Dois casos recentes envolvendo brasileiros na Itália colocaram a Justiça do país europeu sob os holofotes: o de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, e o da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Ambos respondem a processos no Brasil e estão na mira de pedidos de extradição, mas os caminhos jurídicos de cada um apresentam diferenças significativas.
No caso de Tagliaferro, ele foi conduzido pela polícia italiana até uma delegacia na região da Calábria na última quarta-feira (1º) para o cumprimento de medidas cautelares de restrição de circulação. Segundo seu advogado, Eduardo Kunsch, a medida está relacionada a um pedido de extradição enviado pelo Ministério das Relações Exteriores em agosto de 2025.
Tagliaferro responde a três processos no Brasil, incluindo acusações de violação de sigilo funcional, coação no curso do processo e obstrução de investigações. Também há contra ele uma denúncia de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Apesar das acusações, não existe um mandado de prisão internacional, o que faz com que sua situação dependa de trâmites diplomáticos e judiciais entre Brasil e Itália.
Já Carla Zambelli enfrenta uma situação mais grave do ponto de vista jurídico internacional. O nome da deputada foi incluído na lista vermelha da Interpol, mas sua localização na Itália e prisão se deram graças à atuação das autoridades italianas com a ajuda do deputado Angelo Bonelli, político da esquerda italiana, que forneceu às autoridades o endereço da parlamentar.
O processo de extradição da parlamentar contou com três audiências, sendo que duas foram de custódia, com pedido negado para que ela respondesse ao processo em liberdade. Ou seja, Zambelli continua presa enquanto o processo de extradição é analisado pela Justiça italiana.
Os dois casos mostram caminhos distintos:
Tagliaferro enfrenta restrições, mas permanece em liberdade vigiada, sem mandado internacional.
Zambelli, por estar na lista vermelha da Interpol e localizada com ajuda do deputado Bonelli, está presa, enquanto a Justiça italiana analisa o pedido de extradição para o Brasil.
Ambos os processos seguem acompanhados de perto por Brasília e podem gerar desdobramentos políticos e jurídicos nos próximos meses.
Carla Zambelli está presa na Itália desde 29 de julho. O pedido de extradição está relacionado à condenação definitiva a 10 anos de prisão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, o STF aplicou à deputada uma nova pena de 5 anos e 3 meses por perseguição armada a um apoiador do presidente Lula na véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
De Brasília a Roma, os enredos democráticos se cruzam: Tagliaferro sob vigilância e Zambelli encarcerada, ambos à espera de decisões que podem redefinir seus destinos políticos e jurídicos.
Por David Gonçalves, correspondente MD News na Itália | Revisão: Daniela Gentil
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