O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou que a inclusão do Pix na lista de alvos da nova investigação comercial aberta pelos Estados Unidos é consequência direta da eficiência do sistema brasileiro de pagamentos instantâneos. Segundo ele, a ferramenta representa uma ameaça ao domínio das Big Techs americanas no setor financeiro digital.
A declaração foi feita em entrevista à BBC News Brasil, publicada nesta quinta-feira (18). Para Meirelles, o Pix, criado pelo Banco Central em 2020, “é mais rápido, seguro e funcional” do que as plataformas similares oferecidas por empresas como Google, Apple e Meta.
“Trump fala que o Pix está prejudicando o sistema de pagamento das empresas americanas. É mais eficiente, não há dúvidas”, declarou.
Na última terça-feira (15), o governo do ex-presidente Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. A medida foi acompanhada da abertura de uma investigação comercial contra o Brasil.
Entre os pontos questionados estão supostas práticas desleais relacionadas à adoção do Pix, além de críticas à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e à política tarifária brasileira com outros países.
Henrique Meirelles, que já presidiu o Banco Central durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003–2011) e também chefiou a Fazenda no governo Temer, acredita que a pressão parte tanto de motivos econômicos quanto políticos.
Para ele, a ofensiva de Trump contra o Brasil também está ligada à insatisfação com as decisões do STF envolvendo regulação das redes sociais e o processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL), aliado do ex-presidente americano.
“Decisões judiciais não são negociáveis. O governo brasileiro não vai negociar em nome do Supremo, não faz sentido isso”, disse Meirelles.
Apesar de considerar legítima uma tentativa de negociação por parte do governo Lula, Meirelles avalia que será difícil chegar a um acordo, já que parte das acusações envolvem o Judiciário brasileiro.
Ele sugere que o Brasil busque novos mercados, como a China e países asiáticos, para reduzir a dependência econômica dos Estados Unidos. A Europa também é vista como uma opção viável, embora com entraves no setor agrícola.
Sobre possíveis retaliações, o ex-ministro recomenda cautela:
“Pode ser em um ou outro caso, mas não uma coisa generalizada. A tarifa tem efeito inflacionário e precisa ser bem avaliada.”
Segundo ele, mais de 100 milhões de brasileiros usaram o Pix no último ano, consolidando sua presença como principal meio de pagamento no país.
Por Kátia Gomes | Revisão: Daniela Gentil
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