São Paulo viveu uma manhã de tensão nesta quinta-feira (3), quando cerca de 300 ativistas ocuparam o saguão do edifício Faria Lima 3500, sede do banco Itaú BBA, um dos metros quadrados mais caros da América Latina. A manifestação, organizada pela Frente Povo Sem Medo, coalizão de movimentos sociais com forte alinhamento à esquerda, teve como principal bandeira a exigência de maior justiça tributária no país, com foco na taxação dos super-ricos.
O ato acontece em meio à tramitação da reforma tributária no Congresso Nacional, que promete mexer na estrutura de impostos no Brasil, mas que, segundo os organizadores do protesto, ainda preserva privilégios de grandes fortunas. Com faixas estampando frases como “O povo não vai pagar a conta”, “Chega de mamata” e “Taxação dos super-ricos já!”, os manifestantes reivindicam o fim da isenção de lucros e dividendos e a maior contribuição das elites econômicas ao orçamento público.
O protesto e a pauta
De acordo com a Frente Povo Sem Medo, o objetivo central da ação é pressionar o governo e o Legislativo a incluir os milionários no Imposto de Renda de forma efetiva e aumentar os investimentos sociais voltados para a população mais vulnerável. Em nota divulgada à imprensa, o grupo afirma que “não é justo que o povo pobre pague a maior parte dos impostos enquanto os super-ricos seguem blindados”.
Além das faixas e palavras de ordem, os manifestantes distribuíram panfletos, realizaram falas públicas e chamaram a atenção de trabalhadores e pedestres que circulavam pela movimentada avenida Faria Lima, símbolo do poder financeiro no Brasil.
A ação, apesar de pacífica, causou interrupções no funcionamento do prédio e acionou protocolos de segurança do banco. A Polícia Militar acompanhou a movimentação de forma ostensiva, mas não houve confronto nem prisões até o momento.
Repercussão política
O protesto rapidamente repercutiu nas redes sociais e nos meios políticos. Deputados federais e senadores alinhados ao campo progressista manifestaram apoio ao ato, destacando a urgência de se combater a desigualdade fiscal no país. “A elite brasileira precisa pagar sua parte. Um país justo começa por uma tributação justa”, escreveu uma parlamentar do PSOL em sua conta oficial no X (antigo Twitter).
Por outro lado, representantes do setor financeiro e políticos ligados ao mercado criticaram a ocupação, alegando que ações desse tipo não contribuem para o debate democrático e geram instabilidade. O banco Itaú BBA não se pronunciou oficialmente até o momento, mas fontes internas confirmaram que as atividades foram parcialmente afetadas durante a manhã.
O Brasil é um dos países com maior concentração de renda do mundo. Segundo dados do Instituto de Justiça Fiscal, apenas 1% da população concentra mais de 28% da riqueza nacional. Ao mesmo tempo, cerca de 50% dos brasileiros sobrevivem com até dois salários mínimos.
A reforma tributária em discussão, embora seja considerada um avanço técnico na simplificação de impostos sobre consumo, ainda é alvo de críticas por não enfrentar com firmeza a taxação do patrimônio e da renda dos mais ricos. Especialistas apontam que a ausência de medidas mais contundentes nesse campo pode comprometer os efeitos redistributivos esperados com a reforma.
Não é a primeira vez que a Frente Povo Sem Medo ocupa prédios de grandes empresas para pressionar por mudanças estruturais. Nos últimos anos, ações similares foram feitas em sedes de empresas de tecnologia, fundos de investimento e órgãos públicos. Os ativistas afirmam que não pretendem recuar enquanto o tema não for tratado com a seriedade necessária.
A ocupação do Faria Lima 3500 durou algumas horas e terminou de forma pacífica, mas o recado foi dado: parte da sociedade organizada está disposta a confrontar os centros de poder econômico para exigir que os mais ricos contribuam de maneira proporcional com o desenvolvimento do país.
A pressão social tende a crescer nas próximas semanas, à medida que os parlamentares avançam nas discussões finais sobre o modelo tributário que vai reger o Brasil nos próximos anos. Enquanto isso, a Faria Lima, normalmente associada a lucros bilionários e decisões corporativas, teve que lidar, ainda que brevemente, com o grito de quem exige um país mais justo.
Por Alemax Melo I Revisão: Lorrayne Rosseti
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