O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump devem se reunir no próximo domingo (26), em Kuala Lumpur, capital da Malásia, durante a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). O encontro, segundo diplomatas brasileiros, terá caráter curto e simbólico, com o objetivo principal de encerrar um período de tensões entre os dois países.
A data foi confirmada pelo Itamaraty ao portal de notícias UOL, e a reunião segue em fase final de acerto. De acordo com integrantes da diplomacia brasileira, a conversa não será voltada a negociações detalhadas, mas funcionará como um gesto político, uma tentativa de reconstruir o diálogo e exibir uma imagem pública de reconciliação.
“Será um encontro rápido, sem protocolos extensos, pensado para gerar uma boa foto e marcar o recomeço das relações”, resumiu um assessor do Planalto envolvido na organização da viagem.
Fim da maior crise em 200 anos de relação
A relação entre Brasília e Washington viveu sua maior crise em mais de dois séculos, especialmente após a adoção, por parte dos Estados Unidos, de uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, como carne e café.
A medida foi vista pelo governo Lula como uma retaliação política, motivada pelo cenário interno norte-americano e pela tensão envolvendo o ex -presidente Jair Bolsonaro (PL). Entretanto, fontes do Planalto afirmam que o tema Bolsonaro não será tratado na reunião.
De acordo com diplomatas, as discussões agora são essencialmente econômicas. O Itamaraty entende que as negociações técnicas sobre o fim das tarifas já estão avançadas em nível ministerial e que o papel dos chefes de Estado será apenas selar politicamente o entendimento.
A reaproximação
O encontro em Kuala Lumpur será o primeiro compromisso formal entre Lula e Trump. Os dois já haviam se visto brevemente nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, quando trocaram cumprimentos e elogios. Na ocasião, Trump teria dito que “pintou uma química” entre os dois líderes.
Na semana passada, ambos conversaram por telefone, reforçando o tom conciliador e sinalizando o fim das rusgas públicas.
Desde então, os canais diplomáticos voltaram a operar com normalidade. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, se reuniu em Washington com o senador republicano Marco Rubio, em encontro considerado produtivo.
Na ocasião, Vieira reiterou o pedido pela retirada da sobretaxa e levou a mensagem de que o governo brasileiro está disposto a ampliar o câmbio comercial que hoje já é superavitário para os Estados Unidos.
Foto simbólica e mensagem ao mercado
De acordo com interlocutores próximos ao presidente, Lula considera o encontro essencial para pacificar a imagem externa do Brasil, especialmente diante de investidores internacionais e do agronegócio, setores diretamente afetados pelas barreiras comerciais impostas pelos EUA.
A equipe presidencial avalia que uma foto de Lula e Trump apertando as mãos teria peso simbólico e diplomático suficiente para sinalizar estabilidade política e econômica, tanto ao mercado quanto à comunidade internacional.
O gesto, dizem auxiliares, também serviria para “encerrar o capítulo de animosidade” que marcou o início do terceiro mandato de Lula, quando o governo norte-americano endureceu o tom em temas como comércio e meio ambiente.
Tema sensível: Venezuela
Um dos poucos pontos de tensão que ainda podem surgir na conversa é a questão da Venezuela. No telefonema anterior, Lula já havia pedido a Trump que “evitasse interferências diretas” e defendesse uma solução “diplomática e soberana” para a crise venezuelana.
Na última quinta-feira (17), o presidente brasileiro criticou publicamente as sanções internacionais contra o governo de Nicolás Maduro, durante um congresso do PCdoB, e voltou a defender a autodeterminação dos povos latino-americanos.
Diplomatas brasileiros acreditam, porém, que Lula não deve entrar em confronto sobre o tema durante o encontro com Trump. A estratégia será manter o diálogo em tom institucional, sem se afastar da agenda econômica que motivou o reencontro.
“A pauta será leve, simbólica e de reconstrução. Nenhum dos dois quer transformar isso em uma nova polêmica internacional”, afirmou um integrante do Ministério das Relações Exteriores.
Preparativos e bastidores
A viagem de Lula à Malásia marca mais uma etapa de sua agenda diplomática voltada ao reaproximar de países estratégicos na Ásia e no Oriente Médio. Durante a cúpula da Asean, o presidente também deve participar de painéis sobre comércio sustentável, cooperação energética e governança global.
Segundo fontes do Itamaraty, o encontro com Trump está sendo tratado com discrição tanto pela imprevisibilidade do presidente americano quanto pelo contexto político nos Estados Unidos, onde Trump mantém influência sobre o Partido Republicano.
Os bastidores da diplomacia brasileira indicam que houve resistência interna no governo para que o encontro fosse confirmado. Alguns assessores temiam associar Lula a uma figura controversa, mas prevaleceu o argumento de que a diplomacia deve se sobrepor à ideologia.
Um gesto para o futuro
A expectativa no Planalto é que o breve encontro entre Lula e Trump abra caminho para um diálogo mais fluido entre as duas economias. A agenda deverá incluir, em etapas posteriores, temas como mudanças climáticas, segurança alimentar e investimentos tecnológicos.
Agenda cheia
Além do compromisso com Trump, Lula deve se reunir com líderes de países asiáticos e participar de encontros paralelos sobre energia limpa. O Brasil pretende reforçar acordos na área de biocombustíveis e transição energética, setores estratégicos para a política ambiental do governo.
O presidente retorna ao Brasil no dia 29, com escalas técnicas previstas em Doha e Lisboa.
Com o possível reencontro entre Lula e Trump, a diplomacia brasileira tenta virar uma página turbulenta e consolidar um novo ciclo de diálogo mais pragmático, menos ideológico e centrado em resultados.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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