Os líderes da França, Reino Unido e Canadá emitiram um comunicado conjunto nesta terça-feira (9) classificando como “intolerável” o nível de sofrimento humano em Gaza, exigindo até que Israel interrompa sua ofensiva militar na região. O documento também condenou a “linguagem de ódio” utilizada pelo governo israelense e denunciou ameaças a civis palestinos.
Apesar desses países reconhecerem o direito de Israel à autodefesa após os ataques do Hamas em outubro de 2023, os três países consideram a resposta militar israelense “totalmente desproporcional”. O texto ainda pediu a libertação imediata de reféns mantidos em Gaza e alertou para “medidas concretas” caso Israel não cesse a ofensiva.
Reino Unido suspende negociações comerciais com Israel
O governo britânico anunciou a suspensão imediata de negociações comerciais com Israel e a convocação do embaixador israelense em Londres, para expressar o descontentamento com o bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Em um discurso no Parlamento, David Lammy, o ministro das Relações Exteriores, afirmou que a cooperação bilateral será revista e não descartou novas sanções.
“Existe um plano da ONU pronto para prestar ajuda em grande escala, com medidas contra o desvio de recursos. Há 9.000 caminhões parados na fronteira. Primeiro-ministro Netanyahu: acabe com este bloqueio”, declarou Lammy. O primeiro-ministro Keir Starmer reforçou as críticas: “Estamos horrorizados com a escalada de Israel. O sofrimento em Gaza é absolutamente intolerável”.
Israel autoriza entrada limitada de ajuda humanitária
Após mais de dois meses de bloqueio total, desde o dia 2 de março de 2025, Israel permitiu a entrada de cerca de 100 caminhões da ONU em Gaza nesta terça-feira. A informação foi confirmada por Jens Laerke, porta-voz do Gabinete de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA). A decisão acontece após a pressão internacional e o anúncio de Netanyahu de liberar uma “quantidade básica de alimentos” para evitar a fome na região.
No entanto, a medida foi criticada como insuficiente. Tom Fletcher, líder do OCHA, classificou a entrada dos nove caminhões na segunda-feira (8) como “uma gota de água no oceano”, dada a escassez de alimentos, água potável e medicamentos em Gaza, território em guerra há mais de 19 meses.
As autoridades de Gaza emitiram um apelo à população para proteger os comboios humanitários. Em um comunicado divulgado via Telegram, o gabinete de imprensa do Hamas descreveu os caminhões como “uma tábua de salvação” e pediu que civis impedissem “ataques, roubos ou exploração” da ajuda.
“Proteger essa assistência é um dever nacional, religioso e moral”, destacou o texto, que acusou Israel de “genocídio” e “agressão”. Apesar do tom inflamado, o apelo reflete o desespero diante da crise humanitária, agravada por meses de bombardeios e restrições.
Pressão internacional
A pressão sobre Israel ganhou força após vários meses de denúncias por parte de organizações humanitárias sobre as condições “catastróficas” em Gaza. A ONU estima que 1,1 milhões de pessoas estejam enfrentando níveis críticos de fome, com hospitais operando sem energia e doenças se espalhando devido à falta de saneamento. Enquanto isso, a comunidade internacional debate como garantir a ajuda sem fortalecer o Hamas, classificado como grupo terrorista por Israel e aliados.
Por: Eduardo Carvalho | Revisão: Daniela Gentil
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