A Polícia Federal deflagrou uma nova operação contra o garimpo ilegal no interior do Amazonas. Batizada de Operação Kampô, a ação ocorre no município de Jutaí, a cerca de mil quilômetros de Manaus, e já resultou na destruição de 16 dragas utilizadas na mineração predatória nos rios Jutaí, Bóia e Igarapé Preto.
A ofensiva teve início em 22 de julho e segue até o dia 30, com atuação integrada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). O objetivo é interromper atividades ilegais que colocam em risco ecossistemas sensíveis e comunidades tradicionais da região do Alto Rio Jutaí.
Apesar do impacto operacional da ação, nenhuma prisão foi realizada até o momento. Segundo a PF, o foco é desarticular a estrutura logística do garimpo e coletar dados para novas fases da investigação.
Danos ambientais e sociais graves
As atividades ilegais de mineração têm causado assoreamento dos rios, destruição do leito fluvial, contaminação por mercúrio e ameaças à fauna local. Além dos impactos ecológicos, o garimpo compromete a saúde de ribeirinhos e indígenas que dependem dos rios para alimentação, higiene e transporte.
“As consequências do garimpo ilegal não são apenas ecológicas, mas também sociais. Povos inteiros têm sua saúde comprometida pelo contato com metais pesados lançados nos rios”, afirmou um dos agentes da operação.
Equipamentos inutilizados e produtos tóxicos apreendidos
O balanço da operação até o momento inclui:
- 16 dragas de garimpo
- 4 mil litros de combustível
- 5 rebocadores
- 2 embarcações regionais
- 6 voadeiras
- Frascos com mercúrio
- 4 motores de popa
- 3 inversores
- 1 carregador de bateria
- 2 redes de comunicação via satélite
Segundo a PF, todos esses materiais eram utilizados na extração e transporte de ouro, frequentemente misturado com mercúrio — metal altamente tóxico que se acumula nos peixes e contamina toda a cadeia alimentar.
Resgate de animais silvestres
Durante a operação, agentes do ICMBio resgataram animais silvestres mantidos ilegalmente por garimpeiros. Foram encontrados quatro tracajás e duas tartarugas centenárias, todas espécies ameaçadas de extinção. Os animais foram devolvidos à natureza, em áreas seguras e monitoradas.
Operação integrada e apoio aéreo
A Operação Kampô conta com o suporte aéreo da Coordenação de Aviação Operacional (CAOP) da Polícia Federal, essencial para acesso às regiões remotas da floresta. Também participa o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI-Amazônia), que articula ações com os nove estados da Amazônia Legal e oito países vizinhos, como Bolívia, Peru e Colômbia.
O uso de monitoramento por satélite, interceptações fluviais e inteligência compartilhada tem aumentado a eficácia das ações na região.
O simbolismo do nome Kampô
O nome da operação faz referência ao Kampô, prática tradicional indígena conhecida como “vacina do sapo”, utilizada para purificação e cura. Neste contexto, a ação representa o combate à “contaminação” provocada pelo garimpo ilegal, em defesa de territórios sagrados e áreas de proteção ambiental.
Próximas ações e desdobramentos
As investigações agora se concentram em identificar financiadores, operadores e compradores do ouro extraído na região. Novas fases da operação poderão incluir mandados de prisão e busca e apreensão.
Fontes ligadas à operação afirmam que outras áreas críticas da bacia amazônica estão sob monitoramento e devem ser alvo de novas ações nas próximas semanas, com base em dados de inteligência e imagens de satélite.
Por Alemax Melo I Revisão Sara Santos
VEJA TAMBÉM: PF cumpre 15 mandados de prisão em nova fase da Operação Conexão Sul de Minas
