A Fundação Cacique Cobra Coral (FCCC), entidade brasileira que alega influenciar o clima por meios espirituais, anunciou a suspensão de 50% da assistência climática gratuita prestada a empresas e instituições nos Estados Unidos. A decisão, comunicada na quarta-feira (9), é uma retaliação direta à imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, determinada pelo presidente norte-americano Donald Trump.
Retaliação espiritual e “reciprocidade”
A fundação justificou a medida com base no “princípio da reciprocidade” e afirmou que a interrupção dos serviços espirituais terá efeito em estados como Califórnia, Nova York, Flórida, Illinois e no Meio-Oeste, incluindo até mesmo setores ligados à Casa Branca. Em nota oficial, a presidente da fundação, a médium Adelaide Scritori, afirmou:
“Receba, senhor presidente Donald Trump, nossa manifestação de paz espiritual.”
O anúncio gerou repercussão imediata nas redes sociais, especialmente após um alerta de tornado ser emitido para a região de Washington D.C. no mesmo dia. Internautas reagiram com ironia e memes, batizando o episódio de “Vampetaço climático”.
O que é a Fundação Cacique Cobra Coral?
Criada nos anos 1930, a Fundação Cacique Cobra Coral se apresenta como uma entidade sem fins lucrativos que atua para evitar tragédias ambientais por meio de práticas mediúnicas. Seus representantes afirmam canalizar o espírito do Cacique Cobra Coral que teria encarnado em vidas passadas como Galileu Galilei e Abraham Lincoln com o objetivo de interferir no clima.
Embora não tenha respaldo científico, a fundação já atuou em dezenas de eventos e situações públicas. Entre os exemplos mais notórios estão ações para dispersar chuvas no Réveillon de Copacabana, em crises hídricas em São Paulo e Brasília, além de pedidos de atuação em enchentes, incêndios e deslizamentos. A fundação também afirma ter operado em mais de 16 países.
Misticismo e política externa
A decisão de suspender parcialmente os serviços aos EUA não é inédita. Em 2017, a fundação já havia rompido com o governo americano após a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, também sob a presidência de Trump.
A FCCC se tornou conhecida também por sua relação com personalidades públicas. O escritor Paulo Coelho foi vice-presidente da entidade entre 2004 e 2006. Atualmente, é presidida por Daniel Miranda Costa, enquanto Adelaide Scritori atua como médium-chefe.
Apesar de não cobrar por seus serviços, a fundação costuma exigir contrapartidas sociais dos locais onde atua, como ações de combate à fome ou políticas ambientais.
A suspensão da assistência espiritual aos EUA ganhou destaque principalmente nas redes sociais. Usuários brincaram com a coincidência entre o anúncio da fundação e os alertas meteorológicos em solo americano. Ainda que sem valor científico, a notícia virou símbolo de protesto alternativo à política protecionista de Trump.
Enquanto isso, o governo brasileiro ainda avalia possíveis contramedidas formais à taxação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil buscará novos parceiros comerciais caso os EUA insistam em medidas consideradas hostis. “Se os EUA não quiserem comprar do Brasil, a gente vai procurar quem queira”, disse Lula em evento oficial.
Para analistas políticos, a atitude da fundação tem peso mais simbólico do que prático, mas não deve ser ignorada. “É uma forma muito brasileira — e espirituosa — de reagir a uma injustiça percebida. Mesmo sem poder institucional, a FCCC se coloca como um ator político-cultural”, afirma a socióloga Clarice Rios, da Universidade de São Paulo (USP).
A fundação declarou que continuará monitorando a situação entre os dois países e poderá rever sua decisão caso haja recuo nas sanções. Por ora, a “ajuda espiritual” continua suspensa para os Estados Unidos e a mística brasileira ganhou novo espaço no noticiário internacional.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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