Em um domingo de mobilização nacional, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tomaram as ruas de ao menos 62 cidades brasileiras em defesa de uma anistia ampla aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e pela destituição do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Os protestos, realizados neste 3 de agosto, mobilizaram todas as regiões do país, com destaque para cidades como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Salvador e Criciúma.
A pauta dos atos reflete a indignação de parte significativa da base bolsonarista com a atual condução do processo judicial que envolve o ex-presidente e centenas de apoiadores. Bolsonaro é réu em uma ação penal no STF que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022. Como medida cautelar, ele está proibido de deixar sua residência nos fins de semana e usa tornozeleira eletrônica, fato que o impediu de comparecer pessoalmente às manifestações, ainda que tenha participado virtualmente de algumas.
Brasília: epicentro político da mobilização
Na capital federal, o protesto aconteceu no Eixão Sul, próximo ao Banco Central. A ausência de trio elétrico foi compensada com carros de som, o que não impediu a mobilização de milhares. Segundo organizadores, 12 mil pessoas compareceram. O local, fechado aos carros aos domingos, se transformou em um espaço de discursos inflamados de parlamentares e figuras públicas ligadas à direita.
A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das primeiras a discursar: “Bolsonaro é inocente. Ele não deveria estar de tornozeleira. Quem deveria estar preso é o Lula”, afirmou. A fala foi seguida pelo Hino Nacional, cantado em coro pelos manifestantes. Também marcaram presença o senador Izalci Lucas (PL-DF), os deputados distritais Thiago Manzoni (PL) e Pastor Daniel de Castro (PP), além do desembargador aposentado Sebastião Coelho, que acusou Moraes de “não ser um juiz, mas um criminoso”.
A deputada Caroline de Toni (PL-SC) declarou que o Congresso deve analisar nos próximos dias propostas para anistiar os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e discutir o impeachment de Moraes.
Copacabana: palco de discursos contra o STF
No Rio de Janeiro, o protesto se concentrou na orla de Copacabana, onde o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) subiu ao trio elétrico. “O que estamos vendo é a perseguição institucionalizada. Alexandre de Moraes é uma vergonha para o Brasil”, afirmou. O governador Cláudio Castro (PL) também discursou: “Bolsonaro é o único líder mundial que mobiliza nações. Queremos ele de volta à Presidência.”
A estação de metrô Cantagalo ficou lotada, com bolsonaristas vestidos de verde e amarelo. Os discursos reforçaram a narrativa de perseguição e a urgência de “resgatar a liberdade”.
Belo Horizonte: apoio internacional como estratégia
Na capital mineira, a manifestação ocorreu na Praça da Liberdade. Mesmo ausente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi frequentemente citado. Nos Estados Unidos desde março, o deputado tem se dedicado à articulação internacional por anistia e à pressão por sanções a Moraes.
O público celebrou a inclusão do ministro do STF na lista de sanções da Lei Magnitsky, aprovada na última semana nos EUA, por supostas violações de direitos humanos, uma vitória simbólica para o bolsonarismo internacionalizado.
A Polícia Militar de Minas Gerais informou que o ato foi pacífico, sem registro de incidentes.
Criciúma: palco da presença de Carlos Bolsonaro
Em Santa Catarina, estado com o maior número de cidades mobilizadas, 26 no total, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) participou do protesto em Criciúma. Ele foi visto ao lado do deputado federal Daniel Freitas (PL-SC), em um gesto que evidencia seu envolvimento na articulação política pelo sul do país.
A escolha do município reforça o foco estratégico no reduto eleitoral bolsonarista da região Sul, que liderou em número de atos neste domingo.
Salvador: terceiro domingo seguido de protestos
Na capital baiana, manifestantes se reuniram novamente no Farol da Barra, com bandeiras do Brasil e apoio de trios elétricos. Parlamentares do PL-BA, como Diego Castro, Leandro de Jesus e Capitão Alden, convocaram os apoiadores pelas redes sociais. Este foi o terceiro domingo consecutivo de protestos em Salvador, o que demonstra a continuidade da mobilização local.
As manifestações na Bahia têm tido um forte tom religioso e nacionalista, com críticas constantes às decisões do STF e à gestão do presidente Lula.
Belém: Michelle Bolsonaro quebra silêncio
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro esteve presente na manifestação realizada em Belém, quebrando uma série de ausências em atos importantes. Sua ida à capital paraense coincidiu com compromissos partidários do PL Mulher em Marabá, indicando uma estratégia de fortalecimento da imagem feminina do bolsonarismo fora do eixo Sul-Sudeste.
A presença de Michelle foi uma das mais comemoradas do dia, diante das tensões internas sobre seu engajamento político nas últimas mobilizações.
São Paulo: palco da força conservadora
A Avenida Paulista, tradicional ponto de manifestações políticas, reuniu milhares de apoiadores a partir das 14h. O ato contou com a organização do pastor Silas Malafaia, dois trios elétricos e presenças ilustres como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que fez um dos discursos mais inflamados do dia.
Em vídeo transmitido ao vivo, Eduardo Bolsonaro agradeceu aos participantes e reforçou a importância da mobilização popular. “Sozinho, ninguém faz nada”, disse o deputado.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) participou do ato, sinalizando sua aproximação com o bolsonarismo às vésperas das eleições presidenciais. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), por sua vez, esteve ausente devido a um procedimento médico.
Silas Malafaia conduziu uma oração ao fim do ato, acompanhado por lideranças religiosas e emocionados apoiadores do ex-presidente.
A força da mobilização bolsonarista no país
Com atos registrados em todas as regiões, a mobilização deste domingo deixou claro que o bolsonarismo segue com musculatura política e capacidade de organização em nível nacional. A pauta da anistia, antes vista como improvável, vem ganhando espaço nas discussões do Congresso Nacional, estimulada pela pressão popular.
Segundo levantamento, Santa Catarina liderou em número de cidades com manifestações (26), seguido pelo Nordeste (12), Sudeste (8), Centro-Oeste (7) e Norte (6).
Apesar da ausência física de Bolsonaro, sua imagem foi onipresente seja em cartazes, discursos ou transmissões ao vivo. A mobilização também marcou uma tentativa de reposicionar a direita em meio ao cerco judicial e à polarização crescente no país.
Por Alemax Melo I Revisão: Daniela Gentil
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