Um estudo inédito produzido pelos Correios revelou que a empresa pública teve uma frustração de receita estimada em R$ 2,2 bilhões desde que entrou em vigor a nova tributação sobre importações de até US$ 50. A medida, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após aprovação do Congresso Nacional, ficou conhecida popularmente como a “taxa das blusinhas” e começou a valer em agosto de 2024.
A cobrança do imposto sobre pequenas compras internacionais, antes isentas, afetou diretamente o volume de encomendas processadas pelos Correios, que é a principal operadora logística do país nesse tipo de remessa. A mudança derrubou o número de pacotes vindos do exterior, impactando fortemente a arrecadação da estatal, segundo o relatório interno ao qual o Sensus Notícias teve acesso com exclusividade.
O estudo confirma uma previsão feita pelo próprio presidente dos Correios, Fabiano Silva, que já havia alertado em janeiro deste ano para o impacto financeiro da nova política tributária. À época, o valor de R$ 2,2 bilhões também foi citado em uma nota oficial enviada ao jornal Valor Econômico.
Impacto direto na receita
Com a redução expressiva das encomendas de baixo valor — especialmente de plataformas asiáticas como Shein, AliExpress e Shopee —, a estatal deixou de lucrar com taxas de despacho postal, serviços de logística e armazenagem. O estudo aponta que o número de pacotes importados caiu mais de 45% desde que a taxa começou a ser aplicada, afetando diretamente as operações da empresa.
“O impacto é estrutural. Trata-se de uma mudança na cultura de consumo do brasileiro e na dinâmica do comércio internacional de pequeno porte”, afirma um técnico da estatal, ouvido sob condição de anonimato.
Ganha-ganha para o governo e varejo nacional
Apesar do prejuízo bilionário para os Correios, a nova taxa foi comemorada por setores do varejo brasileiro, que viam nas importações isentas de imposto uma concorrência desleal. Com a equiparação da carga tributária entre produtos nacionais e importados, a expectativa do setor é de aumento nas vendas locais.
A Receita Federal, por sua vez, também viu um incremento na arrecadação. Segundo dados preliminares, a tributação sobre essas compras internacionais já gerou cerca de R$ 700 milhões aos cofres públicos apenas nos primeiros meses de vigência da lei.
Debate continua
A chamada “taxa das blusinhas” ainda é alvo de debates no Congresso e entre consumidores. Organizações de defesa do consumidor alegam que a medida penaliza famílias de baixa renda, que encontravam em sites estrangeiros opções mais baratas de vestuário, eletrônicos e utensílios domésticos.
Já especialistas em comércio internacional argumentam que a medida está alinhada com práticas de outros países e é necessária para proteger a indústria nacional e garantir uma tributação mais justa.
Enquanto isso, os Correios enfrentam o desafio de reorganizar seu modelo de negócios diante da queda abrupta nas importações de pequeno valor. A empresa estuda, inclusive, ampliar parcerias com o setor privado e diversificar suas fontes de receita para mitigar os impactos da nova realidade tributária.
Por: Alemax Melo | Revisão: André Silveira Guéli