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Ração contaminada mata 245 cavalos em 4 estados; Ministério apura falha no controle de insumos

Ministério da Agricultura aponta substância tóxica rara em ração equina da Nutratta; empresa se defende e criadores relatam prejuízos milionários

Uma tragédia sem precedentes atingiu o setor equestre brasileiro. Ao menos 245 cavalos morreram nos últimos dois meses após consumirem uma ração contaminada produzida pela empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda, segundo dados divulgados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) neste domingo (13).

Os óbitos ocorreram em quatro estados: Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas e mobilizaram autoridades federais, criadores, laboratórios e veterinários. A morte repentina e em série de equinos acendeu o alerta em haras e propriedades, principalmente após a constatação da presença de uma substância tóxica chamada monocrotalina, associada a plantas do gênero crotalaria, proibidas em rações animais.

A tragédia também provocou comoção nacional com a morte de animais de alto valor genético, afetando inclusive o mercado de leilões, reprodução e competições. Um dos casos mais emblemáticos envolve o garanhão Quantum de Alcatéia, avaliado em R$ 12 milhões, que não resistiu à intoxicação. O animal era um dos principais representantes da raça Mangalarga Marchador no país.

Uma substância que nunca deveria estar ali

As análises conduzidas pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA), confirmaram a presença de alcalóides pirrolizidínicos, mais precisamente a monocrotalina nas amostras da ração. Essa substância tem efeito tóxico conhecido em humanos e animais, afetando especialmente o fígado e o sistema nervoso.

“Esse é um caso único. Nunca, em toda a história do Ministério, havíamos identificado a presença dessa substância em ração para equinos. É a primeira vez que isso acontece”, afirmou Carlos Goulart, secretário de Defesa Agropecuária do Mapa.

“Mesmo em doses mínimas, essa toxina pode causar danos irreversíveis. A legislação é clara: não pode haver qualquer traço dela em rações”, reforçou.

Segundo a investigação do Ministério, a contaminação ocorreu por uma falha no controle da matéria-prima, que teria vindo misturada com resíduos de plantas da espécie crotalaria, responsáveis pela geração da substância tóxica.

Interdição da fábrica e batalha judicial

Diante da gravidade do caso, o Mapa instaurou processo administrativo, lavrou auto de infração e determinou a suspensão imediata da fabricação e comercialização de rações para equinos produzidas pela Nutratta. Pouco depois, a medida foi ampliada para todas as espécies animais, em caráter preventivo.

Contudo, em decisão liminar, a empresa obteve autorização judicial para retomar parte da produção, desde que não voltada ao setor equino. O Ministério recorreu, apresentando novas evidências que, segundo Goulart, “reforçam o risco sanitário representado pelos produtos”.

A nota oficial do Mapa afirma que as ações de fiscalização continuam intensificadas em todo o país, com foco na segurança da cadeia produtiva e na proteção da saúde animal. A pasta também assegura que a sociedade será mantida informada com total transparência.

Prejuízos milionários e comoção entre criadores

O episódio causou forte impacto emocional e econômico entre os criadores. Além da morte de cavalos de estimação e competição, muitos haras relataram perdas genéticas irreparáveis. Um criador em Atalaia, Alagoas, relatou que 15 animais morreram em menos de duas semanas.

“Foi desesperador. Eles começaram a ter dificuldade para andar, salivar, perder o apetite. Quando levamos ao veterinário, já era tarde. Só depois veio a confirmação da ração”, contou um proprietário que pediu anonimato.

O caso de Quantum de Alcatéia simboliza a dimensão dos prejuízos. Um dos garanhões mais promissores da raça Mangalarga Marchador, o animal apresentava uma produção genética valiosa, com campeonatos e leilões programados.

Defesa da empresa: dor, cautela e promessa de apuração

Diante da repercussão, a Nutratta Nutrição Animal Ltda emitiu uma nota oficial se solidarizando com os criadores, mas defendendo a conduta técnica da empresa. Em comunicado assinado por sua diretoria, a marca afirma que optou por não se manifestar de imediato por cautela e respeito à apuração dos fatos.

“Receber relatos de perdas de animais tão valiosos não apenas do ponto de vista econômico, mas, sobretudo, afetivo nos tocou de forma intensa e pessoal. Sabemos que, para muitos, esses animais são parte da família. Sentimos profundamente a dor de cada um”, declarou.

A empresa assegura que colabora integralmente com as autoridades, reforçou seus controles internos e aguarda os laudos oficiais. Destaca também que a linha de produção voltada à bovinocultura segue operando normalmente, sem qualquer intercorrência clínica registrada.

A Nutratta afirma ainda que sua unidade fabril foi interditada preventivamente e que todas as exigências feitas pelo Ministério estão sendo cumpridas, inclusive com o recolhimento de amostras de matéria-prima e rastreamento da cadeia de suprimentos.

“Seguimos comprometidos em buscar, com total transparência, respostas que possam oferecer ao menos alguma forma de justiça e aprendizado diante de tamanha tragédia”, diz a nota.

MAPA reforça alertas e pede rigor às indústrias do setor

O Ministério reforçou que todas as empresas de alimentação animal devem seguir rigorosamente os protocolos de controle de qualidade, especialmente em relação à seleção de matéria-prima, armazenamento e rastreabilidade.

“Estamos acompanhando de perto. Precisamos garantir que todo o lote contaminado seja recolhido e que nenhum novo caso aconteça”, concluiu o secretário Carlos Goulart.

Desde o recebimento da primeira denúncia em 26 de maio, a pasta afirma ter atuado com rapidez, mobilizando fiscais e laboratórios em diferentes estados. A recomendação é para que criadores verifiquem os lotes comprados e, ao menor sinal de anormalidade clínica, suspendam o uso da ração e notifiquem imediatamente o Mapa.

Possível responsabilização e impactos para o setor

Juristas apontam que, dependendo da conclusão das investigações, a empresa pode ser responsabilizada civil e criminalmente, tanto por danos materiais quanto por danos morais e coletivos.

“Se comprovado que houve negligência ou falha grave nos processos internos, a empresa pode responder por morte de animais, prejuízo a criadores e até risco à saúde pública, caso outras espécies estejam em risco”, explicou um especialista em direito agropecuário.

Por ora, o Ministério mantém o alerta máximo e não descarta novas interdições se surgirem indícios de contaminação em outras marcas ou linhas.

A tragédia expõe uma fragilidade sensível no sistema de fiscalização de alimentos para animais e acende o debate sobre a rastreabilidade e a transparência das cadeias produtivas no Brasil.

Enquanto isso, criadores seguem lidando com o luto, as perdas financeiras e a incerteza sobre a segurança alimentar de seus animais.

Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil

VEJA TAMBÉM: Jumentos em risco: abate para exportação ameaça espécie no Brasil e no mundo

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Marcia Dantas

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