- Bahia: 51% desaprovam, 47% aprovam
- Pernambuco: 50% desaprovam, 49% aprovam
Esses dados refletem uma inflexão perigosa para o governo, especialmente diante de um contexto pré-eleitoral em 2026, no qual a imagem do presidente e a estabilidade da base aliada serão fundamentais para manter o capital político.
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada entre os dias 19 e 23 de fevereiro, ouvindo 10.442 brasileiros com 16 anos ou mais em oito estados estratégicos: Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A margem de erro varia de dois a três pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.
Com a pressão crescente da opinião pública e a expectativa por medidas efetivas de combate à corrupção e fortalecimento da transparência, o governo deve enfrentar semanas difíceis pela frente. No Congresso, já há articulação para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo do INSS, e a oposição promete intensificar o tom das críticas.
A gestão Lula, por sua vez, tenta se equilibrar entre respostas institucionais, controle de danos e estratégias de comunicação para recuperar a confiança da população. A julgar pelos números da Quaest, essa tarefa será longa e desafiadora.
Por Alemax Melo | Revisão Sara Santos
Veja também: INSS inicia devolução dos valores cobrados sem autorização