O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) uma ordem executiva que impõe uma tarifa de 50% sobre centenas de produtos importados do Brasil. A medida, considerada a mais dura tomada contra o país desde a retomada das relações comerciais pós-pandemia, surpreendeu ao trazer uma longa lista de exceções com mais de 700 itens isentos da tarifa.
Entre os produtos preservados da sobretaxa estão suco e polpa de laranja, minérios de ferro, celulose, combustíveis e componentes de aeronaves civis, todos de alta relevância para setores como o agronegócio, mineração e indústria aeroespacial. A medida, segundo comunicado da Casa Branca, tem como base a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), de 1977, e declara uma nova “emergência nacional” dos EUA em relação ao Brasil.
A justificativa apresentada pelo governo Trump cita que as ações do governo brasileiro representam uma ameaça “incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa e à economia americana. O texto acusa diretamente o governo Lula de perseguir e censurar opositores políticos, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apontando para “violações graves dos direitos humanos” e enfraquecimento do Estado de Direito.
Itens salvos da tarifa
Na lista publicada pela Casa Branca, diversos produtos brasileiros escaparam do tarifaço, entre eles:
- Polpa de laranja
- Suco de laranja congelado
- Suco de laranja não congelado com Brix
- Minério de ferro (aglomerado e não aglomerado)
- Minérios de estanho e concentrados
- Carvão antracite
- Celulose
- Mica bruta
- Artigos de aeronaves civis, motores e peças
- Combustíveis fósseis
Essa seleção mostra uma clara estratégia comercial dos EUA, ao preservar setores onde há interdependência tecnológica ou grande demanda interna. Um dos casos mais simbólicos é o da Embraer, gigante da aviação brasileira, cujos produtos e componentes seguem isentos de novas tarifas.
Embraer: ações disparam após isenção
A primeira reação do mercado à assinatura da ordem executiva foi de tensão. Logo após o anúncio, as ações da Embraer (EMBR3) chegaram a cair mais de 2% na B3, preocupando investidores com uma possível retração nas exportações para os Estados Unidos. No entanto, por volta das 15h50 (horário de Brasília), os papéis da companhia dispararam 10,56%, cotados a R$ 76, após confirmação de que os produtos da empresa estavam na lista de exceções.
A valorização repentina levou os ativos à condição de leilão, um mecanismo da Bolsa que busca equilibrar a oferta e demanda em momentos de alta volatilidade. A recuperação das ações mostra como o mercado reagiu positivamente à exclusão da empresa do tarifaço, aliviando pressões sobre a cadeia produtiva do setor aeronáutico.
Café, carnes e frutas foram atingidos
Embora vários produtos estratégicos tenham sido poupados, o tarifaço atinge duramente o agronegócio brasileiro. Itens como carnes bovina e suína, grãos, café e frutas não constam na lista de exceções e, portanto, estão sujeitos à nova alíquota de 50%.
A ausência de produtos como o café, um dos carros-chefe das exportações brasileiras aos EUA, preocupa produtores e exportadores. O Brasil é o maior exportador de café do mundo, e o mercado norte-americano é um dos seus principais destinos. A elevação da tarifa pode provocar impacto direto nos preços e na competitividade internacional do produto.
No caso da carne bovina, outro pilar do agronegócio nacional, a sobretaxa deve influenciar especialmente grandes frigoríficos como JBS e Marfrig, que mantêm operações nos EUA. Ainda não está claro se as subsidiárias localizadas em solo americano serão afetadas, mas as exportações a partir do Brasil certamente sofrerão pressão.
A motivação política por trás da medida
De forma inusitada, o embasamento da decisão vai além do comércio. A ordem executiva menciona explicitamente motivações políticas, alegando que o atual governo brasileiro estaria suprimindo liberdades civis e perseguindo politicamente adversários.
Segundo o texto publicado pela Casa Branca, as ações do governo Lula contra figuras da oposição como Jair Bolsonaro e seus aliados seriam consideradas violações de direitos fundamentais, algo que, na visão da administração Trump, compromete a estabilidade democrática e, por consequência, afeta a relação entre os países.
“O presidente Trump reafirma seu compromisso de defender a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos contra ameaças estrangeiras. A medida busca também salvaguardar a liberdade de expressão e responsabilizar violadores de direitos humanos”, diz trecho do comunicado oficial da Casa Branca.
Impacto comercial e diplomático
A decisão representa um novo ponto de tensão nas relações Brasil-EUA, especialmente em um ano eleitoral norte-americano. Trump, que busca reeleição, tem endurecido o discurso com países considerados “hostis” à sua agenda ou alinhados a valores ideológicos opostos. A retórica adotada com o Brasil lembra o tratamento dado anteriormente à China, Venezuela e Cuba.
Do lado brasileiro, o Itamaraty ainda não divulgou nota oficial, mas fontes do Ministério das Relações Exteriores indicam que haverá resposta diplomática nas próximas horas. Há expectativa de que o governo Lula leve o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), alegando desrespeito a acordos multilaterais.
Analistas avaliam que a medida pode afetar o fluxo comercial de bilhões de dólares anuais entre os dois países. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações brasileiras para os EUA somaram US$ 36,2 bilhões em 2024, sendo alimentos, minérios e produtos industriais os principais itens da balança.
O que esperar nos próximos dias
A ordem executiva assinada por Trump já está em vigor, mas ainda pode sofrer ajustes ou ser contestada judicialmente nos Estados Unidos. O Congresso americano também pode discutir a legitimidade da nova “emergência nacional” declarada em relação ao Brasil, embora a maioria republicana deva apoiar a medida.
Enquanto isso, produtores, exportadores e empresas brasileiras tentam se reorganizar para lidar com a nova realidade. Algumas companhias já avaliam redirecionar exportações para mercados alternativos, como Europa e Ásia, onde há menos barreiras tarifárias embora isso exija adaptações logísticas e regulatórias.
A lista completa dos produtos isentos pode ser acessada no site oficial da Casa Branca:
www.whitehouse.gov/presidential-actions/2025/07/addressing-threats-to-the-us
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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