O Papa Leão XIV, em sua primeira entrevista desde que assumiu o pontificado em julho deste ano, revelou que manterá as políticas inclusivas do Papa Francisco em relação aos fiéis LGBTQIA+ e às mulheres. No entanto, ele deixou claro que as doutrinas fundamentais da Igreja Católica não sofrerão mudanças. Em um diálogo com uma jornalista peruana, o Papa Leão XIV refletiu sobre temas polêmicos e desafiadores, como os abusos sexuais cometidos por membros do clero e as acusações de falsos testemunhos.
Ao longo da conversa, Leão XIV reafirmou a importância de preservar as tradições e ensinamentos da Igreja, ao mesmo tempo em que demonstrou um compromisso em seguir o exemplo de inclusão do Papa Francisco. Esse pontificado tem sido marcado por tentativas de aproximação das questões sociais emergentes, incluindo o respeito e a acolhida da comunidade LGBTQIA+.
A trajetória do Papa Francisco com a população LGBTQIA+
A trajetória de inclusão do Papa Francisco em relação à população LGBTQIA+ começou logo no início de seu pontificado, em 2013, quando ele fez uma famosa declaração que reverberou pelo mundo: “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?” Essa simples frase demonstrou uma mudança de postura significativa na forma como a Igreja Católica se relacionava com a comunidade LGBTQIA+. O pontífice fez questão de enfatizar que o papel da Igreja não era de condenação, mas de acolhimento.
Desde então, o Papa Francisco procurou promover um ambiente mais inclusivo para os fiéis LGBTQIA+, ao mesmo tempo que manteve os princípios doutrinários da Igreja. Durante seu papado, o Papa Francisco insistiu que a Igreja deve respeitar a dignidade de todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Contudo, ele também foi firme em manter a posição tradicional da Igreja de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é aceito, alinhando-se às doutrinas sobre o casamento e a família.
Desafios e contradições
O Papa Francisco foi frequentemente criticado por setores mais conservadores da Igreja por sua abordagem progressista, especialmente em relação às questões de gênero e sexualidade. Durante suas viagens internacionais, como nas visitas aos Estados Unidos e Polônia, ele reiterou sua defesa dos valores familiares tradicionais, mas sempre ressaltando a importância do respeito à dignidade humana. Esse posicionamento, ao mesmo tempo acolhedor e conservador, é visto como um meio-termo complicado para uma Igreja que luta para equilibrar tradição e evolução.
Agora, com a chegada de Papa Leão XIV, uma continuação dessa linha de acolhimento parece ser sua intenção, mas, ao mesmo tempo, ele deixa claro que as doutrinas da Igreja, que ainda não aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção por casais LGBTQIA+, não serão alteradas. “Nós devemos caminhar com o povo, mas sem alterar nossa fé”, disse o Papa Leão XIV. Ele sugere que a Igreja não pode abrir mão dos seus ensinamentos, mas que deve, sim, ser um espaço de acolhimento para todos.
O Papa Leão XIV e os abusos sexuais no clero
Outro ponto abordado por Papa Leão XIV na entrevista foi a questão dos abusos sexuais cometidos por membros do clero. O novo Papa se mostrou firme em suas críticas aos religiosos condenados por abusos sexuais, mas também manifestou sua preocupação com a possibilidade de falsas acusações. “A Igreja deve ser implacável com os culpados, mas também precisa garantir que a verdade prevaleça”, afirmou Leão XIV.
Essa postura sobre os abusos sexuais segue a linha de ação do Papa Francisco, que tem trabalhado ativamente para tratar os escândalos dentro da Igreja com maior transparência e responsabilidade. O Papa Francisco promoveu várias reformas, incluindo a criação de comissões internacionais para investigar os abusos, e convocou uma cúpula histórica no Vaticano em 2019 para discutir a questão de forma aberta. No entanto, as críticas à resposta da Igreja sobre os abusos continuam, com muitos questionando se as ações foram suficientemente rápidas e eficazes para proteger as vítimas e punir os culpados.
O desafio da inclusão sem mudança doutrinária
Com o pontificado de Leão XIV, o futuro da Igreja Católica, em termos de sua relação com a sociedade moderna e as questões sociais, continua a ser um grande desafio. Embora o novo Papa tenha prometido manter as políticas inclusivas de Francisco, ele também deixou claro que não há planos para alterar as doutrinas fundamentais, especialmente em questões como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a aceitação de práticas homossexuais.
Essa postura de continuidade, mas também de limitação, pode gerar desafios à medida que as questões sociais se tornam mais complexas e as expectativas dos fiéis se alteram. A Igreja Católica, ao manter seus princípios tradicionais, enfrenta um dilema entre ser fiel aos seus ensinamentos e se adaptar às novas realidades sociais. Para muitos, isso levanta a questão sobre até onde a Igreja pode ou deve ir em sua busca por um equilíbrio entre tradição e evolução.
O olhar para o futuro
O futuro do papado de Leão XIV será, sem dúvida, moldado pela tensão entre os ensinamentos doutrinários da Igreja e as questões sociais emergentes. Ele, assim como o Papa Francisco, seu antecessor, terá que lidar com os desafios de manter a Igreja relevante em uma sociedade plural e diversificada, enquanto busca preservar os princípios fundamentais da fé católica.
A postura de acolhimento e respeito às minorias continuará a ser um ponto de destaque, mas as fronteiras doutrinárias não parecem prestes a se mover. Como Leão XIV expressou, “A Igreja deve caminhar com o povo, mas sem mudar sua fé”. Resta saber como essa caminhada será conduzida em um mundo que, cada vez mais, exige respostas rápidas e adaptativas da Igreja Católica.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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