Em meio aos escombros e à reconstrução após dois anos de guerra, a Faixa de Gaza recebe, entre os dias 26 e 31 de outubro, a primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Mulheres de Gaza. O evento marca a retomada das atividades culturais no território palestino e reúne 79 filmes de 28 países, com a expectativa de atrair cerca de 300 pessoas por dia.
A sessão de abertura exibirá o longa “A Voz de Hind Rajab”, da tunisiana Kaouther Ben Hania, vencedor do Leão de Prata no festival de Veneza. A obra conta a história de uma menina palestina de cinco anos morta com a família durante um ataque israelense em Gaza, um dos episódios mais simbólicos da guerra.
“Com esses filmes e iniciativas como essa, desafiamos a morte com vida. Queremos viver e criar”, afirmou à imprensa o médico e cineasta Ezzaldeen Shalh, presidente e idealizador do projeto.
Festival entre ruínas
O Festival foi planejado por mais de 50 profissionais do cinema, em sua maioria mulheres palestinas. A organização, iniciada há um ano, precisou se adaptar à destruição causada pelos bombardeios e à escassez de recursos básicos.
A ideia inicial era realizar o evento no Centro Cultural Rashad Al Shawwa, um dos principais espaços culturais de Gaza, destruído durante os ataques. Com a destruição do local, a equipe decidiu transferir as exibições para um campo de refugiados em Deir al-Balah, a cerca de 19 quilômetros da Cidade de Gaza.
Sem equipamentos adequados, os organizadores recorreram à improvisação. “O projeto que tínhamos foi bombardeado. Perdemos tudo”, contou Shalh. As exibições serão feitas com uma televisão de 55 polegadas e caixas de som emprestadas, e a energia será garantida por um gerador alugado.
O festival conta com o apoio do Ministério da Cultura Palestino, sediado na Cisjordânia, e pretende lançar, a partir de 2026, um programa de formação em cinema para mulheres de Gaza, com cursos de seis meses e produção de curtas-metragens locais.

Júri e homenagens
A presidente honorária do evento é a cineasta italiana Monica Maurer, ativista histórica da causa palestina. O júri internacional é formado por nomes como Annemarie Jacir, diretora palestina de “Palestina 36”, filme indicado ao Oscar de 2026, e Céline Sciamma, diretora francesa de “Retrato de uma Jovem em Chamas”.
Segundo os organizadores, o festival busca dar visibilidade à produção feminina global, e não apenas à realidade palestina. “Os 79 filmes selecionados contam histórias de mulheres do mundo todo. Queremos mostrar que a voz feminina é universal”, explicou o produtor Mohammad Sahli.
Entenda o conflito
A guerra entre Israel e o Hamas começou em outubro de 2023, após um ataque do grupo terrorista que matou cerca de 1.200 pessoas em Israel. Em resposta, o governo israelense iniciou uma ofensiva militar que devastou a Faixa de Gaza, deixando dezenas de milhares de mortos e provocando uma crise humanitária sem precedentes.
O atual cessar-fogo, em vigor desde 10 de outubro de 2025, permitiu o retorno parcial da ajuda humanitária e a retomada de pequenas iniciativas culturais, como o festival. Apesar da trégua, boa parte da infraestrutura segue destruída, e os organizadores relatam que o evento só é possível graças ao esforço coletivo e à solidariedade internacional.
Por: Marília Duarte | Revisão: Laís Queiroz
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