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Mulheres sonham mais com carreira e viagens do que com união conjugal

Pesquisa revela que as gerações femininas têm planos mais relacionados à carreira profissional do que à construção de uma família

A pesquisa ‘Sonhe como uma garota: Uma análise intergeracional dos desejos femininos’, realizada pelo projeto Sonhe Como Uma Garota em parceria com o Think Olga, teve como objetivo mapear os aspirações de mulheres de diferentes gerações. Os resultados mostram que, entre as mais jovens, sonhos com casamento e família têm perdido espaço para outras formas de realização, como carreira profissional e estabilidade financeira.

O estudo entrevistou 1 080 mulheres de diversas regiões do Brasil, distribuídas em três faixas etárias (18–29, 30–49 e 50+), esses parâmetros foram utilizados para mapear as diferenças nos sonhos e aspirações entre as gerações.

De acordo com a pesquisa, muitos são os fatores que tornam o ‘sonhar’ um objetivo abstrato e que acaba sendo atropelado pelas urgências da realidade. Segundo o estudo, as mulheres  têm mais dificuldade de sonhar, pois isso envolve questões sociais profundas, além da força de vontade

Resultados do estudo 

Entre os dados, 47% das entrevistadas afirmaram que continuam a sonhar por terem clareza de sua capacidade e por sentirem liberdade para tanto. Já 38% seguem sonhando pelo exercício da autonomia e pela capacidade de tomar suas próprias decisões. Além disso, 24% se motivam pelo apoio da família e amigos, percentual que aumenta para 33% entre as mulheres mais jovens.

Enquanto o desejo de casar e formar uma família era predominante nas gerações mais velhas, nas mulheres mais jovens, esse sonho diminuiu em importância, sendo substituído por objetivos relacionados à carreira e à independência financeira. O estudo apontou que o sonho de construir uma família caiu da 1ª posição para a 12ª entre as mulheres mais jovens, refletindo uma transformação nas prioridades e valores das novas gerações. 

Em termos de dados demográficos, o Brasil tem observado uma tendência de adiamento do casamento. A média de idade para o primeiro casamento tem aumentado, com mulheres se casando mais tarde em comparação com décadas anteriores. O número de divórcios também tem crescido, especialmente entre casais mais velhos. Por exemplo, entre pessoas com 40 anos ou mais, a participação nos registros de casamentos aumentou significativamente, enquanto a taxa de divórcios também apresentou crescimento, indicando mudanças nos padrões de relacionamento e nas aspirações das mulheres ao longo do tempo. 

Essas mudanças refletem uma transformação nas aspirações das mulheres brasileiras, com um foco crescente em objetivos profissionais e pessoais, em relação à construção tradicional de uma família. 

Além das mudanças nas aspirações profissionais e pessoais, é observado  tendências globais que refletem a crescente autonomia das mulheres em relação aos modelos tradicionais de relacionamento e família. Um exemplo disso é o movimento “Boy Sober“, caracterizado por mulheres que optam por um “detox” de relacionamentos amorosos com homens, buscando afastar-se de experiências frustrantes com aplicativos de namoro e relações anteriores .

Outro movimento relevante é o 4B, originado na Coreia do Sul, que representa uma postura radical de rejeição ao modelo tradicional heteronormativo. O nome “4B” é uma sigla para quatro palavras coreanas que significam: “não namorar”, “não casar”, “não ter filhos” e “não fazer sexo com homens” 

Essas tendências indicam uma mudança significativa nas prioridades das mulheres contemporâneas, que estão mais focadas em sua independência e realização pessoal e profissional.

Novas aspirações, sonhos e viagens 

Em 2024, dados do setor de turismo apontaram um crescimento de 30% na procura por viagens solo entre mulheres, evidenciando uma busca crescente por experiências que proporcionem liberdade, segurança e conexão consigo mesmas. 

Segundo o “Estudo dos Solteiros”, conduzido pelo aplicativo Par Perfeito em colaboração com a Ideia Consumer Insights e a Toluna, 57% das mulheres solteiras no Brasil colocam viajar muito como uma prioridade em suas vidas, ultrapassando outras metas como encontrar um parceiro ou adquirir bens materiais. E o objetivo de Viajar está como a principal prioridade, superando ainda objetivos como alcançar uma posição melhor na carreira (49%) e comprar a casa própria (48%).

Esses dados refletem uma mudança nas aspirações das mulheres, alinhando-se com os resultados da pesquisa “Sonhe como uma garota”, que indica uma transição de sonhos relacionados ao casamento e à família..]

A busca por viagens solo também reflete essa nova perspectiva, na qual a autonomia e o empoderamento feminino ganham destaque. Além disso, políticas públicas, como a campanha do Ministério do Turismo que oferece 15% de desconto em hospedagens para mulheres que viajam sozinhas, têm incentivado essa mudança de comportamento.

O QUE AS MULHERES BUSCAM – ENTREVISTA

Fabiana Senna, 39 anos, jornalista e fundadora do Mulheres na Trilha, uma comunidade voltada para mulheres e criada em 2017 com o objetivo de fomentar a prática de atividades ao ar livre entre o público feminino. A comunidade compartilha dicas, análises de produtos e realiza ações para divulgar informações sobre essa prática. Também promove trilhas, viagens e eventos exclusivos para mulheres.

Segundo Fabiana, o motivo pelo qual as mulheres mais jovens têm priorizado carreira e estabilidade em vez de filhos e casamentos é devido a um movimento mais amplo de consciência e liberdade.

As mulheres estão percebendo que podem (e devem) viver por elas mesmas e fazer escolhas alinhadas mais com seus desejos e menos com imposições sociais.

Muitas de nós crescemos vendo nossas mães e avós abrirem mão de sonhos em nome da família. E, aqui no Mulheres na Trilha, temos percebido a participação tanto dessas mulheres mais velhas, que já passaram pelo processo de construir família, ter filhos e/ou passar por uma separação, quanto meninas mais jovens que realmente buscam mais autonomia e focam mais em estudo e carreira profissional.

Eu me casei muito nova, aos 23 anos. E, quando me separei, busquei priorizar mais coisas que eu gostaria de fazer e viver, e a trilha foi uma dessas escolhas. No entanto, penso que, no meu caso, não foi muito essa questão de ser casada ou solteira que foi um empecilho para viver novas experiências. Foi mais uma questão de contexto, condição financeira e outras prioridades. Hoje, com 39 anos, consigo “equilibrar melhor os pratinhos”, sabe?

Sonhar também envolve recursos financeiros 

A pesquisa revela que o apoio de familiares e amigos é fundamental para a realização de sonhos. Entre as mulheres mais jovens, 25% afirmam já ter desistido de algo por falta desse suporte, no público geral, esse índice é de 19%. 

Com o passar do tempo, sonhar também se torna mais difícil: 70% das pessoas dizem que era mais fácil sonhar na infância. De acordo com o estudo, a escassez de tempo e a desvalorização da imaginação são fatores que vêm sufocando os sonhos na sociedade atual.

A principal razão para o abandono dos próprios desejos, no entanto, é a falta de recursos financeiros. 

Sonhar custa caro, mas qual o custo da liberdade?

Os sonhos feminino ao longo das gerações, ganharam um novo significado. A busca por realização profissional e autonomia financeira se tornou um dos principais objetivos na atualidade. Para Fabiana, ela e a comunidade vivem intensamente essa realidade, pois essa autonomia é sinônimo de liberdade.

“Poder decidir o que fazer, pra onde ir, com quem estar, sem depender de ninguém, é algo que transformou nossas vidas. E isso não significa que não queremos construir vínculos (família, filhos, relacionamentos…. significa que essas decisões não são mais prioridade ou obrigação. Estão vindo de um lugar de escolha.

De acordo com o estudo, ao comparar os sonhos entre gerações de avós e mães, observa-se que o desejo de concluir os estudos cresce entre as mães, superando a prioridade de cuidar e apoiar uma família. Entre as mulheres mais jovens, as filhas, o sonho de construir uma família caiu da primeira posição para a 12ª.

A maioria das entrevistadas acredita que teve mais oportunidades para sonhar do que as gerações anteriores: 88% afirmaram que puderam sonhar mais do que suas mães e avós, e 65% sentem que seus sonhos são mais ambiciosos do que os das gerações passadas. 

E os desafios para quem escolhe um caminho não-convencional?

Na perspectiva de enxergar a vida além da construção familiar, existem muitos desafios sociais e estruturais para mulheres. A discriminação social e o machismo foram apontados como obstáculos por 46% das participantes da pesquisa, sendo que o impacto dessas barreiras aumenta nas classes sociais mais baixas.  

Os desafios ainda existem e não são poucos. Escolher caminhos diferentes pode significar se aventurar por espaços que historicamente não foram pensados para nós. E isso inclui a própria trilha. 

Fazer trilha é libertador, mas também é desafiador, principalmente para nós, mulheres. Isso envolve entrar em ambientes isolados, sem sinal, historicamente vistos como “não lugar de mulher”. Mas é justamente aí que nascem também as oportunidades: autoconfiança, conexão com outras mulheres e experiências transformadoras. Eu, por exemplo, passei a repensar muito mais minhas práticas (menos consumo, menos uso de material não reciclável) depois da trilha.

Embora as mulheres estejam em busca de algo a mais — muitas vezes atrelado ao bem-estar pessoal, novas experiências e realização profissional — uma coisa não anula a outra. Fabiana costuma dizer que “uma coisa não contradiz a outra”. 

De uma forma geral, mulheres solteiras e casadas estão priorizando mais esse realização pessoal. Tem mulheres de 25, 40, 60 anos caminhando com a gente, cada uma em uma fase de vida, mas com esse desejo em comum de viver algo novo.

A realização pessoal virou prioridade (e que bom!) e a trilha, muitas vezes, faz parte dessa “virada de chave”.

O aumento de mulheres viajando sozinhas ou em grupos femininos está relacionado ao quê?

Penso que, em grande parte, à própria autonomia financeira. As mulheres trabalham mais, ganham mais e podem fazer mais escolhas, se comparado a outras gerações. 

Agora, sobre viagens em grupos, as mulheres se sentem mais seguras e se conectam mais em comunidades como o Mulheres na Trilha. Muitas sentem receio de viajar sozinhas e os grupos femininos oferecem acolhimento, empatia, liberdade para ser quem se é, sem julgamentos. Isso tem muito valor!

Sobre como o turismo voltado exclusivamente para mulheres tem refletido essas mudanças nas prioridades femininas. a servidora pública, mãe e responsável pela gestão comercial da comunidade, Camila Belo complementa: 

Esse tipo de turismo mostra que as mulheres estão se priorizando mais. Estão investindo em lazer, aventura, saúde mental, conexão com a natureza e com outras mulheres.”

A gente vê isso nas trilhas, nas viagens, nos depoimentos. Tem mulher que diz: ‘Nunca pensei que ia conseguir fazer essa trilha’, ‘Realizei meu sonho conhecendo esse lugar…’ Elas estão valorizando o agora, se abrindo pra viver experiências novas. E não são escolhas excludentes. Dá pra viver tudo isso, mesmo sendo casada, mãe, avó…

Camila conta que foi mãe jovem, aos 21 anos, e que durante muito tempo priorizou cuidar da filha, do trabalho e da casa. Mas, atualmente, consegue conciliar tudo isso e ainda se colocar como prioridade; fazendo atividades físicas, viajando, correndo, lendo muitos livros, ou seja, cuidando mais de si mesma “Cuidando mais de mim.”

Quem apoia os sonhos femininos?

De acordo com a pesquisa, as mulheres precisam de mais oportunidades e condições de segurança para continuarem sonhando. Para 64% das entrevistadas, é fundamental que as políticas públicas ampliem o acesso ao trabalho, incentivem o empreendedorismo e promovam maior flexibilidade nas atividades laborais para as mulheres.

Como também,  59% defendem a importância de investimentos em educação de qualidade e capacitação profissional, enquanto 52% ressaltam a necessidade de fortalecer a segurança e combater a violência de gênero para facilitar a realização dos sonhos.

As participantes reconhecem que os movimentos sociais e feministas contribuíram para a abertura de novas possibilidades de sonho para as mulheres. Em relação às futuras gerações, desejam que as jovens conquistem carreiras sólidas, autonomia e estabilidade financeira. O estudo destaca que há uma compreensão crescente de que dinheiro, renda e autonomia são chaves que possibilitam a concretização de qualquer sonho.

E quem deseja simultaneamente ambas as coisas?

Perguntado a Fabiana e Camila sobre o vídeo: Assista aqui em que várias mulheres estão reunidas e na legenda aparece: Onde estão as mulheres que não têm marido? – De forma descontraída, são apresentadas várias situações que mostram onde essas mulheres podem estar. Considerando que a pesquisa também aponta que há mulheres que desejam carreira e querem construir família, elas enxergam isso como:

Não existe um caminho certo. Cada mulher escolhe o seu. E há espaço pra tudo: pra quem quer construir uma carreira, pra quem quer formar família, pra quem quer os dois ou nenhum dos dois.CAMILA BELO

Nas trilhas, essa convivência é muito natural. Tem mãe de três ao lado de quem nunca quis casar, e todas estão lá pelo mesmo motivo: viver algo por elas. O importante é que cada mulher se sinta livre para fazer suas escolhas, finaliza Fabiana Senna. 

Por Lais Pereira da Silva | Revisão: Daniela Gentil

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Marcia Dantas

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