No dia 5 de junho de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) oficializou a inclusão da profissão de trancista na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o código 5161-65. O reconhecimento é resultado do Projeto de Lei nº 2831/2024, de autoria da deputada Rogéria Santos (Republicanos-BA), que visa regulamentar o exercício da profissão em todo o território nacional.
A medida formaliza e reconhece a atividade profissional, que é tradicionalmente exercida por mulheres negras, que, por décadas, foi marginalizada e desvalorizada.
A iniciativa resultou de um processo contínuo de diálogo e articulação entre lideranças do setor. A chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Anatalina Lourenço, ressaltou que o ato de trançar representa um momento de cuidado, conversa e afeto. Além disso, também é um espaço de memória e resistência, onde se compartilham histórias, dificuldades e sonhos.
Resistência e legado ao longo da história
As tranças representam uma expressão cultural significativa ao longo da história, especialmente entre os povos africanos e afrodescendentes. Na África, desde 3.500 a.C., as tranças eram usadas para indicar identidade tribal, status social, estado civil e até mesmo religião. Cada estilo de trança carregava uma linguagem visual que comunicava informações importantes dentro das comunidades.
Durante o período da escravidão no Brasil, as tranças eram utilizadas como ferramentas de resistência e sobrevivência: trançadas de forma estratégica, funcionavam como mapas que indicavam rotas de fuga para quilombos e esconderijos. Além disso, escondiam sementes de plantas comestíveis, criando uma rede secreta de sobrevivência para os escravizados.
Regulamentação e reconhecimento do setor
O projeto define atribuições específicas para os trancistas, como a higienização do cabelo e do couro cabeludo, a aplicação de produtos não corrosivos ou tóxicos e a execução de técnicas de trançado e penteado próprias da cultura negra.
Além disso, busca incluir a profissão no Quadro de Atividades e Profissões da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), garantindo direitos trabalhistas e previdenciários específicos para os profissionais. A iniciativa é um passo importante para a valorização da cultura afro-brasileira e para a promoção da inclusão produtiva das trabalhadoras negras, que desempenham um papel fundamental na economia informal e na preservação de saberes ancestrais.
O reconhecimento oficial permite que os profissionais tenham acesso a direitos trabalhistas, previdência social e políticas públicas voltadas ao empreendedorismo, promovendo a inclusão produtiva e o fortalecimento dos saberes ancestrais.
Da resistência à inclusão: O papel das tranças na sociedade brasileira
Hoje, as tranças continuam a ser um símbolo de resistência, identidade e ancestralidade. A medida fortalece a presença dessa arte e mão de obra no mercado da beleza, promovendo a inclusão produtiva e valorizando a cultura negra na história do Brasil.
Por: Lais Pereira da Silva | Revisão: Daniela Gentil
VEJA TAMBÉM: Ficar fora das redes por uma semana melhora autoestima e imagem corporal de mulheres jovens, aponta estudo