Em um movimento considerado histórico e surpreendente, o Conselho de Segurança Nacional do Irã decidiu suspender a aplicação da lei que tornava obrigatório o uso do hijab em espaços públicos. A medida representa um recuo significativo do regime diante das intensas manifestações populares iniciadas após a morte de Mahsa Amini, em 2022.
A lei, imposta há décadas após a Revolução Islâmica de 1979, obrigava todas as mulheres a cobrirem os cabelos com o lenço islâmico. No entanto, desde a morte da jovem curda, detida pela chamada “Polícia da Moralidade” por, supostamente, usar o véu de forma inadequada, o país tem vivido uma onda de revoltas. O lema “Mulheres, Vida, Liberdade” se espalhou por todo o Irã, ganhando força dentro e fora do país.
As ruas de Teerã e outras grandes cidades foram tomadas por milhares de manifestantes que desafiaram abertamente o regime, muitas vezes retirando o véu em público, gravando vídeos e enfrentando as forças de segurança. O movimento ganhou visibilidade internacional, sendo apoiado por organizações de direitos humanos, artistas, líderes mundiais e pela diáspora iraniana espalhada pelo mundo.
Segundo fontes locais, o Conselho de Segurança desautorizou formalmente o Parlamento iraniano, que havia endurecido as punições para quem descumprisse o código de vestuário islâmico, incluindo multas, penas de prisão e até restrições digitais para mulheres que aparecessem sem o hijab em redes sociais. A suspensão da obrigatoriedade do hijab não revoga a lei, mas impede que ela seja aplicada neste momento, o que, na prática, desativa sua força coercitiva.
A decisão também é vista por analistas como uma tentativa do governo de evitar novas explosões sociais em um contexto de crescente descontentamento da população, sobretudo entre os mais jovens. A repressão violenta aos protestos nos últimos anos atraiu críticas da comunidade internacional e acentuou o isolamento diplomático do país. Estima-se que centenas de pessoas tenham morrido durante os confrontos e milhares foram presas, muitas delas mulheres e meninas.
Enquanto conservadores reagem com indignação à medida, afirmando que se trata de uma ameaça aos valores islâmicos, organizações de direitos humanos celebram o que consideram um passo importante rumo à liberdade individual no Irã. “É uma vitória simbólica e concreta das mulheres iranianas, que resistiram com coragem e dignidade”, afirmou uma ativista em entrevista à imprensa local.
Ainda não está claro se a suspensão será definitiva ou se é apenas uma medida temporária, usada como alívio político. O que se sabe é que, pela primeira vez em décadas, muitas mulheres iranianas poderão andar pelas ruas com a cabeça descoberta e fazer disso um gesto de resistência, orgulho e esperança por um futuro mais livre e igualitário.
Por: Alemax Melo I Revisão: Thaisi Carvalho
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