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Jardim Zoológico abate 12 animais saudáveis devido à falta de espaço

Babuínos foram mortos no Tiergarten Nürnberg, na Alemanha, após fracasso em realocação internacional e aumento de conflitos internos

O abate de 12 babuínos saudáveis pelo Jardim Zoológico Tiergarten Nürnberg, na cidade de Nuremberga, na Alemanha, nesta terça-feira (29), reacendeu um debate ético e jurídico sobre práticas de manejo animal em instituições zoológicas da Europa. Segundo a administração do zoológico, a medida foi tomada como “último recurso”, diante da superlotação da colônia de primatas e da impossibilidade de realocação dos animais para outras instituições.

A decisão, que já vinha sendo discutida publicamente desde o início de 2024, foi duramente criticada por organizações de proteção animal e por parte da opinião pública internacional. O zoológico alegou que tentou, sem sucesso, transferir os animais para zoológicos em Paris, na China e na Espanha. Todos informaram falta de espaço ou condições inadequadas para receber novos indivíduos da espécie.

Superpopulação e conflitos internos

Os babuínos abatidos pertenciam à espécie Papio papio, conhecidos como babuínos-da-Guiné, naturais de regiões da África Ocidental. Em 2009, o zoológico de Nuremberga inaugurou um espaço projetado para abrigar até 25 animais, incluindo adultos e filhotes. No entanto, a população cresceu rapidamente, chegando a 43 indivíduos em 2025. Essa superlotação, segundo a equipe técnica, levou a conflitos frequentes, ferimentos recorrentes e instabilidade no grupo.

Tentativas anteriores de controle populacional por meio de contracepção teriam sido abandonadas por apresentarem efeitos colaterais indesejados e baixa eficácia, de acordo com o próprio zoológico. “Não tomamos essa decisão de forma leviana. Ela resultou de uma avaliação de longo prazo, com foco no bem-estar do grupo como um todo”, afirmou o diretor Dag Encke em coletiva de imprensa.

Protestos e operação polêmica

A execução dos animais aconteceu após o zoológico ser temporariamente fechado ao público, sob justificativa de “razões operacionais”. No mesmo dia, sete ativistas invadiram o recinto como forma de protesto, colando-se ao chão e bloqueando entradas. Todos foram detidos pela polícia local.

De acordo com o vice-diretor Jörg Beckmann, os 12 babuínos escolhidos para o abate não incluíam fêmeas grávidas nem espécimes envolvidos em estudos científicos. Os animais foram mortos por disparos e, segundo o zoo, amostras de tecidos foram coletadas para fins de pesquisa. Os corpos foram entregues aos predadores carnívoros do próprio zoológico, prática que, embora polêmica, é adotada em algumas instituições como parte de um ciclo alimentar controlado.

A medida está respaldada pelas diretrizes da EAZA (European Association of Zoos and Aquaria), que prevê, como último recurso, a eutanásia de animais em situações de risco ao bem-estar populacional. No entanto, o caso continua a dividir opiniões mesmo entre profissionais da área.

Reações e repercussão

A organização Pro Wildlife emitiu nota afirmando que “o abate foi resultado direto de políticas de reprodução irresponsáveis. Já a German Animal Welfare Federation classificou a ação como “eticamente indefensável e juridicamente duvidosa”. Ambas as entidades afirmaram que irão formalizar queixas-crime contra a administração do zoológico, alegando possível violação da lei alemã de proteção animal, que só permite eutanásia quando a saúde ou bem-estar do animal está comprometido  o que, segundo elas, não era o caso.

Especialistas em ética animal também se posicionaram. A professora Lisa Mohr, da Universidade Livre de Berlim, declarou à imprensa que “é preciso discutir urgentemente a responsabilidade legal dos zoológicos em conter a reprodução quando não há meios viáveis de manejo futuro”. Já o biólogo Stefan Kreutz, com experiência em programas de conservação, ponderou que “o manejo populacional em cativeiro é complexo, e nem sempre há soluções ideais. Mas eliminar animais saudáveis deve ser, de fato, o último dos últimos recursos.”

Um precedente controverso

Essa não é a primeira vez que um zoológico europeu se vê no centro de uma polêmica de alcance internacional. Em 2014, o Zoológico de Copenhague, na Dinamarca, gerou indignação ao eutanasiar uma girafa saudável de dois anos chamada Marius. O animal foi morto com um tiro e teve seu corpo dissecado publicamente diante de visitantes  inclusive crianças antes de ser oferecido aos leões do zoológico. Na época, a instituição alegou razões genéticas e de controle de consanguinidade.

Casos como esses revelam um paradoxo crescente: enquanto zoológicos modernos se posicionam como centros de educação ambiental, pesquisa e conservação de espécies ameaçadas, muitos ainda enfrentam limitações estruturais, éticas e legais para lidar com populações que crescem além do previsto  especialmente em espécies com alta taxa de reprodução e forte organização social, como os primatas.

Falta de políticas claras

A ausência de uma política unificada europeia sobre controle reprodutivo em cativeiro, aliada à pressão por manter coleções zoológicas atrativas ao público, tem contribuído para que decisões como a de Nuremberga se tornem recorrentes. Em entrevista à Deutsche Welle, a advogada ambiental Hannelore Kuntz afirmou que “a falta de fiscalização efetiva e de planos de contingência para superpopulação em zoológicos representa uma falha sistêmica”.

Segundo ela, muitos zoológicos seguem incentivando reprodução de espécies populares para manter o interesse do público e justificar verbas públicas, mas sem estruturar ações para garantir o bem-estar dos animais a médio e longo prazo.

A crise do modelo tradicional

Para defensores dos direitos animais, o episódio em Nuremberga é mais um reflexo da crise do modelo tradicional de zoológicos, que, apesar de avanços em bem-estar e infraestrutura, ainda carrega uma lógica de exibição que entra em conflito com princípios modernos de conservação e dignidade animal.

“O que vemos aqui é uma consequência direta de tratar animais como objetos substituíveis de acervo”, disse Miriam Weber, porta-voz do coletivo europeu Zoo Ethics Now. Ela defende que zoológicos deixem de incentivar reprodução de espécies não ameaçadas, invistam em santuários de reabilitação e priorizem programas de educação ambiental desvinculados de exibição de animais vivos.

O futuro dos zoológicos em debate

A comoção gerada pelo caso dos babuínos pode acelerar o debate sobre o papel dos zoológicos no século XXI. Propostas de reestruturação estão sendo discutidas em vários países da União Europeia, incluindo medidas como limites legais à reprodução em cativeiro, parcerias com reservas naturais e apoio a santuários virtuais e educação digital.

Enquanto isso, o Tiergarten Nürnberg enfrenta não apenas a reação negativa de parte do público, mas também a possibilidade de processos judiciais. A direção do zoológico reafirma que a decisão foi tomada com base em avaliações técnicas e dentro dos parâmetros legais. “Sabemos que muitos não concordam, mas, para nós, era a única alternativa possível no momento”, concluiu Dag Encke.

Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil

VEJA TAMBÉM: Onça-pintada é registrada no interior do RJ após 50 anos

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Marcia Dantas

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