O Partido Liberal, maior legenda da Câmara dos Deputados e base do ex-presidente Jair Bolsonaro, vive um dos momentos mais turbulentos de sua história recente. Desde o fim das eleições de 2022, mas especialmente ao longo de 2024 e 2025, o PL tem sido palco de disputas internas, rupturas públicas e uma série de escândalos que colocam em xeque o controle da direita bolsonarista sobre a sigla.
Nos últimos dias, o confronto direto entre Nikolas Ferreira e Eduardo Bolsonaro ganhou os holofotes. O deputado mineiro, considerado um dos nomes mais populares da nova geração conservadora, trocou farpas com o filho do ex-presidente após discordâncias sobre a condução do partido. Eduardo, por sua vez, reagiu com ironias e acusações, escancarando uma divisão que vai além das redes sociais.
A situação se agravou com o episódio envolvendo a deputada Carla Zambelli, atualmente detida na Itália após fugir da Justiça brasileira. Sua irmã, Isabela Zambelli, publicou um desabafo dizendo ter sentido o completo abandono do PL no momento mais difícil da vida da parlamentar. O silêncio da cúpula do partido e a ausência de manifestações de apoio por parte de aliados históricos alimentaram a percepção de que Zambelli está sendo descartada.
Paralelamente, figuras ligadas ao partido já foram presas. O próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto, chegou a ser detido no início de 2024 em operação da Polícia Federal por posse ilegal de arma e diamantes não declarados. Além dele, outros aliados próximos de Bolsonaro foram presos ou investigados, enfraquecendo o discurso de moralização promovido pela legenda.
Agora, o partido volta ao centro de um escândalo: por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal decidiu tornar réus dois deputados do PL acusados de corrupção no uso de emendas parlamentares. O caso, que envolve desvios de verbas públicas e fraude no orçamento secreto, amplia ainda mais o desgaste do partido e coloca em xeque a integridade de seus quadros mais influentes no Congresso.
No Rio Grande do Sul, o diretório estadual vive uma crise à parte. Disputas internas e dificuldades na articulação eleitoral para 2026 fizeram com que líderes locais classificassem o PL gaúcho como “desorganizado e abandonado”. A crise regional reflete um problema nacional: falta de coordenação e excessiva centralização em torno de figuras emblemáticas do bolsonarismo.
Para complicar ainda mais o cenário, até mesmo aliados que desejam se filiar ao partido têm imposto condições. É o caso do influenciador conhecido como Superman, que exigiu o “abono” de Jair Bolsonaro e Nikolas Ferreira para ingressar na sigla, expondo uma disputa por quem realmente detém o poder e o selo de “legitimidade” dentro da direita brasileira.
Além disso, o deputado Antonio Carlos Rodrigues foi expulso do PL após criticar publicamente o ex-presidente Donald Trump e defender o ministro do STF Alexandre de Moraes, posições que destoaram da maioria da bancada bolsonarista. Rodrigues também se posicionou contra tentativas de cancelar o recesso parlamentar e criticou colegas do partido que classificou como “deputados de internet”, evidenciando a fragmentação interna na sigla.
Diante de tantos conflitos, uma pergunta se impõe: o PL ainda é o partido de Bolsonaro ou virou apenas mais um espaço de guerra por protagonismo político?

Por David Gonçalves | Revisão: Daniela Gentil
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