O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, com início previsto para 1º de agosto. A medida, a mais severa já aplicada ao país durante sua gestão, foi revelada por meio de uma carta publicada em sua rede Truth Social, endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A justificativa de Trump mistura razões comerciais e políticas. Segundo o republicano, o Brasil “não tem sido justo” nos acordos com os EUA e estaria se beneficiando de maneira desequilibrada das trocas bilaterais. Mais surpreendente, no entanto, foi o tom político da acusação: Trump afirmou que a decisão também responde à postura do Supremo Tribunal Federal brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado ideológico.
“A liberdade está sob ataque no Brasil. Não ficaremos de braços cruzados enquanto nossos aliados são perseguidos”, escreveu o norte-americano, numa crítica direta à atuação do STF.
Reação brasileira ainda é aguardada
Até o momento, o governo brasileiro não se pronunciou oficialmente, mas fontes do Itamaraty avaliam a medida com “extrema preocupação”. A tarifa de 50% representa um golpe significativo para as exportações brasileiras, especialmente nos setores do agronegócio, mineração e bens industrializados, que compõem a maior parte da pauta comercial com os EUA.
Nos bastidores, diplomatas cogitam acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e buscar apoio internacional para contestar a tarifação. Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda monitora os impactos econômicos e já discute possíveis medidas compensatórias, como linhas emergenciais de crédito e estímulos fiscais a setores afetados.
Escalada protecionista
A decisão faz parte de um pacote mais amplo de medidas protecionistas adotadas por Trump nesta semana, que inclui tarifas entre 20% e 40% sobre produtos de ao menos 20 países. No caso do Brasil, porém, o valor de 50% supera todas as outras sanções, o que evidencia uma motivação também política.
A lista de países já afetados por novas tarifas inclui:
- África do Sul: 30%
- Camboja: 36%
- Mianmar: 40%
- Sérvia: 35%
- Tailândia: 36%, entre outros.
Fontes próximas à Casa Branca afirmam que Trump mira países do BRICS, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, com o objetivo de enfraquecer alianças estratégicas rivais dos EUA.
Pressão sobre a diplomacia brasileira
A tarifa imposta por Trump coloca pressão sobre a política externa brasileira, que tenta manter relações equilibradas com potências tradicionais, sem abrir mão da cooperação com blocos alternativos como o BRICS. Lula, que já teve embates retóricos com Trump no passado, evita confrontos diretos, mas será forçado a reagir diante da gravidade da medida.
“É um desafio enorme para a diplomacia brasileira, que precisa reagir com firmeza sem comprometer o relacionamento com os EUA”, analisa Carla Medeiros, professora de Relações Internacionais.
Além dos danos comerciais, a medida pode ter reflexos políticos internos. A retaliação dos EUA ocorre em um momento de reequilíbrio da economia brasileira e pode alimentar a narrativa bolsonarista sobre perseguição institucional, com possível impacto no debate público.
Próximos passos
Com a tarifa entrando em vigor em menos de um mês, o governo brasileiro terá uma janela diplomática curta para tentar reverter ou ao menos suavizar os impactos da medida. A expectativa é de que Lula se manifeste oficialmente ainda hoje.
No Congresso, parlamentares da oposição já usam o anúncio como munição política. Aliados de Bolsonaro comemoraram a atitude de Trump e reforçaram as críticas ao STF.
Enquanto isso, empresas brasileiras com forte presença nos EUA, especialmente do setor agrícola e industrial, demonstram grande apreensão. A tarifa pode derrubar exportações, reduzir margens de lucro e afetar o emprego em setores inteiros da economia.
Por Alemax Melo e João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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