O governo federal anunciou, nesta quinta-feira (4), o lançamento do programa “Gás do Povo”, em cerimônia realizada em Belo Horizonte, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A iniciativa substitui o antigo Auxílio Gás e pretende garantir que 15,5 milhões de famílias cadastradas no CadÚnico tenham acesso gratuito a botijões de gás de cozinha (GLP), com impacto estimado para 50 milhões de pessoas em todo o país.
O programa chega em um momento em que o preço do gás de cozinha pesa cada vez mais no orçamento das famílias de baixa renda. Para muitos lares, o valor do botijão compromete parte significativa da renda mensal, dificultando o preparo das refeições. O “Gás do Povo” busca atenuar esse cenário, assegurando que o benefício chegue de forma direta e sem desvios.
Minas Gerais: escolha estratégica
A escolha de Minas Gerais para sediar o lançamento não é por acaso. O estado tem histórico de desempenhar papel decisivo em eleições presidenciais, refletindo o comportamento médio do eleitorado brasileiro. Em 2022, a disputa eleitoral foi acirrada, e Minas consolidou-se como território estratégico para qualquer governo que busca fortalecimento político e social.
Além disso, Minas possui peso econômico e populacional expressivo, reunindo importantes centros urbanos e áreas rurais que enfrentam dificuldades logísticas de abastecimento de gás. O lançamento no estado representa não apenas uma decisão política, mas também prática: é um dos locais onde a demanda pelo benefício é mais sensível.
Como vai funcionar o programa
O “Gás do Povo” prevê que os beneficiários retirem os botijões em revendas credenciadas, sem custo. Para isso, o governo adotou um sistema de vouchers que poderão ser acessados de quatro formas:
- Aplicativo (vale digital);
- Cartão específico do programa;
- QR Code impresso (obtido em lotéricas e agências da Caixa);
- Cartão do Bolsa Família (em casos específicos).
A gratuidade será concedida no ato da retirada, a partir da validação feita na revenda habilitada. Não haverá transferência direta de dinheiro para as famílias, o que, segundo o governo, garante que o recurso seja usado exclusivamente para a compra do gás de cozinha.
Custo e cronograma
O Ministério da Fazenda calcula que o programa custará R$ 3,57 bilhões em 2025 e cerca de R$ 5,1 bilhões em 2026. O valor é considerado elevado, mas, segundo o Executivo, representa investimento essencial para garantir dignidade alimentar às famílias em situação de vulnerabilidade.
A previsão é de que os primeiros botijões gratuitos comecem a ser entregues em novembro deste ano. Até março de 2026, a expectativa é que o programa esteja operando plenamente em todo o país, contemplando todos os beneficiários elegíveis.
Quem terá direito
O benefício é destinado a famílias cadastradas no Cadastro Único (CadÚnico) com renda de até meio salário mínimo por pessoa (atualmente R$ 759), com prioridade para aquelas que já recebem o Bolsa Família renda per capita de até R$ 218.
A distribuição dos botijões será proporcional ao tamanho da família:
- 2 integrantes: até 3 botijões por ano
- 3 integrantes: até 4 botijões por ano
- 4 ou mais integrantes: até 6 botijões por ano.
Cada benefício terá validade de até seis meses, o que exige atenção das famílias para não perder o prazo de retirada.
Revendas credenciadas
Para participar, as revendas precisarão seguir normas de identidade visual do programa, com padronização em:
- Portarias das revendas;
- Botijões de GLP;
- Veículos de transporte;
- Materiais de comunicação visual.
Além disso, o aplicativo do programa permitirá localizar os pontos de revenda mais próximos, facilitando o acesso ao benefício.
Nos municípios onde não houver revenda credenciada, os distribuidores de GLP que detenham pelo menos 10% de participação no estado deverão garantir o atendimento, mesmo que seja necessário deslocar famílias para cidades vizinhas.
Medida integrada a outras políticas sociais
O lançamento do “Gás do Povo” integra um pacote mais amplo de medidas sociais planejadas pelo governo federal. Entre elas, está em estudo um programa de reforma de casas populares, em fase de ajustes no Ministério das Cidades.
O conjunto de políticas busca reforçar a agenda social da atual gestão, em sintonia com promessas de campanha e com a necessidade de ampliar a rede de proteção a famílias de baixa renda.
Impacto esperado
Especialistas apontam que a medida deve ter impacto direto no orçamento familiar. Hoje, o preço médio de um botijão de 13kg gira em torno de R$ 100 a R$ 120, valor considerado elevado para famílias que sobrevivem com menos de um salário mínimo.
O programa também pode movimentar a economia local, já que parte da logística dependerá das revendas e distribuidoras. Isso cria um elo entre a política social e a cadeia de abastecimento, garantindo que o benefício seja sustentável.
Cenário político
O lançamento em Minas Gerais ocorre em meio a movimentações políticas relevantes. O estado é considerado termômetro eleitoral e concentra importantes lideranças nacionais. O gesto de iniciar o programa em território mineiro é interpretado como tentativa do governo federal de reforçar laços com o eleitorado e consolidar bases políticas estratégicas.
Analistas lembram que programas sociais historicamente têm peso nas disputas eleitorais. O “Gás do Povo”, ao ampliar o acesso a um item essencial, pode ter reflexo direto na percepção popular sobre o governo.
Desafios de implementação
Apesar do otimismo, especialistas em políticas públicas destacam desafios que precisarão ser superados:
- Logística em áreas remotas: muitas cidades pequenas dependem de revendas distantes;
- Fiscalização: garantir que apenas famílias elegíveis recebam o benefício;
- Sustentabilidade fiscal: assegurar recursos contínuos sem comprometer o orçamento federal.
O governo afirma que está estruturando mecanismos de controle digital e parcerias com distribuidoras para evitar fraudes e garantir que a iniciativa funcione de forma transparente.
Expectativa das famílias
Para milhões de famílias, a chegada do “Gás do Povo” representa alívio imediato. Dona Maria Aparecida, moradora da região metropolitana de Belo Horizonte, vive com duas filhas e depende do Bolsa Família. “A gente tinha que escolher entre pagar a conta de luz ou comprar o gás. Com esse programa, pelo menos sei que não vai faltar comida na mesa”, relatou.
Histórias como a dela se multiplicam em todo o Brasil, reforçando a urgência de políticas que garantam itens básicos. O acesso ao gás de cozinha, considerado fundamental para a segurança alimentar, deixa de ser apenas uma questão econômica e passa a ser também social e de dignidade.
O que vem pela frente
Com previsão de início em novembro, o desafio do governo será fazer com que a implementação alcance escala nacional em pouco mais de um ano. Se cumprido o cronograma, em março de 2026 todas as famílias elegíveis já estarão recebendo seus botijões gratuitos.
Até lá, ajustes técnicos e parcerias com estados e municípios serão fundamentais para assegurar que o benefício chegue a quem realmente precisa.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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