Os Estados Unidos intensificaram, nos últimos meses, os esforços para reduzir a dependência da China no mercado de terras raras — um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para a fabricação de celulares, veículos elétricos, turbinas eólicas, mísseis, satélites e equipamentos médicos. Com o aumento das tensões comerciais entre Washington e Pequim, a busca por alternativas se tornou prioridade estratégica.
Em maio deste ano, o presidente Donald Trump voltou a manifestar interesse pela Groenlândia, alegando que os EUA “precisam muito” do território dinamarquês. A ilha, localizada no Ártico, é rica em minerais críticos, incluindo elementos de terras raras sob sua camada de gelo. Além disso, Trump assinou um acordo com a Ucrânia voltado à exploração desses recursos, ampliando o escopo da política externa norte-americana no setor.
Apesar do nome, as terras raras — que incluem elementos como escândio, ítrio e os lantanídeos — não são propriamente escassas na crosta terrestre. O problema está na extração e no complexo processo de separação, que envolve custos elevados e grande impacto ambiental.
Segundo a Agência Internacional de Energia, a China responde por 61% da produção mundial de terras raras e por 92% do processamento desses materiais. Entre 2020 e 2023, 70% das importações norte-americanas de metais e compostos de terras raras vieram do país asiático, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA.
Esses elementos são usados tanto em produtos do dia a dia, como smartphones e lâmpadas LED, quanto em tecnologias militares avançadas. Nos EUA, são essenciais para a fabricação de caças F-35, mísseis Tomahawk, submarinos nucleares, armas a laser e satélites de comunicação.
Embora os EUA tenham minas ativas — como a de Mountain Pass, na Califórnia —, o país ainda depende da China para o processamento de terras raras pesadas. “Até o início do ano, qualquer terra rara pesada minerada na Califórnia ainda era enviada à China para separação”, afirmou Gracelin Baskaran, diretora do Programa de Segurança de Minerais Críticos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em entrevista à CNN.
Em abril, a imposição de tarifas adicionais sobre produtos chineses pela administração Trump afetou diretamente essa cadeia de suprimentos. Como resposta, a China manteve controles de exportação sobre sete minerais de terras raras e seus derivados — uma medida considerada retaliação às sanções norte-americanas.
Diante das crescentes tensões, os EUA passaram a buscar novos parceiros. Groenlândia e Ucrânia despontam como opções estratégicas, embora enfrentem entraves estruturais. “A Ucrânia tem uma indústria de mineração ainda muito incipiente, e mesmo que entre na conversa, não há um mapeamento claro do que é economicamente viável”, observou Baskaran.
A disputa por terras raras deve permanecer no centro da política externa norte-americana. A Arábia Saudita também surge como possível aliada em investimentos no setor de mineração e processamento. Apesar de uma trégua temporária negociada em Genebra, os EUA seguem focados em garantir uma cadeia de suprimentos segura e independente em um setor crucial para seu futuro tecnológico e militar.
Por João Vitor Mendes | Revisão Sara Santos
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