Desde a última sexta-feira (26), mais de 100 praças em cidades italianas começam a ser ocupadas por manifestantes em solidariedade à causa palestina. A mobilização, organizada pela Unione Sindacale di Base (USB) em conjunto com diversas associações pró-Palestina – entre elas o Global Movement for Gaza, o Movimento Studenti Palestinesi na Itália, a Udap e os Giovani Palestinesi in Italia – tem caráter permanente e propõe acampamentos diários em locais estratégicos.
De acordo com o comunicado divulgado pelos organizadores, cada cidade participante deverá manter um ponto fixo de mobilização em suas praças centrais. Em Roma, o epicentro da manifestação será a Piazza dei Cinquecento ( Praça quinhentos) em frente à estação Terminal. Os grupos prometem realizar assembleias, debates públicos, exibições de documentários e outras iniciativas todos os dias até o início de outubro.
Preparação para impacto nacional
A ação foi lançada como preparação para uma manifestação nacional marcada para 4 de outubro, quando sindicatos e organizações pró-Palestina afirmam que irão “parar tudo” em todo o país. O governo italiano, preocupado com a escalada, estuda medidas excepcionais, incluindo o uso do Exército nas ruas e o reforço das guardas metropolitanas para conter eventuais distúrbios.
O alerta de segurança se justifica pelo histórico recente. Na última segunda-feira (22), cidades italianas registraram uma onda de protestos, greves e bloqueios contra a ofensiva de Israel em Gaza. Em Roma, mais de 20 mil pessoas marcharam com a bandeira palestina e palavras de ordem por sanções. O transporte coletivo foi afetado e houve vigílias organizadas por associações católicas.
Em Milão, os atos terminaram em confronto, com pedras lançadas contra policiais e uso de gás lacrimogêneo. O saldo foi de mais de 220 policiais feridos na capital lombarda e 164 em Turim, além de manifestantes hospitalizados. Em Bolonha, 10 mil pessoas se reuniram e bloquearam rodovias. Houve ainda manifestações em Florença, Nápoles, Gênova, Bari, Palermo e Livorno, onde portuários interromperam atividades.
Desafios do movimento
Embora o movimento tenha caráter simbólico e reivindicatório, a proposta de ocupações permanentes traz consigo possíveis desafios logísticos e políticos. Questões como infraestrutura, permissões municipais e segurança pública estão no centro das preocupações. Muitas cidades italianas possuem regulações rígidas sobre o uso contínuo de espaços públicos, e eventuais tensões com as autoridades locais não estão descartadas.
Mais do que um gesto de resistência, os organizadores apostam no impacto visual e simbólico da ocupação das praças para manter Gaza em pauta e pressionar a opinião pública e a classe política italiana a se posicionarem de forma mais incisiva sobre a guerra.
Com a aproximação do dia 4 de outubro, o país entra em contagem regressiva: ou as praças se consolidam como trincheiras de resistência permanente, ou enfrentarão barreiras que podem limitar o alcance da mobilização. De todo modo, a Itália já vive um período de tensão crescente, em que as ruas se transformam no palco de um embate político e simbólico que atravessa fronteiras e ecoa em toda a Europa.
Por David Gonçalves, correspondente MD News na Itália | Revisão: Daniela Gentil
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