O governo federal lançou, nesta quarta-feira (13), um plano de contingência para apoiar empresas brasileiras atingidas pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais, em vigor desde a semana passada. A principal medida é a liberação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões, oficializada por meio de medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Durante a cerimônia no Palácio do Planalto, Lula afirmou que a nova tarifa não tem fundamento comercial e que o Brasil “não merecia isso”. “Todo mundo sabe que a gente não quer brigar com ninguém, que a gente faz concessões, mas a gente não merecia isso”, disse. O presidente ainda mencionou que outros países, inclusive aliados dos EUA, como a Índia, também foram alvo de taxações semelhantes.
“O que leva a isso, eu posso dizer a vocês que não é comercial. Posso dizer para vocês que não tem um fundo comercial nisso. Eu acho que existe por detrás disso uma necessidade muito grande de destruir uma coisa chamada multilateralismo”, acrescentou.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), classificou o tarifaço como uma medida “inadequada”, citando a assimetria nas relações comerciais. “Todos nós sabemos da injustiça que ocorre. O Brasil, dos dez produtos que os Estados Unidos mais exportam para nós, oito a tarifa é 0%, não paga nada de imposto. Não há nenhuma justificativa, medida totalmente inadequada”, afirmou.
O plano de contingência foi elaborado a partir de mais de 100 reuniões de Alckmin com empresários e representantes dos setores mais afetados. A estratégia, que já estava em andamento desde o anúncio da sobretaxa pelo presidente norte-americano, Donald Trump, foi ajustada após cerca de 700 produtos serem isentados, o equivalente a 45% da pauta exportadora brasileira para os EUA, segundo o MDIC.
A cerimônia contou com a presença de ministros e empresários convidados. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou a postura americana como “chantagem” e “injustiça”. “O Brasil e o mundo são testemunhas de que essa situação, que consideramos uma verdadeira chantagem, foi provocada por aqueles que tentaram abolir o Estado democrático de direito e agora respondem por seus crimes perante à lei e à Justiça”, disse.
Setores mais afetados
- Café: Os Estados Unidos são o maior destino do café não torrado brasileiro, comprando 16,7% do total exportado, o que representou US$ 1,9 bilhão em 2024. A estimativa é de perda de R$ 1 bilhão apenas em Minas Gerais.
- Madeira: O setor exportou cerca de US$ 1,6 bilhão ao mercado americano em 2024. Segundo a Abimci, metade da produção nacional depende das compras dos EUA.
- Carnes: Empresas como JBS e Marfrig, representadas pela Abiec, preveem prejuízo de US$ 1 bilhão com a nova tarifa.
- Pescados: A Abipesca aponta que 70% das exportações do setor têm como destino os EUA, com previsão de vendas de US$ 350 milhões ao país neste ano.
- Frutas: De acordo com a Abrafrutas, os Estados Unidos absorveram 7% do total exportado pelo Brasil em 2024.
O governo pretende, com a linha de crédito emergencial, dar fôlego financeiro para que as empresas mantenham empregos e produção, enquanto busca reverter a medida junto às autoridades americanas.
Por João Vitor Mendes | Revisão: Daniela Gentil
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