O Ministério da Educação (MEC) está prestes a promover uma profunda reformulação na forma como os cursos da área da saúde são avaliados no Brasil. A partir do próximo ano, a proposta é tornar mais rigorosa a análise da formação prática dos estudantes, especialmente na medicina, em uma tentativa de garantir maior qualidade no atendimento à população e na capacitação dos profissionais que se formam nas universidades.
Atualmente, os cursos de graduação, sejam de direito, medicina ou engenharia, são avaliados sob os mesmos critérios pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão vinculado ao MEC. Mas, isso está prestes a mudar. Um novo modelo específico para a área da saúde está sendo desenvolvido e deve entrar em consulta pública até o fim deste semestre.
O que muda para os estudantes de medicina?
No caso dos futuros médicos, o foco será redobrado nos atendimentos prestados por alunos em ambientes reais, como postos de saúde, ambulatórios, maternidades e hospitais. A proposta é analisar com mais profundidade o que os estudantes estão, de fato, aprendendo nesses locais e como estão sendo supervisionados pelos professores e preceptores.
“A ideia é garantir que os estudantes não apenas estejam presentes nesses espaços, mas que tenham uma formação prática efetiva e supervisionada”, afirmou uma fonte ligada ao MEC.
Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), a medida é bem-vinda, desde que traga consequências reais para os cursos que não se adaptarem às novas exigências. “Qualquer iniciativa que vise à qualificação dos cursos, mas com consequências àqueles que não se adaptam, são bem-vindas. O que acontece hoje? Os cursos são repreendidos, não se adaptam e continua tudo como está”, destacou Alcindo Cerci Neto, coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM.
Desafios com a especialização de médicos recém-formados
Além da graduação, outro ponto de alerta está na formação pós-universitária. A residência médica, considerada o principal caminho de especialização para médicos recém-formados, tem hoje um déficit preocupante. Embora existam cerca de 70 mil vagas em todo o país, 20 mil permanecem ociosas. O resultado é a inserção no mercado de trabalho de milhares de médicos sem formação especializada.
A Academia Nacional de Medicina estima que 40% dos profissionais em atividade no país não passaram pela residência médica. O cenário expõe fragilidades na formação e no planejamento de recursos humanos na área da saúde, o que pode comprometer diretamente a qualidade do atendimento prestado à população.
Com as mudanças, o MEC espera não apenas melhorar a formação dos estudantes, mas também impulsionar uma revisão estrutural dos cursos superiores na área da saúde, garantindo que teoria e prática caminhem lado a lado. A expectativa é que, com o novo modelo de fiscalização, as instituições sejam responsabilizadas com mais rigor e os alunos saiam da universidade mais capacitados para os desafios da profissão.
Leia também: Mulheres com endometriose terão faltas justificadas em Portugal
Por: Alemax Melo | Revisão: Thaisi Carvalho