Em um julgamento marcado por fortes declarações e tensão no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, chamou o atacante do Atlético-MG, Dudu, de covarde. O jogador, que atualmente defende o clube mineiro, está sendo processado por Leila sob a acusação de misoginia, após publicar mensagens ofensivas contra ela em redes sociais. A sessão ocorreu na manhã desta sexta-feira (18), no Rio de Janeiro.
Leila fez questão de comparecer presencialmente ao julgamento, enquanto o atleta preferiu gravar um vídeo justificando sua ausência. A ausência do jogador gerou críticas diretas por parte da dirigente, que não poupou palavras ao confrontar a postura do atacante.
“Sofreu violência, tem que denunciar, porque esses agressores são covardes. A maior prova estou vivendo aqui. Esse atleta me agrediu, me ofendeu, e cadê ele? Gravou um videozinho, que deve ter lido no TP (teleprompter). Deve ter repetido 500 vezes pra ver se estava mais bonitinho”, ironizou Leila.
“Deveria estar aqui. Vem encarar uma mulher. Mas não, é muito mais confortável ler no TP. Eles são covardes, gostam de agredir no privado, na rede social, onde estão protegidos pela distância. Na hora de olhar no olho, eles não aparecem. Então a gente tem que denunciar e expor esses agressores”, completou.
Leila reforçou a crítica à ausência de Dudu, dizendo que o jogador deveria ter “coragem” para se apresentar pessoalmente e se responsabilizar pelas declarações feitas anteriormente contra ela.
“Ele deveria estar aqui, ser homem e falar na minha frente o que escreveu. Aqui está uma mulher, me expondo. Ouvi críticas machistas, dizendo que era frescura. Nós, mulheres, sofremos diariamente. Temos que dar um basta. Eu falaria para ele o que falei na imprensa e estou falando aqui”, afirmou, emocionada.
Dudu grava vídeo e pede desculpas
Durante o julgamento, o vídeo enviado por Dudu foi exibido para os presentes. No conteúdo, o jogador se identificou pelo nome completo, Eduardo Pereira Rodrigues, pediu desculpas e tentou justificar sua ausência no tribunal.
“Primeiramente queria esclarecer o motivo do meu não comparecimento no tribunal, que eu respeito muito, por motivo de eu estar trabalhando pela minha profissão. E também venho pedir desculpa para todas as mulheres que se sentiram ofendidas pela minha fala, pelo meu texto, que eu escrevi algum tempo atrás. Fica aqui meu pedido de desculpa a todas as mulheres”, declarou.
Dudu ainda destacou que convive com mulheres em sua vida pessoal e que isso aumenta sua preocupação com o respeito às mulheres. “Tenho esposa, tenho filha mulher, então prezo muito o respeito a elas e a todas as mulheres. E gostaria de também pedir desculpa por não comparecimento ao tribunal, que vocês possam compreender esse não comparecimento meu. Um bom dia pra vocês e um grande abraço”, concluiu.
Entenda o caso
O embate público entre Leila Pereira e Dudu começou ainda em 2024, quando o jogador foi anunciado como novo reforço do Cruzeiro. No entanto, pouco depois da confirmação, Dudu voltou atrás na decisão e optou por permanecer no Palmeiras, decisão que gerou críticas públicas da presidente alviverde.
Na época, Leila afirmou que o atleta deveria “cumprir com a palavra” e que a reversão da transferência era uma “quebra de compromisso e de confiança”. O relacionamento entre os dois, já fragilizado, se deteriorou ainda mais no fim do Brasileirão de 2024, quando o contrato entre Dudu e o clube foi encerrado.
Em janeiro de 2025, Leila voltou a mencionar o episódio, afirmando que o jogador “saiu pela porta dos fundos” do Palmeiras. Poucas horas depois, Dudu utilizou suas redes sociais para responder à presidente com frases como “me esquece” e “VTNC”. As declarações foram entendidas por Leila como agressivas, ofensivas e misóginas e motivaram a denúncia formal ao STJD.
“A resposta foi completamente desproporcional e desrespeitosa. Não posso aceitar esse tipo de comportamento, principalmente vindo de um homem que teve anos de história com o clube e sabe da minha trajetória”, afirmou Leila na época da denúncia.
Julgamento simbólico
O caso tem forte peso simbólico, sobretudo para o debate sobre o machismo no futebol. Leila Pereira é atualmente a única mulher a presidir um clube da Série A do Campeonato Brasileiro, sendo alvo recorrente de comentários misóginos, dentro e fora das redes sociais.
Durante sua fala no STJD, a presidente do Palmeiras fez questão de ressaltar o desafio de ser mulher em uma posição de poder no meio esportivo, onde o ambiente é predominantemente masculino.
“Quando uma mulher reage e denuncia, ouvem que é exagero, que é sensível demais. Não é. É resistência. É coragem. E eu não vou me calar diante de nenhum homem que use sua posição ou influência para tentar me calar ou me diminuir”, afirmou.
Além da denúncia no STJD, Leila também avaliou a possibilidade de levar o caso à Justiça comum, sob a ótica da Lei 14.192/2021, que estabelece punições para atos misóginos no esporte.
Repercussão
A fala de Leila ganhou ampla repercussão nas redes sociais e dividiu opiniões. Torcedores do Palmeiras demonstraram apoio à presidente, principalmente mulheres que relataram situações parecidas em outros contextos. Por outro lado, parte da torcida do Atlético-MG saiu em defesa de Dudu, criticando a judicialização do conflito.
Personalidades do futebol também se posicionaram. A jornalista Ana Thaís Matos elogiou a coragem de Leila: “Mulheres no futebol sempre foram descredibilizadas. O que Leila fez hoje é um recado a todos os que ainda acham que podem nos calar. Não podem.”
Já o ex-jogador Neto, em seu programa na televisão, pediu mais equilíbrio: “Acho que os dois erraram, mas resolver isso na Justiça é o caminho para que a gente pare de normalizar a ofensa no futebol. O respeito tem que vir antes de qualquer rivalidade.”
Próximos passos
O STJD ainda deve divulgar, nos próximos dias, o parecer do julgamento e a eventual punição para o atacante Dudu. A decisão pode envolver multa, suspensão ou até advertência formal, dependendo da interpretação da corte em relação à gravidade das declarações.
Independentemente do resultado jurídico, o caso já entra para a história como um episódio marcante na luta por respeito e igualdade de gênero no esporte nacional.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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