O atacante Dudu, do Atlético-MG, foi oficialmente punido pela 5ª Comissão Disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) nesta sexta-feira (18), em julgamento realizado no Rio de Janeiro. O jogador foi condenado por misoginia contra Leila Pereira, presidente do Palmeiras, após ser acusado de proferir ofensas discriminatórias de cunho sexista nas redes sociais.
De forma unânime, os auditores do tribunal consideraram Dudu culpado pela infração ao artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que trata de atos discriminatórios relacionados a sexo, raça, cor, origem étnica, idade ou condição de pessoa com deficiência. Como punição, o camisa 92 do Galo recebeu uma suspensão de seis partidas em competições organizadas pela CBF e uma multa de R$ 90 mil.
“Não defendo que toda fala ofensiva seja criminalizada ou sancionada, mas não tenho dúvida de que algumas falas e expressões ultrapassam o limite permitido pela nossa Constituição Federal e pelos tratados dos direitos humanos”, declarou o presidente da sessão, Dr. Paulo Ceo, ao ler o voto condenatório.
Desfalque importante para o Atlético-MG
A punição representa um duro golpe para o técnico Gabriel Milito, que já enfrenta dificuldades no elenco. Dudu deverá desfalcar o time nas partidas contra Palmeiras, Fortaleza, Flamengo e Red Bull Bragantino, todas válidas pelo Campeonato Brasileiro. Além disso, ficará de fora dos dois confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil contra o Flamengo.
Apesar da punição, Dudu poderá atuar normalmente na Copa Sul-Americana, competição que é organizada pela Conmebol e, portanto, não é afetada pela sanção do STJD. Isso significa que ele estará apto para o jogo decisivo contra o Atlético Bucaramanga, na próxima semana.
A defesa do jogador ainda pode recorrer da decisão. Contudo, segundo o que foi decidido durante a sessão, a suspensão passa a valer de forma imediata, até que uma possível revisão altere a pena.
“Deveria estar aqui”, disse Leila Pereira ao confrontar ausência de Dudu
Um dos momentos mais impactantes do julgamento foi a presença da própria Leila Pereira na sessão. A dirigente do Palmeiras, que figura entre as mulheres mais influentes do futebol brasileiro, fez duras críticas ao comportamento do ex-jogador do clube e lamentou sua ausência no tribunal.
“Sofreu violência, tem que denunciar, porque esses agressores são covardes. A maior prova estou vivendo aqui. Esse atleta me agrediu, me ofendeu, e cadê ele? Gravou um videozinho, que deve ter lido no TP. Deve ter repetido 500 vezes para ver se estava mais bonitinho”, ironizou Leila, referindo-se ao vídeo enviado por Dudu como defesa.
“Deveria estar aqui. Vem encarar uma mulher. Mas não, é muito mais confortável ler no TP. Eles são covardes, gostam de agredir no privado, na rede social, que está protegido pela distância. Na hora de olhar no olho, eles não aparecem, então a gente tem que denunciar e expor esses agressores”, concluiu.
A fala foi recebida com atenção pelos membros da comissão, que reforçaram a importância de dar visibilidade a casos de discriminação de gênero no futebol ainda um ambiente majoritariamente masculino e, por vezes, hostil a figuras femininas em posições de liderança.
Entenda o caso: Dudu x Leila Pereira
A tensão entre Dudu e Leila Pereira vem desde meados de 2023, quando o atacante esteve próximo de se transferir para o Cruzeiro. Após o anúncio da negociação, o jogador voltou atrás e desistiu do acordo. Leila, que na época articulou a saída do atleta, declarou publicamente que ele deveria “cumprir sua palavra”.
Em novembro do mesmo ano, Dudu fez postagens exaltando o ex-presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, em claro contraste à gestão de Leila. A relação azedou de vez no fim do Brasileirão de 2024, quando o contrato entre o clube e o jogador foi oficialmente rescindido.
Já em janeiro de 2025, Leila voltou a falar sobre o caso, dizendo que Dudu “saiu pela porta dos fundos” do Palmeiras. Poucas horas depois, o atacante respondeu com frases agressivas nas redes sociais, como “me esquece” e “VTNC”, o que levou a presidente a acionar a Justiça Desportiva, alegando misoginia e desrespeito à sua figura como mulher e dirigente.
O episódio reacendeu o debate sobre a responsabilização de atletas por condutas nas redes sociais, principalmente quando se trata de figuras públicas com grande alcance. A Procuradoria do STJD entendeu que as mensagens de Dudu extrapolaram os limites da liberdade de expressão e configuraram ato discriminatório com base no gênero da vítima.
Reações e próximos passos
Até o momento, nem Dudu nem o Atlético-MG se pronunciaram oficialmente sobre a decisão da 5ª Comissão Disciplinar. Internamente, o clube trabalha com a possibilidade de apresentar recurso à instância superior do STJD, na tentativa de reduzir a suspensão ou até anular a punição.
O caso, contudo, já marca um novo precedente na Justiça Desportiva brasileira ao tratar, de forma direta, um episódio de misoginia relacionado a um dirigente esportivo. A decisão é vista como um passo importante para coibir a violência de gênero no futebol.
Por Alemax Melo | Revisão: Daniela Gentil
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