Um pedido inusitado do Zoológico de Aalborg, na Dinamarca, gerou polêmica ao sugerir a doação de animais de estimação vivos como galinhas, coelhos, porquinhos-da-índia e até cavalos para alimentar predadores em cativeiro. A publicação foi feita no Facebook do parque e especifica que, no caso dos cavalos, o limite é de até quatro por vez.
A justificativa causou espanto: segundo o zoológico, a prática visa preservar a cadeia alimentar natural e garantir o bem-estar de predadores como o lince europeu, que “necessita de presas inteiras semelhantes às que encontraria em seu habitat original”.
A administração do parque afirmou na publicação oficial que “nos zoológicos, temos a responsabilidade de imitar a cadeia alimentar natural dos animais tanto pelo bem-estar animal quanto pela integridade profissional”.
A proposta provocou forte reação nas redes sociais, com milhares de críticas. Muitos internautas acusaram o zoológico de banalizar a vida dos animais domésticos e incentivar o abandono disfarçado de doação. “Pensar em dar o seu animal de estimação como alimento é o mais desrespeitoso e indigno que se pode imaginar”, escreveu um usuário. Outro comentou: “Foi um mau sinal para um zoológico enviar a ideia de que você pode simplesmente descartar seus animais assim, de forma rápida, fácil e conveniente”.
Fundado em 1935, o Aalborg Zoo é considerado uma das instituições zoológicas mais respeitadas do norte da Europa. Em nota, o parque explicou que a prática não é inédita nem exclusiva, e que o uso de presas inteiras respeita os instintos naturais dos carnívoros, evitando o oferecimento de carne processada, como frango industrializado ou ração.
O lince europeu, citado como exemplo pelo parque, é uma espécie nativa do continente e conhecida por sua dieta exigente. Em cativeiro, manter seus hábitos naturais é uma das prioridades em programas de conservação.
“Utilizamos o método de abate humanitário, feito por profissionais treinados e com protocolos rígidos de bem-estar animal”, disse o porta-voz do zoológico ao jornal dinamarquês Ekstra Bladet. Segundo o zoo, todos os animais doados passam por triagem de saúde e devem estar em boas condições físicas. A prática é legal na Dinamarca e respaldada por normas de conservação animal.
Críticas de especialistas e defensores dos direitos dos animais
Apesar da legalidade, a proposta foi classificada como “insensível” por organizações de proteção animal. A Animal Protection Denmark emitiu uma nota condenando o pedido: “A mensagem enviada ao público é profundamente equivocada. Incentivar que pessoas doem seus pets para virarem alimento, mesmo sob justificativa científica, pode agravar o abandono e a negligência”, afirmou Louise Simonsen, coordenadora da entidade.
Especialistas também questionam a ética da prática. “Existem alternativas éticas para alimentar predadores sem recorrer ao sacrifício de animais domésticos”, afirmou Lars Vang, bioeticista da Universidade de Aarhus.
Outros zoológicos europeus preferem comprar carne de fornecedores ou recorrer a criadores específicos de presas para fins alimentares, o que elimina a conotação de “sacrifício de pets”, mesmo que o destino final dos animais seja o mesmo.
Prática comum, mas pouco divulgada
Apesar da repercussão, o uso de presa inteira (conhecida como whole prey) é comum em zoológicos, principalmente para aves de rapina, felinos e répteis, por estimular comportamentos naturais. O que causou o escândalo no caso de Aalborg foi o apelo aberto ao público comum, incluindo donos de animais de estimação.
“É diferente um zoológico usar coelhos criados para esse fim do que pedir que uma criança doe seu animal de estimação porque não pode mais cuidar dele”, observou uma internauta.
Por Alemax Melo I Revisão: Laís Queiroz
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