A Itália está prestes a dar um passo que pode mudar a história de milhões de descendentes de italianos ao redor do mundo. Uma proposta em debate no Parlamento, que já entrou em vigor de forma provisória, pretende restringir o direito à cidadania italiana por descendência — e o Brasil, que abriga a maior comunidade ítalo-descendente fora da Itália, pode ser o mais afetado.
Se confirmada, a nova regra permitirá o reconhecimento automático da cidadania apenas para filhos e netos de italianos nascidos no país de origem. Ou seja: bisnetos, tataranetos e gerações mais distantes poderão perder definitivamente o acesso ao tão desejado passaporte europeu — mesmo com documentos que comprovem sua ascendência.
O governo italiano, liderado pela primeira-ministra Giorgia Meloni e com forte apoio do vice-premiê Antonio Tajani, defende a medida como forma de evitar o “uso exagerado” da cidadania por pessoas sem vínculos reais com a Itália. Mas a reação entre brasileiros foi imediata.
Mais de 50 mil pessoas já assinaram uma petição online contra o decreto. Em Roma, manifestantes — muitos deles brasileiros — ocuparam as ruas exigindo a revogação da medida. Parlamentares que representam italianos no exterior, como Fabio Porta, classificaram o texto como injusto e mal redigido.
Outro ponto polêmico: o decreto também exige que filhos de italianos nascidos fora da Itália sejam registrados no consulado antes dos 18 anos. Para especialistas, a regra pode restringir o direito de futuras gerações e até criar obstáculos para quem já iniciou o processo de reconhecimento.
Consulados italianos no Brasil — país com mais de 30 milhões de descendentes — já começaram a suspender temporariamente o recebimento de novos pedidos de cidadania, enquanto aguardam o desfecho da votação, prevista para ocorrer até o fim de maio.
O que está em jogo é mais do que um documento. Para muitos brasileiros, trata-se de preservar uma herança familiar, uma identidade construída entre continentes. Agora, essa ponte histórica corre o risco de ruir.
Por David Gonçalves, correspondente do MD News na Itália